DESTAQUES DO DIA

1º Dia da Carne apresenta exemplos da cadeia da carne ovina no país

(Foto: Lorena Riambau Garcia/Divulgação)

Evento realizado pela Arco no RS reuniu especialistas que mostraram casos da produção ao consumo

A primeira edição do Dia da Carne, realizada pela Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), em Bagé (RS), reuniu na terça-feira (28) especialistas divididos em painéis com uma mesa-redonda ao final de cada ciclo. Foram discutidos os temas da Produção; Indústria; Varejo; Pesquisa e Inovação; e Gastronomia, Consumo e Turismo Local.

primeiro painel sobre Produção contou com o médico-veterinário Daniel Barros, o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul José Carlos Ferrugem e o representante da Secretaria da Agricultura Bruno Dall’Agnol. A mediação foi da vice-presidente da Arco, Elisabeth Lemos. Barros apresentou sua visão sobre sistemas de terminação de cordeiros e a importância do sistema precoce de engorda até os cinco meses de vida. Segundo ele, o desafio é fazê-lo com menos custo. “A terminação a pasto ainda é a melhor forma aqui no Rio Grande do Sul”, disse o especialista em nota da Arco.

Na sequência, quem apresentou dados oficiais do rebanho foi o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul. Ferrugem concentrou sua fala na problemática que envolve o número de cabeças destinadas ao abate e a quantidade de frigoríficos e abatedouros existentes. Segundo ele, a população comercial do Rio Grande do Sul é de 170 mil cordeiros e as contas nunca fecham. “Em 2022, tivemos 118 mil animais levados para o abate. Temos 148 abatedouros. Então, teríamos 1,2 mil animais por abatedouro por ano, 24 por semana”, contabilizou.

Bruno Dall’Agnol iniciou sua fala sobre sanidade animal com dados sobre os rebanhos no Brasil e contextualizando historicamente a produção de ovinos, iniciada há 11 mil anos, quando os animais foram domesticados numa região que compreende hoje a Turquia e o Irã. O rebanho mundial atualmente é de 1,266 bilhão de cabeças, sendo que o Brasil tem 20 milhões, distribuídas em 500 mil estabelecimentos de criação. Os três maiores rebanhos estão na Bahia, Pernambuco e no Rio Grande do Sul.

segundo painel abordou a indústria. Mediado pelo presidente da Arco, Edemundo Gressler, teve como palestrantes o médico-veterinário Felipe Inácio Vogt, da Celebra Gourmet, de Salvador do Sul (RS); Wanderley Lemos Gomes, diretor-presidente da Indústria de Carnes Frig Bahia, de Pintadas (BA); e João Bernardo, sócio-fundador e diretor comercial do frigorífico CarneiroSul, de Sapiranga (RS).

Vogt iniciou a sua palestra sobre “Oportunidades de agregação de valor no Mercado da Carne Ovina” ressaltando a previsão de crescimento de 60% até 2050 na demanda mundial por consumo de proteína animal, com uma taxa de aumento de 2% ao ano. Colocou que o Brasil tem condições de elevar a sua produção de carnes e em especial a ovina. “Precisamos fazer uma evolução no desempenho da ovinocultura assim como ocorreu com o frango”, defendeu.

Na sequência do painel, Wanderley Lemos Gomes abordou a “Atuação da Frig Bahia no mercado de carnes caprina e ovina no Brasil”. Trata-se de uma indústria de proteína animal constituída em 2015 sob a forma de sociedade cooperativa, instalada em Pintadas, região centro-norte do estado. A marca do produto desenvolvido é Fino Sertão, carnes especiais, e a indústria atua em nove estados e o Distrito Federal. Conforme Gomes, 70% da produção em 2022 foi de ovinos e caprinos. Ele apresentou os benefícios do modelo de arranjo produtivo adotado pela Frig Bahia. “O produtor individual enfrenta limitações na compra de insumos, na adoção de tecnologias e no acesso ao mercado consumidor. E entre as consequências desse tipo de produção estão a ausência de planejamento, dependência de intermediário e sobrevivência comprometida devido à receita insuficiente para cobrir custos”, destacou.

