SÃO PAULO (Reuters) – Uma medida do risco-Brasil voltava a se aproximar nesta quinta-feira de uma mínima em mais de nove anos, numa sessão calma nos mercados financeiros globais diante da leitura de desescalada na crise entre Estados Unidos e Irã.
O Credit Default Swap (CDS) de cinco anos caía a 97,04 pontos-base nesta tarde, ante 97,34 pontos-base da véspera.
É a segunda leitura mais baixa desde novembro de 2010. A menor ocorreu em 17 de dezembro do ano passado (96,8 pontos-base).
Em 8 de novembro de 2010, o CDS fechou a 96,59 pontos-base.
No acumulado de 2020, essa medida de risco cai 2,07 pontos-base (ou 2,1%), depois de ter caído quase 52% em 2019, ajudado pelo otimismo com a agenda de reformas no Brasil e pela melhora no sentimento global depois de EUA e China alcançarem a fase 1 de um acordo comercial.
O CDS se mantinha em baixa no começo de 2020 a despeito da queda do Ibovespa e da alta do dólar, que têm refletido episódios de instabilidade nos mercados internacionais após aumento inicial de tensões entre EUA e Irã.
O CDS é um derivativo negociado nos mercados de balcão utilizado como hedge para posições em ativos financeiros e também para investimento. Trata-se de um contrato entre duas partes –geralmente entre investidores institucionais e dealers– e oferece uma medida de risco para dívida corporativa ou soberana.
O prêmio de risco de outros países emergentes também caía neste ano. O do México recuava 2,9%, o da Turquia perdia 0,4%, enquanto o da África do Sul tinha queda de 2,7%.
Pagamento de bônus de Buenos Aires é primeiro grande teste para negociação de dívida argentina
BUENOS AIRES/LONDRES (Reuters) – A negociação da dívida argentina enfrentará seu primeiro grande teste este mês com um vencimento de 277 milhões de dólares de um bônus da província de Buenos Aires, visto como um termômetro de como o novo governo da nação endividada vai lidar com seus credores.
Os pagamentos de juros e amortização do título vencem em 26 de janeiro, com o governo provinciano já buscando conversações com os detentores da dívida para um “alívio financeiro temporário”.
A Argentina, que entrou em uma espiral de crise de dívida no ano passado e vive uma recessão, enfrenta negociações mais amplas de reestruturação de 100 bilhões de dólares em dívidas, incluindo um grande empréstimo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A crise econômica que fermentava desde 2018 levou à saída do presidente conservador Maurício Macri, derrotado nas eleições de outubro pelo rival de centro-esquerda Alberto Fernández, uma mudança que preocupou alguns investidores.
Fernández e seu ministro da Economia Martin Guzmán tem, no entanto, se movimentado para acalmar investidores, contribuindo para impulsionar os preços dos títulos. Investidores já se chamuscaram feito na Argentina no passado, notadamente durante uma dolorosa reestruturação em 2005.
A província de Buenos Aires, de longe a maior da Argentina, disse na terça-feira que estava buscando avaliações dos detentores do título de 10,875% que vence em 2021, uma vez que sua situação financeira foi “severamente afetada” pela recessão econômica.
“Esse chamado é feito no arcabouço das políticas de dívida que os governos nacional e provinciano estão implementando e buscam alívio financeiro imediato para os pagamentos das obrigações de curto prazo”, afirmou.
A iniciativa derrubou os preços dos bônus na quarta e na quinta-feira, depois que o papel subiu fortemente nos último meses.
Um gestor de fundo com conhecimento do assunto disse que três subcomitês de crédito foram criados para lidar com as negociações de dívida, divididos entre dívida soberana, dívida da província de Buenos Aires e dívida das demais províncias.
Segundo o gestor, a dívida de Buenos Aires está no topo da lista e seria um “teste sobre como as coisas caminharão”. Ele acrescentou que as conversações estão no momento amigáveis e construtivas e que a reestruturação poderia ser consolidada ao longo dos próximos meses.
“A dívida da província de Buenos Aires é maior do que a soma de todas as demais províncias, é absolutamente enorme, então essa é a mais interessante”, afirmou.
O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, afirmou anteriormente que a província quer cumprir suas obrigações de dívida, mas que atualmente não está em condições de fazer isso. A província anunciou uma consulta com os detentores dos bônus em dezembro.
Parlamentares britânicos aprovam acordo de saída da UE e viram página na crise do Brexit
- Manifestantes anti-Brexit protestam em frente a Downing Street, em Londres 08/01/2020 REUTERS/Henry Nicholls
LONDRES (Reuters) – Parlamentares britânicos aprovaram nesta quinta-feira uma lei que permite ao Reino Unido deixar a União Europeia em 31 de janeiro com um acordo de saída, encerrando mais de três anos de tumulto sobre os termos da separação do país do restante do bloco.
A Câmara aprovou por 330 votos a 231 o projeto que implementa o acordo de saída fechado com o bloco europeu no ano passado.
A votação permite que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, vire a página na mais profunda crise política britânica em décadas, colocando fim aos temores de uma saída imediata e desordenada que colocou uma sombra sobre as perspectivas econômicas e incentivou divisões sobre o referendo de 2016 que levou à decisão de deixar o bloco.
“É hora de fazer o Brexit. Esse projeto faz isso”, disse o ministro do Brexit, Stephen Barclay, a parlamentares, ao encerrar horas de debates no Parlamento.
O projeto vai agora para a câmara alta do Parlamento e deve se transformar em lei nas próximas semanas, dando tempo suficiente para permitir que o Reino Unido deixe a UE no final do mês com um acordo que minimize a ruptura econômica.
Os mercados financeiros passaram os últimos anos atordoados com as reviravoltas do drama britânico do Brexit, com suas negociações cáusticas em Bruxelas, votações apertadas no Parlamento e derrotas pesadas de governos instáveis.
Mas depois que Johnson convocou uma eleição antecipada no ano passado e conseguiu uma maioria ampla prometendo concretizar o Brexit no final de janeiro, a incerteza sobre quando e como o Reino Unido sairá da UE diminuiu em grande parte.
O foco se voltou para as conversas iminentes sobre os arranjos de longo prazo com a UE que começarão quando um período de transição –durante o qual o Reino Unido continua sujeito às regras da UE– terminar em 31 de dezembro.
Johnson insiste que o acordo de livre comércio que ele deseja pode ser negociado a tempo, mas suas contrapartes da UE estão menos convencidas sobre isso.
Na quarta-feira, o premiê se encontrou com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Londres horas antes de ela fazer um discurso no qual disse que será “basicamente impossível” acertar tudo até o final do ano.
Os oponentes de Johnson, muitos dos quais argumentaram na tentativa de deter o Brexit ou dar mais uma votação ao público, dizem que sua abordagem cria o risco de se repetir no final de 2020 a falta de acordo já vista antes.
Mas Von der Leyen indicou que, mesmo que um acordo completo não possa ser negociado a tempo, as partes mais importantes e potencialmente desestabilizadoras podem ser priorizadas.
Fonte: Reuters