Claro, ficarão as cicatrizes. Mas o Brasil, além de reverter, ainda pode sair ganhando com o embargo incidente sofre a carne de frango. Porque – é impossível negar – o mundo se encontra extremamente dependente do produto brasileiro.
Fala-se que 40% do mercado internacional é abastecido por carne de frango do Brasil. Mas essa dependência pode ser ainda maior e ficar próxima dos 45%. Basta observar as tendências apontadas pelo USDA para as importações de carne de frango em 2025 (11,360 milhões de toneladas) e cotejá-las com o volume exportado pelo Brasil no 1º quadrimestre do ano, ou seja, antes do caso interno de IAAP (pouco mais de 1,730 milhão de toneladas).
Tais volumes correspondem a importações mundiais mensais em torno de 950 mil toneladas e exportações brasileiras mensais superiores a 430 mil toneladas. Quer dizer: a participação brasileira ultrapassa os 45%.
Obviamente, em um primeiro momento, quando a maior parte dos importadores refuta o produto por conta da IAAP, formam-se imensos excedentes no mercado internacional e, com eles, ocorre natural queda de preços – fato confirmado pela FAO.
Simultaneamente, porém, criam-se enormes déficits no abastecimento interno dos países importadores e, por decorrência, elevação nos preços e altas no custo de vida. É o que vem sendo observado no momento (com queixas de importadores e consumidores) no México, na Coreia do Sul, na África do Sul e em outros países. Na África do Sul, a jornalista Marizka Coetzer escreveu que a “proibição de importação de aves do Brasil aumenta insegurança alimentar” naquele país.
Simplificando, quando as portas forem reabertas – o que, eventualmente, pode começar ainda nesta semana – a demanda inicial será superior à normal. Deve ser suprida pelos estoques ainda existentes no mercado internacional, mas apenas inicialmente. Porque, com a queda das exportações brasileiras, a disponibilidade externa também foi reduzida.
Quer dizer: a tendência é recorrer-se muito mais à produção interna brasileira. Que, entretanto, não será a mesma registrada antes da ocorrência de IAAP. Primeiro, porque o caso levou a um grande descarte – inclusive preventivo – não só de matrizes (produção vindoura de pintos e frangos), mas também de ovos férteis (produção imediata de pintos de corte).
Segundo (e principalmente) porque – frente ao fechamento do mercado externo e à queda interna de preços – inúmeras empresas cortaram a produção e o alojamento de pintos de corte. E isso começa a se refletir no mercado do frango antes da virada do semestre. Ou seja: a oferta vindoura será naturalmente menor e deve demandar algum tempo até recuperar-se, proporcionando espaço para a recuperação de preços hoje perdidos.
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Um outro fator que não pode ser ignorado neste instante é o que diz respeito aos protocolos firmados pelo Brasil com os países importadores.
Embora gestões nesse sentido já viessem sendo desenvolvidas, a eclosão do caso de IAAP na avicultura comercial levou o Brasil a buscar, ao extremo, a regionalização para registros do gênero. Ou seja: surgindo novas ocorrências, os embargos à exportação ficarão restritos à região do foco ou, no máximo, ao estado afetado.
As demonstrações dos cuidados de biosseguridade apresentadas pelos poderes público e privado deveriam ser mais do que suficientes para contar com o apoio dos importadores. Mas – sabe-se – há sempre um fator (nem sempre de ordem sanitária, na maioria das vezes econômica ou até política) a restringir acordos do gênero.
Com as lacunas enfrentadas no abastecimento interno, os importadores ainda reticentes começam a aderir à proposta de regionalização. E este é mais um ganho futuro, pois, em qualquer nova emergência, a maior parte das exportações estará preservada.
Fonte: AviSite