O I Congresso Internacional de Macaúba e o II Congresso Brasileiro de Macaúba serão realizados no Instituto Agronômico (IAC-Apta), em Campinas, de 23 a 25 de outubro. Líder nas pesquisas sobre melhoramento genético dessa palmeira no Brasil, o IAC sedia esse evento direcionado a especialistas, pesquisadores, profissionais e líderes do setor público e privado que irão discutir o papel dessa palmeira na bioeconomia e no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).
As pesquisas com macaúba ganharam uma grande dimensão, principalmente do ano passado para cá, com elevados investimentos e interesse de diversos países. Trazer este congresso histórico para o IAC demostra a relevância do Instituto para este setor.
“Fomos pioneiros nos estudos de muitas espécies que, somente anos depois, se tornaram economicamente importantes. No caso da macaúba, por exemplo, se hoje o setor privado abraça a cultura e investe é porque o IAC e outras instituições públicas de pesquisa fizeram um trabalho de abertura de trincheiras, nós demonstramos que a espécie é competitiva”, diz o pesquisador do IAC e coordenador do evento, Carlos Colombo.
Atualmente, o IAC tem relevantes resultados em suas pesquisas com macaúba, iniciadas no Instituto em 2006, um ano após o começo dos estudos dessa palmeira no Brasil, que coincidiu com a criação do Programa Nacional dos Biocombustíveis. Naquele período, a Petrobras fomentou projetos com várias alternativas de oleaginosa, dentre elas a macaúba, para atender o mercado de biodiesel. A FAPESP financiou os estudos do IAC desde 2006 até 2022.
Na sequência, o IAC passou a atuar em um projeto FINEP, em colaboração com a Universidade Federal de Viçosa, a Universidade de Hohenheim, o Instituto Fraunhofer e o Itaú. Esse projeto é vigente e seguirá até julho de 2025.
Também em 2023 o IAC fez um projeto em cooperação com a Acelen Renováveis, empresa do grupo Mubadala, de Abu Dhabi, que comprou a refinaria de Mataripe e está movimentando o setor de macaúba, elegendo-a como a espécie principal para produzir biocombustível, bio-óleo para a refinaria”, relata Colombo. Esta empresa irá plantar 180 mil hectares da palmeira.
Segundo Colombo, as interações internacionais passaram a aumentar em 2019, com Alemanha, Argentina, Costa Rica e México. “O primeiro congresso brasileiro de macaúba foi feito em 2013, em Patos de Minas. Naquela época, quase não tinha participação internacional ainda, tinha um outro grupo do Paraguai, que já mexia com o Macaúba, com o Coyol, como eles chamam lá, mas ainda não tinha um grupo forte como tem hoje”, comenta o pesquisador do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) e Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Parcerias nacionais e internacionais focam desenvolvimento de novos ingredientes saudáveis e funcionais a partir de proteína vegetal
O Instituto Agronômico tem quatro parcerias na área de macaúba, conduzidas com a INOCAS (Inovative Oil and Carbon Solutions), Projeto FINEP Brasil-Alemanha, grupo Acelen Renováveis, Instituto Fraunhofer e Universidade de Hohenheim.
Desde 2015, o trabalho com o Fraunhofer rendeu três patentes na área de ingredientes, sendo duas de dois ingredientes e uma de um filme plástico. “No caso dos ingredientes, um é uma fibra solúvel derivada da polpa e o outro é proteína derivada da amêndoa. A parente envolve a extração, caracterização e aplicação industrial desses produtos”, comenta Colombo.
De acordo com o pesquisador, os frutos de macaúba apresentam alto teor de fibras dietéticas na polpa, cerca de 50%, com uma proporção bem equilibrada de fibras solúveis e insolúveis, aproximadamente de 1:1. “Embora a torta da polpa de macaúba e suas frações de fibras tenham alto potencial tecnológico para atender a essas demandas como ingrediente alimentar, o conhecimento sobre os fatores que influenciam a funcionalidade das fibras de macaúba ainda é bastante escasso”, diz.
Por isso, a parceria com o Fraunhofer é direcionada ao desenvolvimento de fibras dietéticas inovadoras e funcionais a partir da polpa de macaúba, com foco no seu desempenho tecnológico como ingrediente alimentar. “Diferentes ecotipos de macaúba, composição, técnicas de processamento, bem como a interação das fibras dietéticas de macaúba com hidrocolóides e componentes alimentares serão considerados”, complementa.
Os estudos aprofundam o conhecimento sobre as melhores práticas de colheita, processamento pós-colheita e fracionamento do fruto da macaúba. Há também ações dirigidas aos produtores para avançar no desenvolvimento tecnológico. “Um dos pontos centrais é o desenvolvimento de fibra dietética funcional, a partir da polpa de macaúba de diferentes espécies e regiões de cultivo do Brasil, com foco em sua caracterização”, explica o cientista.
Na parceria com a INOCAS, o IAC atua como consultor na escolha dos melhores materiais para plantio, na germinação e produção de mudas e na transferência de conhecimento. “A parceria é relevante para manter a INOCAS atuante, como empresa, pois o negócio macaúba sempre esteve no ambiente mais acadêmico do que no campo, propriamente dito”, comenta o pesquisador do IAC.
Mais recentemente, a INOCAS fechou contratos para escalonar os seus plantios e precisou aumentar o seu laboratório de germinação de sementes. A nova instalação para a montagem dessa linha de germinação foi feita na fazenda Santa Elisa do IAC, em Campinas. A gerente desse novo laboratório é ex-aluna do Pós-Graduação do IAC.
Esta ação conjunta de pesquisa inovadora e desenvolvimento sustentável entre a o IAC, a Apta Regional de Pindamonhangaba e a INOCAS visa contribuir para o aumento real do PIB agropecuário e agroflorestal da região do Vale do Paraíba, gerando emprego e renda para os produtores rurais. A INOCAS, startup que tem alemães como sócios majoritários, tem como missão transformar a macaúba na principal fonte de óleos vegetais do mundo.
O que motivou a parceria com a INOCAS
A região do Vale do Paraíba passou por desmatamento constante, nos últimos anos, em razão da monocultura do café, da produção leiteira de baixa produtividade e da expansão urbana, fatores que acabaram contribuindo para a degradação da região. Para reduzir os impactos dessa situação, criou-se uma ação conjunta de pesquisa inovadora e desenvolvimento sustentável, que reúne o IAC, a Apta Regional de Pindamonhangaba e a INOCAS.
O objetivo é realizar pesquisas científica aplicadas e transferir tecnologias na implantação de sistemas agropecuários integrados com a utilização da palmeira macaúba e retomar a capacidade produtiva dessas áreas de pastagens e de florestas degradadas. “A proposta é recuperar as suas capacidades ecológicas, tornando possível o aumento real no PIB agropecuário e agroflorestal da região, gerando emprego e renda para os produtores rurais”, afirma.
Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo