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Embrapa desenvolve níveis de manejo do solo para avaliação de risco climático na soja

Proposta inclui manejo do solo na avaliação de risco climático. Foto: ANeto/Arquivo Embrapa

Atualmente, o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc Soja) – que indica onde e quando semear soja para minimizar os riscos de perdas por eventos meteorológicos adversos, leva em consideração as condições meteorológicas e a capacidade de armazenamento de água disponível no solo. Porém, a Embrapa desenvolveu uma proposta inovadora, que pretende considerar também o manejo do solo na avaliação de risco climático. O detalhamento da proposta está sendo apresentado em um painel, durante a Reunião de Pesquisa de Soja, realizada de 23 a 24 de agosto, em Londrina (PR), e pode ser acessado no Documento 447 – Níveis de manejo do solo para avaliação de riscos climáticos na cultura da soja.  “Entendemos que a qualidade do manejo do solo adotado pelos sojicultores tem enorme potencial em mitigar os riscos de perdas de produtividade por seca, a exemplo das práticas como a adoção plena do Sistema Plantio Direto (SPD)”, explica o pesquisador Júlio Franchini, da Embrapa Soja. “Nossa proposta é enquadrar as áreas de produção de soja em quatro níveis de manejo (NMs), segundo indicadores e critérios que refletem os impactos das práticas agrícolas sobre características e processos físicos, químicos e biológicos do solo”, diz Franchini.

Proposta de níveis de manejo
Em conformidade com a qualidade e o histórico do manejo adotado, a metodologia prevê a adequação de parâmetros dos modelos do Zarc que determinam a disponibilidade de água para a cultura, gerando assim riscos hídricos decrescentes do primeiro ao quarto nível (NM1 ao NM4). Para o enquadramento nos níveis de manejo, foram selecionados sete indicadores que refletem a qualidade do manejo e a fertilidade do solo, sob o ponto de vista de maior disponibilidade de água e crescimento radicular.

São indicadores de níveis de manejo: 1) a quantidade de anos sem preparo do solo, 2) a porcentagem de cobertura do solo na semeadura da soja, 3) a diversificação de culturas consideradas nos últimos três anos, 4) a disponibilidade de nutrientes às plantas, na camada de 0-20 cm, 5) o teor de cálcio na camada de 20-40 cm, 6) a ausência de alumínio tóxico na camada de 20-40 cm, 7) a qualidade da estrutura do solo. De acordo com o pesquisador Alvadi Balbinot, três dos indicadores refletem diretamente os pilares que fundamentam o Sistema Plantio Direto (cobertura do solo, mínimo revolvimento e diversificação de espécies vegetais). “Portanto, o SPD se constitui em uma importante estratégia para mitigar o risco climático relacionado à ocorrência de secas”, explica Balbinot. O pesquisador afirma ainda que outros indicadores estão relacionados com a disponibilidade de nutrientes e à acidez do solo em superfície e subsuperfície. “Este fator quando não corrigido adequadamente pode limitar o crescimento e o funcionamento das raízes, aumentando assim o risco de perdas expressivas de produtividade por seca”, destaca.

O indicador de estrutura do solo é acessado por meio do  Índice de Qualidade Estrutural do Solo ( IQEs), obtido pelo  Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES). O DRES é um método para qualificar a estrutura da camada superficial do solo, baseado em características detectadas visualmente em amostras dos primeiros 25 cm. “A metodologia apresenta aplicação prática para diagnosticar se o solo apresenta compactação ou ainda se está apresentando melhorias em função das práticas adotadas, quando realizado de maneira sequencial ao longo do tempo”, diz.

Desafio na adoção do SPD 
A manutenção da cobertura do solo e a preservação ou aumento do teor de matéria orgânica e a melhoria das propriedades (físicas, químicas e biológicas) do solo são, portanto, benefícios que se obtém mediante a adoção do Sistema Plantio Direto. “Além desses benefícios, o crescimento do sistema radicular tem grande importância para o aumento do reservatório de água disponível durante os períodos de estresse hídrico”, destaca Franchini. “Nesse sentido, práticas de manejo do solo que aumentem a infiltração e a retenção de água no solo e o crescimento das raízes das culturas em profundidade são relevantes para minimizar as perdas por déficit hídrico”, ressalta o pesquisador Henrique Debiasi.

Segundo a Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto, o SPD está presente em cerca de 33 milhões de hectares no Brasil, porém, a maior parte dessa área não atende de forma integral às premissas do sistema, restringindo-se, à mínima mobilização do solo pela eliminação de operações de preparo do solo.

Papel da água na soja – Em trabalhos conduzidos na Embrapa Soja, em Londrina (PR) ao longo de 15 safras, verificou-se que os maiores rendimentos de grãos de soja foram obtidos com 650 a 700 mm de água, bem distribuídos ao longo de todo o ciclo.  De acordo com o pesquisador José Renato Bouças Farias, a água desempenha a função de solvente, transportando gases, minerais e outros solutos na planta, além de atuar como regulador térmico, agindo tanto no resfriamento como na manutenção e na distribuição do calor. “A disponibilidade de água é importante, principalmente em dois períodos do ciclo de desenvolvimento da soja: germinação-emergência e floração-final de enchimento de grãos”, diz Farias. “Porém, para garantir máximo rendimento de grãos, a água necessária deve ser disponibilizada ao longo de todo o ciclo, a fim de atender as exigências da cultura, podendo ser suprida através da chuva, da irrigação ou pelo armazenamento de água no solo.

A adoção do SPD de forma isolada não é, na maioria das situações, condição suficiente para o controle efetivo das perdas de água, solo e nutrientes por erosão hídrica. “A falta de manutenção ou eliminação parcial ou total dos terraços, sem critério técnico, associada à realização das operações mecanizadas paralelamente ao declive, pode resultar em elevadas perdas de água, solo e nutrientes por erosão hídrica, mesmo em SPD, comprometendo a sustentabilidade do sistema de produção de soja”, explica Franchini.

Perdas por seca – De 2013 a 2021, 48% das coberturas deferidas por perda no Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) foram motivadas por seca, enquanto a chuva excessiva e as geadas representaram perdas de 20% e de 19%, respectivamente. Além disso, a Embrapa Soja fez um levantamento na região Sul do Brasil e Mato Grosso do Sul, confirmando que a seca ocorrida nestes estados do na safra 2021/22, reduziu a produção de soja em 403 milhões de sacas.

Soja – A soja é atualmente a cultura com a maior área cultivada (44 milhões de ha) e produção (154 milhões de t) no Brasil, o que torna o País o maior produtor e exportador mundial do grão. As exportações renderam US$ 48 bilhões (40% do total correspondente ao agronegócio).

 

Fonte: Embrapa Soja

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