Açúcar: Mercado rompe, finalmente. Mas do lado que menos se esperava (Archer)

por Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting

 

Alguns leitores “reclamaram”, com razão, na semana passada, da falta de inspiração deste escriba nos últimos comentários semanais. Estava mesmo muito difícil escrever sobre um mercado que persistia em negociar num intervalo tedioso de preços por intermináveis sete semanas consecutivas. Observamos que ele (o mercado) estava à espera de uma ruptura. E ela acabou vindo no início da semana, de maneira surpreendente.

Diz o Manual do Trading que quando um grande volume de uma commodity é entregue na bolsa por ocasião do vencimento de um contrato futuro, o mercado entende isso como um sinal baixista, pois se um grande volume foi entregue na bolsa isso significa que não havia melhor comprador no mercado e, portanto, a bolsa era o último recurso que o vendedor tinha para se desfazer do seu produto.

O oposto deve ser verdadeiro. Ou seja, quando um volume pequeno de uma commodity é entregue contra a expiração de um contrato futuro, isso então é um sinal altista, certo? Não, é baixista também porque não há demanda. Parece piada, mas não é. Independentemente das notícias, dos fundamentos ou do comportamento do mercado, parece que qualquer movimento será considerado baixista a partir de agora. E não se fala mais nisso.

As bruxas do açúcar estão soltas e um simples espirro no mercado transforma-se imediatamente em pneumonia dupla. E não tem antibiótico que cure essa doença. O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a semana em acentuada baixa, finalmente quebrando o intervalo de preços de 12 e 13 centavos de dólar por libra-peso, dentro do qual o mercado estivera por sete semanas. O fechamento de sexta-feira, com o julho/2019 negociando a 11.98 centavos de dólar por libra-peso aumentou ainda mais a preocupação das usinas que rolaram suas posições não fixadas contra maio para o vencimento julho na esperança de dias melhores. Essa dúvida coloca o pânico no centro da mesa de decisões, novamente. E o mercado pode sofrer mais.

A entrega de maio pode ter tido influência? Pode ter ajudado aos fundos a aumentarem suas posições confortavelmente vendidas acima do mercado. E pode ter acionado vendas stops ou mesmo operações estruturadas com derivativos que possuíam níveis de desaparecimento (Knock-outs).

Um pouco de história sobre entregas em maio. Em 1997, portanto há exatos 22 anos, a Copersucar fazia sua primeira entrega de açúcar físico na bolsa de NY. Foi a primeira vez que um produtor brasileiro tinha essa “ousadia”. Outros produtores brasileiros já haviam entregue açúcar na bolsa, é verdade, mas por meio das tradings. Do outro lado do balcão, o recebedor (uma trading americana) tinha plena convicção de que o açúcar que receberia por meio do contrato de NY viria da Tailândia e já preparara toda a sua logística para receber o açúcar tailandês e então atender a demanda de açúcar naquele continente. À época comentava-se que o açúcar tailandês que a multinacional americana ia receber destinava-se à Rússia. Findado o pregão de 30 de abril, como manda o contrato, a bolsa publicava o entregador e porto de origem e o mercado recebera a notícia boquiaberto: um produtor brasileiro entregando mais de 5,200 contratos na bolsa, um volume alto na época em que a posição em aberto girava em 180,000 contratos. Proporcionalmente ao volume, é como se hoje a entrega fosse de 26,000 contratos.

Fonte: Archer Consulting

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