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Mercado de biodefensivos cresce mais de 70% no Brasil em um ano

A produção de produtos biológicos para controle de pragas e doenças agrícolas cresceu mais de 70% no último ano no Brasil, movimentando R$ 464,5 milhões ante R$ 262,4 milhões em 2017. O resultado brasileiro é considerado o mais expressivo da história do setor e supera o percentual apresentado pelo mercado internacional.

Em termos globais, o setor apresentou crescimento de 17% no mesmo período. Os dados detalhados sobre o desempenho do ano passado da indústria nacional de biodefensivos foram apresentados nesta quinta-feira (21) pela Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio), considerando apenas as empresas associadas que representam 70%  do mercado nacional.

O crescimento do mercado brasileiro de defensivos biológicos segue tendência mundial de redução do uso de agroquímicos para combater pragas e doenças nas lavouras. Em um país com alto índice de insetos devido ao clima tropical, o desafio dos agricultores é reduzir a aplicação dos pesticidas, principal método de manejo de pragas do país atualmente, para também reduzir o custo da produção e os riscos associados para a saúde humana e os recursos naturais.

O que é

O controle biológico faz parte do chamado Manejo Integrado de Pragas (MIP) e permite o uso de organismos vivos ou obtidos por manipulação genética para combater pragas e doenças provocadas por lagartas comuns, mosca, nematoides (vermes microscópicos), cigarrinha das raízes, broca da cana, ácaros e fungos e outros agentes nocivos para a agricultura.

Os produtos biológicos podem ser utilizados em qualquer cultura, desde frutas e verduras, até grãos, cana de açúcar, entre outros. Existem dois tipos de biodefensivos: os macrobriológicos, que consistem no uso de macroorganismos, como insetos, ácaros e outros inimigos naturais das pragas; ou microbiológicos, que se baseiam em bactérias, fungos e vírus.

Segundo Rose Monerrat, diretora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, os produtos mais usados no mercado são os microrganismos. “A procura tem sido muito grande e está crescendo. Segue uma tendência mundial, porque as exigências do mercado europeu estão fazendo com que este mercado cresça cada vez mais”, comenta.

O professor titular de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), José Roberto Parra, lista uma série de vantagens para o uso de biodefensivos, principalmente o aspecto ecológico e social dos produtos.

Entre os benefícios apontados pelo engenheiro agrônomo está a ausência de resíduos químicos nas culturas, uma vez que o Brasil exporta muitas commodities e o mercado internacional tem colocado cada vez mais restrições aos agroquímicos.

“É indiscutível essa vantagem. Não tem problema de resíduos químicos e não há desequilíbrios biológicos. Quando você usa inseticidas, você mata esses agentes de controle biológico, que chamamos de inimigos naturais, então, o controle biológico não mata e não aumenta a resistência das pragas. E não tem problemas ambientais de contaminação do solo, da água, dos alimentos”, explica.

Resultados no campo

O manejo de controle biológico é realizado há mais de dez anos pela Fazenda Salgueiro da Serra, situada em Buritis, na região Noroeste de Minas Gerais. As primeiras experiências com produtos biológicos na fazenda do Grupo Agrosalgueiro, que atualmente planta soja, milho e feijão, começaram na década de 1990 e se intensificaram a partir de 2007.

“Na época, o pedido dos sócios era para produzir mais, gastar menos e, se possível, usar menos agroquímicos. Responsável pela compra de insumos, planejamento técnico e experimento agrícola do grupo, a única forma que eu enxerguei para trabalhar esses objetivos foi o biológico e conceitos de agroecologia. Com ingredientes ativos, controle químico eu sei que não teria muita chance de reduzir custo, porque todo ano estávamos aumentando doses ou números de aplicações e com o biológico foi o contrário: nós reduzimos doses e número de aplicações”, conta Rogério Aoyagui, consultor técnico sobre biológicos e herdeiro acionista do grupo Agrosalgueiro.

O engenheiro agrônomo explica que, para reduzir doenças de solo, da planta e do sistema como um todo, o manejo biológico tem se tornado uma ferramenta fundamental. O que tem sido usado em maior escala na fazenda são os microorganismos probióticos. O grupo também utiliza inimigos naturais, agentes biológicos promotores de nitrogênio e compostagens líquidas à base de resíduos animais como fonte de nutrientes e biorremediador do solo. Manejo de sistemas e outras tecnologias já desenvolvidas também foram inseridos para contribuir com a melhoria do processo produtivo.

“Atualmente conseguimos reduzir e, em alguns casos, substituir agrotóxicos. E, obviamente, atingimos a meta inicial de redução de custo. Aumentou a produtividade e reduzimos a carga de químicos. Estávamos um pouco receosos, mas o resultado foi bem interessante. É difícil aceitar a mudança e a quebra de paradigmas de técnicos, consultores, proprietários e funcionários, esse foi um dos maiores desafios. Posso seguramente dizer que o manejo biológico é um caminho sem volta, uma ferramenta importantíssima para a revolução agrícola do mundo”, comenta Aoyagui.