Dando continuidade ao Painel Indústria, João Bernardo, do CarneiroSul, falou sobre o “Atual momento da ovinocultura e tendências futuras do mercado”. Disse que é preciso entender o mercado como um todo, com uma visão de 360 graus, acompanhando o mercado de hoje e o futuro, mas também usando como exemplo as experiências do passado. “O que nos move e traz resultados são as nossas paixões. É preciso ter uma visão ampla do negócio e dos investimentos. E o nosso espírito dentro do frigorífico é que a venda gera riqueza e a importância do cliente”, afirmou, lembrando que o CarneiroSul é o frigorífico que mais abate ovinos no Brasil. “Em 2022, abatemos 49 mil ovinos, neste ano 53 mil, e para 2024 a projeção é abater 74 mil ovinos”, informou.

terceiro painel reuniu o varejo e foi um bate-papo entre o proprietário da Loja de Carnes De Leon, Isidoro De Leon, e do diretor-presidente da Peruzzo Supermercados, Lindomar Peruzzo, com a mediação do produtor de ovinos e proprietário da Loja de Carnes Santa Edwiges, Aluísio Azevedo. Peruzzo, que administra a oitava maior rede de supermercados do estado, disse que o desafio é muito grande para se superar e crescer no segmento, onde se consome de 400 a 500 gramas de carne ovina per capita por ano. “Uma das causas para o baixo consumo é que existe pouca disponibilidade de produto no mercado. A gente compra pouco porque vende pouco e vende pouco porque compra pouco”, afirmou. Lindomar Peruzzo disse também que sua venda mensal de carne é de mil toneladas e que a de ovino representa menos de 1% deste total.

A carne ovina para o negócio de Isidoro De Leon agrega muito pouco. “Não se tem um alto giro. O único que vi dar certo com a venda de ovinos foi o seu Aloísio”, garantiu o empresário. Outro fator para o baixo desempenho da carne ovina no seu negócio, De Leon afirma que são os abates informais. “Aqui na região, como o ovino é um animal pequeno, cabe no porta-malas, banco de trás, 90% das pessoas que eu conheço e que consomem carne ovina compram direto do produtor”, afirmou.

painel Pesquisa e Inovação, que deu prosseguimento à programação da tarde, contou com os palestrantes Rafael Paglioli, chefe de Divisão do Departamento de Conhecimento para Inovação, Ciência e Tecnologia da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (Sict), e Hélio de Almeida Ricardo, diretor técnico da Associação Paulista de Criadores de Ovinos (Aspaco). A mediação foi de André Bordignon, do Sebrae-RS. Dando destaque ao Selo Cordeiro Premium, Paglioli entregou o certificado para o frigorífico CarneiroSul, a primeira indústria a receber oficialmente a distinção. De acordo com Paglioli, o Selo Cordeiro Premium tem por objetivo estimular as boas práticas da cadeia produtiva que agreguem valor aos processos e produtos.

O próximo a falar foi Hélio de Almeida Ricardo que mostrou “O que o Campeonato Cordeiro Paulista trouxe para a produção da carne ovina em São Paulo”. Segundo ele, o campeonato é feito por meio de pontuações premiando o grande campeão, reservado e terceiro melhor, observando as etapas de ganho de peso e de avaliação das carcaças. “É uma forma de estimular e levar informações ao produtor sobre as características dos animais”, observou, lembrando que a etapa de ganho de peso é realizada em confinamento.

Terminando o evento, o painel Gastronomia, Consumo e Turismo Local, destacou outro ponto importante para fomentos da cadeia. Bruno Ivanoff, da Unisenac, falou sobre a desinformação cultural e os tabus da alimentação. Salientou que o trabalho realizado dentro dos cursos de gastronomia produz diversos pratos de fácil acesso ao consumidor. “Escutamos que é uma carne doce, dura e é apenas para assado. A carne ovina pode ser feita com qualquer preparo. Não é só assado, ela para na panela para qualquer preparo. Mostramos dentro dos cursos de gastronomia que ela é super fácil. Dá para fazer muito mais com pequenos movimentos da indústria, com o fracionamento. Com esse pequeno movimento já podemos mostrar que a carne ovina é saborosa”, salientou.

O presidente da Arco, Edemundo Gressler, concluiu refletindo que a ideia de realizar o Dia da Carne foi feliz. “Fizemos um movimento maravilhoso e tenho certeza de que outros dias virão. Esse é um desafio de que outros encontros com esses temas se estendam por outros estados. Temos um belo caminho a percorrer. A espécie nos ensina. Desconfie quando uma ovelha estiver sozinha no campo. E nós todos, as instituições, pelo ensinamento que a ovelha nos traz, sigamos unidos pela ovinocultura brasileira. Podemos transformar esse país em um exportador de proteína ovina”, finalizou.

O texto de cobertura acima é de Ieda Risco, Rejane Costa e Nestor Tipa Júnior, da AgroEffective.

 

Fonte: CarneTec Brasil

compartilhe:

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
WhatsApp
Telegram

1º Dia da Carne apresenta exemplos da cadeia da carne ovina no país

error: Conteúdo protegido!