DESTAQUES DO DIA

A fama que fica e que dá ‘trabaio’

Por Marival Correa

Exclusivo para o Jornal Campo Aberto

Dizem que não adianta forçar o peito quem não nasceu pra cantar. Tião Carreiro assim trovejava, ao mesmo tempo em que desafiava: caboclo bom tem que nascer com o dom, e a voz, tem que ser natural. Não adianta forçar o peito quem não nasceu pra cantar, advertia o mestre. Até porque, dos torneios todos que Tião entrou, de todos ele saiu campeão. Só caiu mesmo naquele desafio no qual não existe vencedor – do jogo da vida todos um dia saem e partem pra morada eterna.
E a partida so eterno rei do pagode não foi em vão. Deixou um legado, inspirou gerações a seguir sua fama; uma fama que como ele próprio diz e canta, “dá trabaio”.
José Dias Nunes, o Tião Carreiro, faria 88 anos neste 13 de dezembro, mas, como diria o também saudoso Rolando Boldrin, partiu pro andar de cima no dia 15 de outubro de 1993, com apenas 58 anos de idade. Se o tempo para ele foi breve, foi farto em lhe conceder talento e maestria na arte de tinir a viola como ninguém.
De suas modas ecoam o legado pra muito além do sertão. Pra muito além dos cirquinhos sem teto e com o chão forrado de palha de arroz. Pra muito além dos 78 rotações e dos serviços de autofalantes das cidadezinhas do interior. Ganhou o coração do povo, com seu pagode, seus duetos com Carreirinho, seu jeito único de sapatear as cordas a fazer escola, faculdade e mestrado.
Se o próprio Tião em sua moda que inaugura o pagode caipira desafia a quem possa apontar um caboclo de peito capaz de fazer uma outra capital federal, o mesmo pode se dizer dele próprio – quem seria o cabra de peito pra fazer o seu ponteio, pra ecoar sua voz na mesma têmpera, com a mesma emoção.
Não, não surgirá outra Brasília, como não teremos outro rei do pagode. Como também não teremos os pioneiros que vieram antes do próprio Tião, como Raul Torres e Florêncio, Tonico e Tinoco, Zé Carreiro e Carreirinho e tantos outros. Eles formam a estirpe máxima, a seleção campeã na copa dos sons brasileiros a levantar a taça da cultura legitimamente caipira.
Viva Tião, o caboclinho mineiro, filho de Araçatuba. E não, este ninguém derruba, porque ele tem “peito de bronze, braços de ferro e punhos de aço”. E onde tiver uma viola tinindo, ali tem um pouco da alma do Tião e de seu legado inigualável.

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