A estimativa é de que em 2030 a demanda de SAF no mundo deve chegar a 20 milhões de metros cúbicos por ano. O biocombustível de aviação pode ser produzido tanto à base de resíduos agrícolas e florestais, óleos vegetais, gorduras animais e etanol, ou, ainda, por meio do hidrogênio verde, a partir de fontes de eletricidade renovável.
A Boeing, fabricante norte-americana de aviões, tem compromisso de fornecer aeronaves comerciais capazes de voar com combustível 100% renovável até 2030. No Brasil, com a diversidade de recursos naturais, a meta ambicionada é transformar o país em uma Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) da SAF.
A Brasil BioFuels (BBF) planeja inaugurar até 2026 uma planta na Zona Franca de Manaus com investimento de R$ 2 bilhões para produzir até 500 mil metros cúbicos de biocombustível ao ano. A Raízen vai investir R$ 24 bilhões até 2031 em 20 unidades de produção de etanol de segunda geração, feito a partir da biomassa extraída do processo produtivo do etanol. A Petrobras anunciou a destinação de US$ 600 milhões ao Programa BioRefino (diesel renovável e bioquerosene de aviação) na Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), com capacidade para a produção de 6 mil barris por dia de BioQAV e outros 6 mil de diesel 100% renovável a partir do processamento de até 790 mil toneladas/ano de matéria-prima.
Em resposta ao Valor, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) informa que acompanha a evolução das rotas tecnológicas para produção de SAF e que, atualmente, os combustíveis sustentáveis podem ser misturados ao querosene de aviação fóssil na proporção de até 50%. “O principal desafio é o preço do SAF, superior ao do QAV fóssil. Por isso a necessidade de aumento da produção, para que se tenha um ganho de escala”, diz a agência.
“A bioenergia é a rota energética do futuro”, afirma Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), que representa os principais produtores do Centro-Sul do Brasil de açúcar, bioeletricidade e etanol. A rota alcohol-to-jet (ATJ), que utiliza o etanol como base, é apontada como a mais promissora para atender à meta da aviação internacional de neutralidade em carbono até 2050.
É nisso que aposta a Raízen. A empresa integrada de energia trabalha com a perspectiva de que 25% do combustível sustentável de aviação será produzido a partir do etanol com uma demanda adicional de 9 milhões de metros cúbicos por ano da matéria-prima. “A expectativa é que boa parte da produção de E2G possa ser destinada para contratos de fornecimento de longo prazo com companhias que apostam no combustível de aviação sustentável”, diz Paulo Neves, vice-presidente de Trading da Raízen.
A BBF aposta no óleo de palma em parceria com a Vibra. A ideia é criar a primeira planta originalmente destinada à produção de biocombustível de aviação. A rota tecnológica ainda está em estudo. A vantagem da palma estaria na absorção maior de mão de obra e no potencial aproveitamento de 30 milhões de hectares em áreas degradadas na Região Amazônica para a produção da matéria-prima do óleo vegetal. “É o pré-sal verde”, afirma Milton Steagall, presidente da BBF.