Durante o painel “Soluções para a soja: sustentabilidade em tempos de seca”, realizado em 21 de maio, durante o Showtec 2025, a Embrapa Agropecuária Oeste apresentou estratégias eficazes para enfrentar os efeitos da estiagem sobre a cultura da soja e para fortalecer a sustentabilidade dos sistemas de produção no Centro-Oeste. A principal proposta envolve o uso de tecnologias como o consórcio milho safrinha com braquiária e o manejo físico do solo para ampliar a capacidade de infiltração e retenção de água.
O analista Gessí Ceccon, da Embrapa, destacou que o consórcio entre milho e braquiária tem mais de duas décadas de validação técnica e se mostra altamente eficiente na construção de um perfil de solo mais profundo e estruturado. Segundo ele, essa formação de raízes múltiplas e a cobertura do solo promovem maior infiltração de água, reduzem perdas por evaporação e proporcionam ganhos diretos à cultura seguinte, especialmente a soja, com incrementos médios de produtividade. “A soja em sucessão ao consórcio apresenta aumento de rendimento que pode equivaler a até dois hectares adicionais por ano”, afirmou.
Além de favorecer a retenção hídrica em todas as camadas do solo — diferentemente do cultivo isolado de milho, que atua mais nas camadas profundas — o consórcio contribui para a captura e fixação de carbono, aumentando a qualidade biológica e a fertilidade do solo. Ceccon alertou para a importância do manejo correto da braquiária: o excesso de biomassa pode comprometer o desempenho do milho ou dificultar a semeadura da soja, e o uso para pastejo exige cuidados técnicos adicionais. Ele também apresentou resultados positivos do uso consorciado com crotalária para áreas onde o milho não é cultivado no outono.
Em seguida, o pesquisador Júlio Cesar Salton ressaltou a importância da estrutura física do solo para ampliar a resiliência das plantas durante períodos de veranico — estiagens curtas e intensas — que têm se tornado mais frequentes em regiões produtoras como Mato Grosso do Sul. Com base em uma série histórica de mais de 40 anos em Dourados (MS), Salton demonstrou que práticas conservacionistas como o Sistema Plantio Direto (SPD) e a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) aumentam significativamente a capacidade do solo em armazenar e distribuir água.
“Solos com estrutura bem formada, porosidade adequada e agregados estáveis favorecem a infiltração da água da chuva, reduzem a perda por escorrimento superficial e mantêm a umidade por mais tempo disponível às plantas”, explicou. Para avaliação rápida e acessível das condições físicas do solo, Salton recomendou o uso do Diagnóstico Rápido de Estrutura do Solo (DRES), metodologia já validada em diversas regiões.
A comparação de dados de campo reforça os benefícios das práticas conservacionistas:
Retenção e infiltração de água em diferentes sistemas
Sistema de cultivo | Taxa de infiltração (Naviraí, MS) | Perda de água em Dourados (2024–2025) |
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Plantio Direto (SPD) | 116 mm/hora | 17% de perda (528 mm retidos de 642,5 mm) |
Plantio Convencional | 49 mm/hora | 52% de perda (333,1 mm retidos) |
Integração Lavoura-Pecuária | Não informado | Apenas 5% de perda (606 mm retidos) |
Salton também reforçou o uso do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), ferramenta estratégica que indica as janelas ideais de plantio com base em tipo de solo, clima e ciclo das cultivares. Segundo ele, seguir o ZARC reduz não apenas os riscos de quebra de safra, mas também facilita o acesso a seguros agrícolas e programas oficiais.
O painel contou ainda com as contribuições do pesquisador João Paulo Oliveira Ribeiro, da Fundação MS, que abordou o posicionamento de cultivares de soja em cenários de seca, e do professor Rafael Otto, da Esalq/USP, que apresentou estratégias de manejo nutricional para superação de estresses hídricos. O debate final foi conduzido por Carlos Eduardo Barbosa, gerente técnico da Estância Rosa Branca, de Rio Brilhante (MS), reunindo os quatro palestrantes para responder às perguntas do público presente.
Durante o Showtec 2025, a Embrapa participa como uma das principais apoiadoras institucionais da feira e leva ao público tecnologias voltadas à sustentabilidade e à adaptação climática. Estão em destaque o consórcio milho-braquiária, o software Guia Clima (em versões web e aplicativo), o sorgo granífero para etanol, sistemas integrados com leguminosas e gramíneas, além dos modelos produtivos “Antecipasto” e “Diamantino”.
Quatro dessas tecnologias — consórcio milho safrinha com braquiária, Guia Clima, Antecipasto e Diamantino — também compõem a Jornada pelo Clima, iniciativa liderada pela Embrapa para promover práticas de agricultura de baixo carbono e resiliência climática. Esses ativos estarão presentes na COP30, que será realizada em novembro de 2025, em Belém (PA), onde o Brasil sediará a conferência da ONU sobre mudanças climáticas.
A Jornada busca integrar ciência, inovação e política pública em torno de soluções adaptadas aos diferentes biomas do país, com foco em produção sustentável, inclusão produtiva e neutralidade de carbono.
Crédito imagem: Sílvia Zoche Borges/Embrapa
Redação Jornal Campo Aberto com informações da Embrapa Agropecuária Oeste