Por Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) – A trading global de commodities Louis Dreyfus Company está preparada para uma repetição de um atípico forte fluxo de exportação de soja do Brasil na segunda metade do ano, desta vez com a Argentina também aproveitando a oportunidade, em meio à continuação da disputa comercial entre os Estados Unidos e a China, disse à Reuters o principal executivo da empresa no país.
Dreyfus, que forma com ADM, Bunge e Cargill o grupo ABCD das maiores tradings globais de commodities, foi aquela que mais se beneficiou do fluxo anormal no ano passado quando chineses deixaram de comprar a soja norte-americana e focaram em peso no produto brasileiro.
Normalmente, o Brasil exporta mais soja na primeira metade do ano, com os Estados Unidos dominando os negócios na segunda metade, devido aos períodos distintos das colheitas nos dois hemisférios.
“Caso a guerra comercial continue, deve acontecer uma coisa parecida este ano. A soja dos EUA ficará menos competitiva, então o Brasil deverá sim exportar volume maior, provavelmente mais do que a gente esperava e projetava”, disse à Reuters Murilo Parada, presidente-executivo da Dreyfus no Brasil.
Para ele, a Argentina, que no ano passado não pôde se aproveitar da oportunidade da guerra comercial porque uma seca afetou severamente sua produção, neste ano deverá se beneficiar igualmente.
Segundo uma compilação de dados de movimentação nos portos feita pela Reuters, a Dreyfus foi a que mais elevou os volumes de exportação de soja no Brasil no ano passado, com ganhos de 28 por cento.
Parada disse que o cenário continua imprevisível, principalmente porque a guerra comercial EUA-China adquiriu um viés não somente técnico. “No fundo, a guerra comercial é uma questão política. O que está por trás é componente político muito grande, por isso é difícil saber o que vai acontecer.”
Mas ele afirmou que a empresa está preparada para reagir rapidamente, ajustando os fluxos de embarques, principalmente após os grandes investimentos feitos no Brasil nos últimos anos que elevaram a capacidade da empresa de operar no chamado Arco Norte, onde estão novas rotas de exportação de grãos.
A empresa investiu quase 1 bilhão de reais em armazenagem e logística no Norte do Brasil. Ela agora opera 64 barcaças e possui uma estação de transbordo no Rio Tapajós. Também tem expandido a capacidade no porto de Itaqui, no Maranhão, em uma joint venture com as tradings Amaggi e ZEN-NOH.
DEMANDA CRESCENTE
Parada, um engenheiro agrônomo formado na Esalq/USP que assumiu as operações brasileiras da Dreyfus em 2017 após um período de trabalho pela empresa na China, diz que independentemente da questão comercial a Dreyfus vê um cenário positivo para o Brasil no longo prazo.
A empresa já concentra no Brasil um terço de seus ativos globais.
“Quando a gente olha pro futuro, acreditamos que a demanda por alimentos vai continuar crescendo no mundo. O grosso desse crescimento não vai ser no Brasil, vai ser na Ásia, mas pra atender essa demanda crescente, essa produção será fundamentalmente brasileira, então o país é ‘core’ pra a empresa”, afirma.
“Essa é uma visão que a empresa já tinha há algumas décadas, ela foi muito verdade nos últimos 10 anos, e é verdade quando a gente olha o plano da empresa para o futuro”, acrescentou.
Questionado sobre algumas críticas de grupos ambientalistas sobre o potencial de maior produção agrícola no Brasil causar aumento do desmatamento, o executivo afirmou que existem áreas agricultáveis suficientes no país para elevar a produção sem que seja necessário avançar sobre florestas.
“Seria possível quase triplicar a área de agricultura sem tocar em florestas”, afirmou, referindo-se à possibilidade de conversão de áreas de pastagens degradadas em áreas agricultáveis.
Parada diz que a trading mantém um código de conduta rígido com seus agricultores parceiros, exigindo que respeitem integralmente a legislação local tanto na questão ambiental como social.
Fonte: Reuters