SÃO PAULO (Reuters) – O Brasil, segundo exportador global de milho, exportará um volume recorde de 38 milhões de toneladas do cereal em 2019, com o produto nacional mais competitivo que o dos Estados Unidos, em um ano em que os brasileiros estão colhendo uma safra gigantesca e os norte-americanos enfrentam atrasos históricos no plantio, avaliou nesta segunda-feira a Agroconsult.
A consultoria, que trabalhava com expectativa de exportação de 31 milhões de toneladas em março, antes dos problemas climáticos nos EUA, revisou fortemente seus números para os embarques do Brasil, com o país ganhando mercados dos norte-americanos.
No ano passado, quando o Brasil sofreu uma quebra de safra, a exportação brasileira atingiu apenas 24 milhões de toneladas, enquanto o recorde anual até o momento do país gira em torno de 31 milhões de toneladas, em 2017, segundo dados do governo.
“O milho americano está caro, temos expectativa de recuperar alguns mercados que perdemos no ano passado, estamos bastante competitivos”, afirmou o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, acrescentando que o Brasil teria oferta para exportar mais, em caso de os problemas norte-americanos se agravarem.
Em uma safra normal, os EUA, maiores produtores e exportadores de milho, colheriam cerca de 380 milhões de toneladas, mas a safra, até agora, atingiria 328 milhões de toneladas, “com viés de baixa”, disse Pessôa a jornalistas.
Uma vez que o plantio e o desenvolvimento do milho dos EUA estão historicamente atrasados, ainda não é possível saber o tamanho exato dos problemas norte-americanos. Quando plantado fora da janela ideal, o cereal do país da América do Norte fica mais sujeito a seca ou geadas em períodos críticos.
As fortes chuvas que causaram problemas no plantio também geraram dificuldades para escoar o milho por hidrovias nos EUA, levando produtores norte-americanos de etanol, situados mais perto da costa, a realizarem atípicas importações de milho brasileiro e argentino.
Líderes em milho, os EUA ainda contam com bons estoques atualmente, disse Pessôa, mas a questão logística permitiu embarques de milho sul-americano ao maior produtor global. “As exportações (aos EUA) foram feitas mais em decorrência de questões logísticas do que disponibilidade”, destacou o especialista.
A Reuters reportou mais cedo neste mês, com base em fontes com conhecimento do assunto, que o Brasil estava exportando milho para os EUA, mas para a gigante de carne suína Smithfield Foods <nE6N22P03C>.
A consultoria está trabalhando com um número acima do estimado pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), que tem previsão de 31 milhões a 32 milhões de toneladas para as exportações de milho do Brasil, ante projeção de 30 milhões de toneladas em maio.
“Não vemos mudança tão grande no mercado, acredito que a Agroconsult está levando em consideração uma quebra consolidada da safra dos EUA, de uma magnitude que possibilite ao Brasil avançar a alguns mercados”, disse o assistente executivo da Anec, Lucas Brito.
PRODUÇÃO E CONSUMO
Ao comentar dados colhidos durante a expedição técnica Rally da Safra, o sócio-diretor da Agroconsult reiterou que as condições para o desenvolvimento da segunda safra brasileira do cereal foram excelentes, permitindo uma produção histórica.
A Agroconsult estimou a produção total de milho do Brasil em 2019 em 101,2 milhões de toneladas, ante previsão de 100,4 milhões de toneladas em maio.
Esse volume será possível graças uma produção recorde da segunda safra, estimada pela Agroconsult em 74,6 milhões de toneladas, ante 74,2 milhões na previsão de maio.
Já o consumo de milho no país, cuja demanda é guiada pela indústria de carnes de aves e suínos, vai superar 60 milhões de toneladas em um ano pela primeira vez, segundo a Agroconsult.
Com as exportações de carnes sendo fortemente impulsionadas pelas compras da China, que lida com redução das criações em função da peste suína, o consumo de milho no Brasil somará 62,8 milhões de toneladas, frente a 59,7 milhões no ano passado.
Contudo, a indústria de aves e suínos do Brasil terá testada em 2019 sua capacidade de lidar com uma alta inesperada dos preços do milho em um ano de safra recorde no Brasil, em meio à quebra de safra dos EUA, especialistas indicaram à Reuters.
Com exportações, consumo e produção recordes, os estoques de milho do Brasil fechariam a temporada em 16 milhões de toneladas, praticamente o mesmo volume que iniciaram 2018, segundo a Agroconsult.
Fonte: Reuters