O produtor rural paulista pela primeira vez desde 2020 vive um início de ano com bons índices pluviométricos. O clima começou a virar a favor do agricultor no fim do ano passado. Segundo o relatório Análise das Condições Hidrometeorológicas do Estado de São Paulo, já em dezembro de 2022 as médias de precipitação estiveram elevadas em relação à média histórica, eliminando a restrição hídrica que se observava em São Paulo nas últimas temporadas. As chuvas ficaram acima de 200 milímetros em quase todas as regiões, destacando-se a Alta Mogiana e entorno de Ribeirão Preto.
Em janeiro as chuvas continuaram surpreendendo positivamente. A pedido da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP), seis produtores de diferentes regiões de São Paulo contaram suas percepções sobre o tema. E há uma opinião unânime: podemos esperar bons resultados em diferentes culturas.
“Está chovendo muito, uma coisa muito boa pois há 20 anos não chovia com essa intensidade. De 10 de dezembro até o final de janeiro foram 1.020 milímetros aqui em Altinópolis”, reporta Guilherme Vicentini, produtor de café. Para o citricultor Frauzo Sanches, é fácil sentir a diferença em relação aos anos anteriores. “Viemos de dois anos muito ruins, e a agora a expectativa é que seja uma safra boa. A chuva começou mais cedo e o regime hídrico está um pouco melhor”, afirma.
Mas a alta nas chuvas não traz apenas benefícios. “Um fato interessante é que tudo em excesso acaba não sendo bom. Com a chuva é a mesma coisa”, observa Roberto Figueiredo, produtor de cana-de-açúcar e grãos. De fato, o regime pluviométrico mais acentuado exige cuidados adicionais, relacionados à nutrição da planta, baixa incidência de luz solar, umidade em excesso e proliferação de fungos e bactérias.
Café e citros
Os agricultores paulistas têm tido bons e maus momentos neste início de 2023. Parte dessas questões são reflexo das ocorrências climáticas de 2021 e 2022, caso da cafeicultura. Segundo Vicentini, a safra de café só não será melhor porque as plantações ainda sofrem impacto de temporadas passadas, em que faltou chuva. “O pegamento da florada foi prejudicado, então temos poucos frutos na planta. A granação vai ser boa nesses poucos frutos que existem, mas acreditamos que não será uma safra muito grande. Ela está prejudicada porque viemos de dois anos de frustração e problemas fisiológicos”, conta. Além disso, as chuvas de janeiro criaram um problema adicional: foram quase 20 dias com pouca luz natural. “A planta entra em uma condição na qual não faz fotossíntese e cresce menos. Também estamos começando a ver problemas de ferrugem e pseudomonas, com a temperatura baixa e ventos frios”, destaca o produtor. Como as áreas de café são expostas, completa ele, há maior incidência de doenças e o controle nessas condições também está prejudicado.
Nesse cenário, para o café, a melhor perspectiva é para a safra de 2024 – tanto que os cafeicultores estão fazendo intervenções na lavoura, como podas, para melhorar a perspectiva. “As lavouras começaram a responder agora, mas era para estar mais fechado, mais enfolhado. Vamos ver o que a chuva vai trazer de bom. Tenho a impressão de que dentro dois ou três meses estará definida a perspectiva para 2024”, avalia Vicentini.
No caso da citricultura a mudança também foi sensível. Frauzo Sanches lembra bem dos anos seguintes a 2020, quando a seca na região foi histórica – de uma média de 1250 mm, choveu entre 850 mm e 900 mm em 2020 e 2021, respectivamente. “Não chegaram a morrer os pés, mas como o porta-enxerto que usamos sente mais a seca, alguns pés secaram, desfolharam inteiros, foi muito intenso. Veio 2021 e tivemos mortalidade de plantas”, recorda ele, sobre o que viu nos seus 25 hectares de laranjais, onde não se usa irrigação. Neste início de ano, a média já está se estabilizando nos níveis históricos. “Nos primeiros 15 dias de 2023, comparado com 2021, choveu um pouco mais do que o dobro. Sendo que o período anterior, o final de 2022, também foi bem melhor. Começou mais cedo, teve uma regularidade melhor, então, pensando nos citros, é muito bom”, diz. Apesar disso, a safra de laranja ainda não deve superar a do ano passado. Dependendo da continuidade das chuvas, a perspectiva é que a colheita seja similar à anterior.