Em relação à assistência técnica e contratos de parcerias com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o grupo tem tido suporte de manejos e acompanhamento do desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável. Segundo Rogério, a parceria tem sido fundamental para implantar as inovações tecnológicas com mais segurança e com grande margem de sucesso.

“Na parceria com a Embrapa conseguimos ter critérios de avaliação sobre a qualidade das nossas lavouras e do produto final. O objetivo do grupo é ter uma produção cada vez mais sustentável e responsável, respeitando cada vez mais a natureza e garantindo produtos saudáveis para a sociedade”, relata Rogério.

“Nossa meta é reduzir no mínimo em 50% o uso de agroquímicos. Seria um grande sonho. Com a nossa credibilidade como empresa familiar e cuidadores da terra, temos a missão de gerar uma condição de harmonia, alegria e bem estar nos grupos que atuamos e na sociedade. Um dos nossos grandes incentivadores é a Embrapa, pelo suporte técnico”, comenta o proprietário Fernando Aoyagui.

A qualidade ambiental da área de produção da fazenda e a experiência de aplicar em campo tecnologias biológicas de controle de pragas têm atraído a atenção de pesquisadores de outras regiões do país. “O grupo está na vanguarda, fazendo o controle de forma segura e responsável”, elogiou Rose Monerrat.

Além da Fazenda Salgueiro, a Embrapa é parceria de diversos grupos de produção ou pesquisa sobre controle biológico em todas as regiões do país. A empresa tem produtos biológicos comercializados no mercado e há mais de 30 anos desenvolve tecnologias inofensivas à saúde humana e ao meio ambiente para controle de doenças.

“Temos mais de 200 projetos no portfólio e mais ou menos 100 pesquisadores envolvidos. Muitos produtos já foram desenvolvidos e estão sendo comercializados no mercado para atender essa área. Todas as unidades estão fazendo coisas novas, tem produto para controle de lagarta, de percevejo, de nematoide”, comentou Rose.

Plantio de culturas regionais

Nem todas as pragas e doenças que atingem as lavouras brasileiras podem ser controladas por produtos químicos. Em regiões com culturas, solos e clima diferentes, tem crescido a busca por pesquisas que desenvolvam biodefensivos eficazes no controle de doenças específicas de algumas localidades.

Entre as pesquisas em andamento está o trabalho da Embrapa da Amazônia Oriental. A unidade, situada em Belém (PA), analisa o uso de bactérias para promover o crescimento da planta e também para controlar a fusariose, doença que ataca o plantio da pimenta do reino.

“Não tem nenhum agroquímico registrado para controle da fusariose, o que há são medidas preventivas, como evitar plantio perto das áreas de incidência alta, por exemplo”, disse Alessandra Keiko, pesquisadora responsável pelo estudo.
A agrônoma explica que a fusariose é uma doença de solo, causada por um fungo que ataca a raiz da planta, por isso é difícil de controlar. A doença ocorre em todos os lugares de plantio de pimenta do reino e é um problema típico de clima tropical.

A unidade também está desenvolvendo pesquisa, ainda em estágio inicial, sobre o uso de própolis para controlar a bacteriose na mandioca. A cultura também é afetada pela “podridão radicular”, problema que atinge a raiz e está muito relacionado à chuva, entre outros fatores.

Alessandra comenta que a demanda por controle biológico no Norte é grande, pois a região tem muitas culturas e doenças para s quais não existem agrotóxicos registrados para combatê-las. E a maioria é produzida pela agricultura familiar.

“Todas as doenças que ocorrem para o açaí, por exemplo, não têm químico registrado. Outros exemplos: o cupuaçu, as fruteiras nativas, a mandioca. O uso de controle alternativo com extrato de plantas, óleos essenciais, viria (no Norte) não como alternativa aos químicos, mas como forma de controle mesmo”, explica Alessandra.

Expansão

Enquanto o mercado convencional de defensivos agroquímicos tem apresentado sinais de estagnação, com resultado recente de queda global de 6% na produção (US$ 64 bilhões), o saldo mundial do controle biológico em 2018 foi 17% maior que o alcançado no período anterior, de US$ 3,8 bilhões.

No Brasil, em fevereiro do ano passado, o mercado de produtos biológicos nacional movimentou US$ 164,9 milhões, o que corresponde a quase R$ 528 milhões, segundo a consultoria Agribusiness Intelligence/Informa. O controle biológico representa 5% da produção geral de controle de pragas e a América Latina é a região que apontou crescimento mais acelerado nesta área.

Para 2020, a expectativa é que o setor de biológicos fature no mundo US$ 5 bilhões e que em 2025 chegue a US$ 11 bilhões, segundo outra consultoria, a Dunham Trimmer – International Bio Intelligence.

Fonte: MAPA

Imagem: MAPA

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