Sem recuperação nos preços do açúcar, usinas do Brasil voltam a focar em etanol

SÃO PAULO (Reuters) – As usinas de cana do Brasil parecem ter desistido dos planos de impulsionar a produção de açúcar neste ano, voltando amplamente seu foco para o etanol, em uma mudança em relação ao início do ano, de acordo com usineiros e analistas.

À medida que as expectativas de um déficit global de açúcar não conseguiram alavancar os preços, deixando os valores de referência do produto próximos a mínimas de vários anos, as usinas brasileiras retornaram à sua preferência do ano passado, o etanol, que segue os preços da gasolina e também aumenta de valor nas bombas.

A facilidade com que as usinas brasileiras mudam de produção, do adoçante para o combustível, faz delas um fator importante nos mercados do açúcar. O superávit global do produto recuou no ano passado, conforme o Brasil, tradicionalmente o maior produtor mundial, registrou um corte de quase 10 milhões de toneladas na produção do Centro-Sul.

Franciele Rivero, analista da trading açucareira Sopex, espera que o Brasil repita neste ano a alocação de 35 por cento da cana para o açúcar, em linha com a mínima recorde da última temporada.

“No início do ano, alguns analistas esperavam que o mix fosse maior para o açúcar, de 39 ou 40 por cento, mas isso mudou”, disse ela.

Algumas usinas brasileiras, como a Alcoeste, em Fernandópolis (SP), já desfizeram negócios na exportação de açúcar deste ano.

“Eu tinha alguns contratos com uma cláusula de cancelamento, e decidi cancelá-los. As margens são negativas para exercer esses contratos, então eu preferiria não produzir esse açúcar”, disse o usineiro Luís Arakaki. A Alcoeste quase não produziu açúcar no ano passado, com sua unidade de processamento do adoçante permanecendo ociosa.

O Grupo Usina Santa Adélia demitiu 50 trabalhadores em uma fábrica de açúcar ociosa em Sud Menucci (SP).

O grupo, que faz parte da Coopersucar, disse que cumprirá suas obrigações contratuais produzindo açúcar apenas em sua unidade principal, Santa Adélia, em Jaboticabal.

Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo, diretor comercial da usina Alta Mogiana, afirmou que uma vantagem de maior preço para o etanol fará com que as usinas favoreçam o biocombustível na maior parte da safra.

A Alta Mogiana foi uma das várias usinas que investiu em equipamentos de destilação para a nova temporada, aumentando a capacidade de 1,2 milhão de litros por dia para 1,4 milhão de litros diários.

Plínio Nastari, analista chefe da consultoria Datagro, disse que os limites na capacidade do etanol ainda podem sustentar a parcela de açúcar em uma grande colheita de cana.

Se esta temporada tiver produção de mais de 580 milhões de toneladas de cana, como Nastari prevê, talvez as usinas possam converter menos de 65 por cento disso em etanol, transformando o restante em açúcar. A safra da última temporada foi de 573 milhões de toneladas.

 

Mercado global de açúcar deve ter déficit de 1,7 mi t em 2019/20, diz F.O. Licht

SÃO PAULO (Reuters) – O balanço global de oferta de açúcar deverá registrar um déficit de 1,7 milhão de toneladas na temporada 2019/20, que vai de outubro a setembro, ante um superávit de 400 mil toneladas em 2018/19, informou nesta quarta-feira a consultoria F.O. Licht.

A consultoria afirmou que os preços do açúcar, que rondam mínimas de 10 anos, levarão agricultores de locais como a Tailândia a migrar para outras culturas na nova temporada. Ela também estimou que a produção brasileira do adoçante deve seguir baixa, com usinas favorecendo a produção de etanol, cujo retorno financeiro tem sido melhor.

A empresa europeia de análises estima que a produção mundial de açúcar em 2019/20 cairá em 1,2 milhão de toneladas, para 185,1 milhões de toneladas.

“Preços baixos e secas provavelmente reduzirão a produção na Índia e Tailândia”, disse Stefan Uhlenbrock, analista sênior de commodities da Licht, durante apresentação em uma conferência do setor em São Paulo.

“A produção de açúcar no centro-sul do Brasil crescerá apenas modestamente, depois de ter colapsado em 2018/19”, afirmou Uhlenbrock, em referência à temporada passada, quando as usinas cortaram a produção em quase 10 milhões de toneladas.

A Licht espera que a produção açucareira da Tailândia caia para 12,7 milhões de toneladas, ante 14,6 milhões de toneladas anteriormente. A consultoria também vê a produção da Índia em 29,4 milhões de toneladas em 2019/20, contra um recorde prévio de 33 milhões de toneladas.

Uhlenbrock não vê uma recuperação nos preços do açúcar em curto prazo, dizendo que os grandes estoques na Índia tendem a limitar qualquer movimento de alta.

A consultoria afirmou que o centro-sul do Brasil deve alocar, na nova temporada, apenas 37 por cento da cana para a produção de açúcar, ante uma mínima recorde de 35 por cento na última safra, conforme o etanol segue mais lucrativo.

“Os preços terão de ultrapassar 13 centavos de dólar por libra-peso em Nova York para que as usinas do Brasil produzam mais açúcar”, disse Uhlenbrock.

Nesta quarta-feira, os contratos futuros do açúcar bruto em Nova York recuaram 2,5 por cento, para 11,65 centavos de dólar por libra-peso.

 

Fonte: Reuters

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