Soja, milho e outros grãos
O produtor de grãos Márcio Antônio Vassoler conta que, em sua região, a soja tem respondido bem ao clima – mas que as diferenças regionais influenciam nos resultados entre uma área e outra. “Aqui em Tupã a chuva está mais regularizada do que em Presidente Prudente, onde está chovendo, mas não constantemente. Estive na região de Bauru e as chuvas estão mais intensas, mais fortes, mas não estamos vendo nada de prejuízo. O ano está correndo muito bem para a agricultura, e se continuar assim será ótimo”, diz. A mesma percepção é compartilhada por Roberto. “Na soja o cenário é muito promissor, embora os preços não tenham tido uma perspectiva muito boa. Mas a produção a gente espera que seja acima da média”, conta. Alguns produtores da região tiveram as lavouras afetadas por granizo, acarretando o replantio de cerca de 150 hectares em novembro de 2022.
Marcos Almeida, produtor de soja e milho, diz que o ponto de virada se deu a partir de outubro de 2022 – desde então, as chuvas já superam os 800 mm. “A soja está desenvolvendo bem e o milho já foi definido, porque adiantou o plantio. Projetamos que a produção será de 65 a 80 sacas de soja por hectare, e em torno de 140 sacas por hectare de milho”, calcula. Para Cássio Leme, a palavra que tem definido este início de ano, do ponto de vista climático, é equilíbrio. “Aqui pra soja está indo bem, está chovendo bem nos pontos cruciais de soja e milho. Não está tendo problema nem de excesso nem de falta de chuva”, resume.
Na região de Tupã, de onde fala Vassoler, também há milho e amendoim, cujo desempenho está dentro do esperado. “Estamos com plantio de milho, que não é muito na região, mas está indo bem. Já o amendoim tem que prestar atenção, porque ele não gosta de água e o produtor precisa pulverizar. Mas está indo bem também, está com grande perspectiva de produção”, observa.
Cana e pasto
Sendo uma gramínea, a cana-de-açúcar está entre as culturas que melhor têm respondido às chuvas. Tanto que, segundo Roberto, as usinas de açúcar e álcool da região para a qual ele é fornecedor estão se preparando para receber um volume extra de matéria-prima. “Estamos passando por chuvas acima da média e isso é um cenário fantástico para a cana, que é predominante na nossa região. A perspectiva é de boa safra, tanto na produção e na produtividade. Em reuniões com o pessoal das usinas, soubemos que eles estão se preparando para receber uma safra acima da média”, comemora. Os canaviais vêm de um período anterior difícil, em que geadas e secas afetaram negativamente a produtividade.
Mas nem tudo são flores, e as chuvas em excesso podem fazer a planta sofrer por falta de nutrientes. “A chuva em excesso favorece a lixiviação de alguns nutrientes, como o boro, então é bom o produtor atentar agora para as aplicações, fazer análise de nutrientes e ver se há necessidade de repor algum deles”, recomenda.
Falando em gramíneas, os pastos também vão bem. “A produção das pastagens também está bem promissora. O pecuarista que manejar bem às áreas e seguir as recomendações de cobertura terá uma condição interessante para alimentação do gado”, completa Roberto. O cenário se repete em outras regiões do estado, como a divisa com o Mato Grosso do Sul, onde Marcos trabalha com grãos e pastagem. Dono de uma propriedade no estado vizinho, ele tem observado as diferenças entre um e outro. “Lá já está seco, não está chovendo e estão perdendo soja com a seca. Mas em São Paulo, todas as lavouras por onde você passar, verá que estão boas”, celebra.
Fonte: FAESP