Por Fabrizzio Capucci, diretor comercial da Naturfrig Alimentos
Entre desafios e superações, o setor de carne bovina do Brasil se encaminha para a reta final de 2023 com um balanço positivo no que diz respeito a reafirmação do País como uma das referências mundiais na exportação e produção da proteína. Antes mesmo do ano começar, os recordes e resultados conquistados em 2022 já estimulavam perspectivas para mais um período de crescimento.
Projeções iniciais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontavam para uma elevação em até 3,05 milhões de toneladas no volume de carne bovina exportado pelo Brasil em 2023. A previsão se apoiava, principalmente, na espera de uma redução da oferta de gado nos Estados Unidos e a continuidade do forte ritmo de embarques para o mercado chinês.
No entanto, alguns obstáculos entraram nesta equação logo no início do ano. Um caso atípico de Mal da Vaca Louca registrado na cidade de Marabá, no Pará, paralisou os embarques brasileiros para a China entre fevereiro e março. Neste período, o volume exportado para o país asiático caiu drasticamente, levando os valores totais embarcados a atingir queda máxima de 25% em abril, um mês após a retomada do comércio, de acordo com dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).
Outro fator que preocupou o setor ao longo do ano foi a constante queda dos preços médios da proteína bovina, fenômeno explicado pela demanda contida que conflitou com o aumento da oferta. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume de abates apresentou alta de 10,24% (24,42 milhões de cabeças) entre os meses de janeiro e setembro, cenário que contribuiu para um recorde de produção na série histórica que não foi seguido por procura proporcional.
Neste cenário, tanto o mercado doméstico quanto o externo apresentaram baixas de preços. O faturamento com exportações caiu 17% na comparação anual durante os 12 meses do ano, com os preços médios saindo de US$ 5.583 em 2022 para US$ 4.277 em 2023. Além disso, o período de ciclo positivo do gado, com o aumento da oferta, fez com que a arroba bovina vivesse pressão de queda ao longo do ano.
Mesmo com obstáculos no caminho, o volume exportado da proteína caminhou para um leve crescimento e reafirmação do Brasil como maior exportador de carne bovina do mundo. Ainda segundo a Abrafrigo, dezembro atingiu a melhor marca do ano para as vendas internacionais, com o volume 52% maior ao registrado 12 meses antes e receitas 28% superiores. No acumulado do ano, o montante comercializado atingiu 2,53 milhões de toneladas, aumento de 8,15% ante 2022 (2,34 milhões).
Contribuindo com este cenário, as relações entre o mercado brasileiro e o chinês de fato seguiram firmes. O país asiático foi responsável pela compra de 1.208.507 toneladas de carne, com receita de US$ 5,75 bilhões. No entanto, mesmo com os valores seguindo altos, a participação da China, maior comprador da carne brasileira, no total exportado pelo país sul-americano caiu de 53,2% para 47,7%. Ainda assim, esta baixa foi diluída pelo impulso de compra dos Estados Unidos.
Vivendo cenário de pouca oferta da carne bovina, os norte-americanos compensaram a queda no volume exportado para a China. O país se consolidou como o segundo maior cliente do mercado brasileiro, adquirindo 357.825 toneladas em 2023 e resultando em uma receita de US$ 1,116 bilhão. A participação dos EUA no total exportado pelo Brasil cresceu de 8% em 2022 para 14,1% neste ano, o que equilibrou a baixa na compra chinesa.
Outro fator positivo para o setor de carne bovina foi a abertura de diversos mercados e novas plantas habilitadas a exportar para a China, um fruto de esforços do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Até outubro, o Brasil havia conquistado 51 novos mercados, com destaque para Indonésia – com onze plantas habilitadas – México e República Dominicana.
Para os próximos anos, o governo brasileiro trabalha em negociações que visam a abertura de mercados com Japão e Coreia do Sul, dois grandes consumidores de carne bovina na Ásia. O fim da obrigatoriedade da vacinação contra febre aftosa em alguns estados do país sul-americano, um dos requisitos observados para concessão da exportação, pode aproximar o Brasil de ambos os países.
Na reta final do ano, o setor já começava a voltar seus olhos para 2024. A expectativa é que as exportações voltem a crescer por conta de fatores como o aumento da demanda global e a expansão da produção nacional. Além disso, com a previsão de aumento do consumo doméstico, os preços devem voltar a se estabilizar ao longo deste ano.
Em síntese, o setor de carne bovina brasileiro apresentou resiliência aos desafios de 2023, sendo recompensado com um bom volume exportado e uma recuperação consistente no final do ano, mesmo com os preços pressionados. As projeções positivas para 2024, impulsionadas pela expectativa de crescimento nas exportações, apontam para um futuro promissor, reforçando a posição do Brasil como uma potência na produção e exportação de carne bovina.