A suinocultura brasileira enfrenta um momento desafiador em cenário de alta nos custos de grãos e aumento da oferta de carne suína no mercado doméstico, segundo a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS).
A produção de carne suína brasileira cresceu mais de 30% entre 2016 e 2021, sendo que o principal salto na oferta ocorreu em 2020 e 2021, puxado pela demanda chinesa.
Em 2020, as exportações absorveram a maior parte do excedente produtivo, mas em 2021, o mercado doméstico teve de lidar com uma disponibilidade interna de carne suína maior (+294,5 mil toneladas) diante da desaceleração no ritmo das exportações.
“É justamente este excedente de quase 300 mil toneladas despejado no mercado interno em 2021, agravado por um momento de perda de poder aquisitivo da população brasileira, que é um dos fatores que determinaram o início da crise da suinocultura que perdura neste início de 2022”, disse a ABCS em análise divulgada na quinta-feira (17).
O aumento no custo de produção também contribuiu para agravar a crise. A ABCS disse que já esperava um primeiro semestre desafiador em 2022, com preço de venda do suíno em baixa e alto custo de produção. Com o início da guerra na Ucrânia, os preços dos grãos tiveram uma disparada imediata nos mercados internacionais.
A ABCS disse que a suinocultura está sendo afetada de forma indireta pelo conflito, com aumento dos preços dos combustíveis, da cotação dos grãos e possibilidade de falta de fertilizantes ou alta no preço internacional.
Os potenciais problemas logísticas relacionados ao conflito e sanções que dificultem transferências bancárias da Rússia poderão afetar as exportações de carne suína brasileira para os russos. A Rússia anunciou no ano passado que o Brasil poderia exportar carne suína ao país dentro de uma cota de 100 mil toneladas que teria de ser cumprida no primeiro semestre de 2022.
Mas a maior preocupação para o setor em relação às exportações é a redução dos embarques para a China e o baixo valor em dólar pago pela carne suína brasileira nos últimos meses, segundo a ABCS.
“Certamente, esta é uma das piores crises da história da suinocultura brasileira, mas há um fator peculiar neste momento que é o grau de incerteza mundial diante de uma pandemia ainda em curso e a recente eclosão da guerra na Eurásia”, disse o presidente da ABCS, Marcelo Lopes.
“Estes acontecimentos determinam um ambiente muito propício à volatilidade dos mercados e, principalmente, às especulações, mas não há, ao menos no curto prazo, qualquer indicativo de desabastecimento dos principais insumos agropecuários no Brasil.”
Por Anna Flávia Rochas
Fonte: CarneTec Brasil