O versátil amendoim é uma leguminosa originária da América do Sul, consumida como óleo e pastas ou ainda como confeitos doces e petiscos salgados. Ou seja, os amantes da boa mesa sabem que seu potencial é ilimitado. Para oferecer esse ingrediente da melhor qualidade, pesquisadores e agricultores trabalham para que os materiais tenham boa qualidade e produtividade. Para transferir informações para esse setor, o Instituto Agronômico (IAC) e a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) Regional de Pindorama apresentaram os principais resultados das pesquisas, no 13º Encontro de Produtores e Dia de Campo de Amendoim, no dia 15 de fevereiro de 2022, em Pindorama, presencialmente. O público viu as cultivares IAC em campo, desenvolvidas com o objetivo de proporcionar alta resistência à mancha preta e ferrugem. Esse perfil deve trazer benefícios para a cultura do amendoim por meio da redução substancial do uso de defensivos para controle dessas doenças, além de impacto importante na redução do custo de produção.
No evento, os presentes tiveram acesso a 15 experimentos de amendoim conduzidos no momento e percorreram as três estações, que correspondem à Experimentação em Plantio na Palha, conduzida pelo pesquisador do IAC, Denizart Bolonhezi, à Experimentação em Melhoramento, orientada pelo pesquisador do IAC, Ignácio José de Godoy, e à Experimentação em Fitossanidade, realizada pelo pesquisador da APTA, Marcos Doniseti Michelotto.
A cultura e a produção do amendoim no Brasil vêm registrando expressivo crescimento em quantidade e qualidade para atender às demandas do mercado interno e para criar oportunidades de oferta do produto no mercado externo. A área plantada com amendoim no Brasil já passa de 200.000 hectares e o estado de São Paulo concentra 90% da produção nacional, sendo que nessas lavouras 80% das cultivares são IAC.
A equipe do IAC e Apta Regional participam ativamente desse crescimento da cultura. As pesquisas aliam qualidade, produtividade e boas práticas ambientais.
Plantio do amendoim na palha
O pesquisador Denizart Bolonhezi explicou que semear na palhada é a melhor estratégia para reduzir os impactos da erosão hídrica, além de diminuir os custos de produção. Isso ocorre porque a semeadura direta na palha conserva maior volume de água no solo, contribuindo para evitar riscos de estresse hídrico nos períodos de veranicos e para armazenar matéria orgânica no solo. “O lastro de conhecimento técnico de mais de 20 anos sobre a viabilidade de semeadura direta de amendoim permite dizer, com certeza, que é o melhor caminho para evitar os riscos de erosão”, diz o pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Essa tecnologia é muito importante para reduzir as perdas de solo por erosão na cultura do amendoim, que são altas. “São estimadas perdas de 5kg de solo para cada quilo de amendoim produzido”, diz. Em sua apresentação foram discutidas as vantagens da semeadura direta, os resultados de trabalhos e as informações sobre a estação instalada no evento, que envolve a aplicação de gesso aplicado sobre a palhada.
Os seus orientados da Pós-Graduação Olavo Betiol e Élcio Rios Perez Leal participaram de sua apresentação ao divulgar os resultados do projeto Método Intercalar de Transplantio de Cana Ocorrendo Simultaneamente (MITOSI) com amendoim na palha. Neste estudo foram observados ganhos de produtividade de 96 sacos, por alqueire, no plantio direto. Esse salto foi obtido sem afetar a produtividade da cana-de-açúcar plantada após a colheita. Haverá também colaboração dos bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPQ), Fábio Fiori Ruiz, Keyciane Barbosa e Letícia Pelicioni Palviqueres, que apresentarão resultados das avaliações realizadas em pesquisas financiadas pela Fundação Agrisus.
Melhoramento e novas cultivares
O pesquisador Ignácio José de Godoy, apresentou os resultados alcançados nos últimos anos do Programa de Melhoramento Genético de Amendoim do IAC, destacando as oito cultivares lançadas nos últimos anos e à disposição dos produtores.
As cultivares IAC ocupam 80% da área plantada em São Paulo e as cultivares IAC 503 e IAC OL3 são as mais plantadas, ocupando cerca de 60% da área.
Em Pindorama, o pesquisador mostrou aos participantes as novas populações de plantas em seleção. Uma das linhas de pesquisa é a seleção de linhagens portadoras de resistência à virose, um problema que vem preocupando os produtores paulistas. “Nesses experimentos, as características a serem incorporadas são o porte rasteiro das plantas, que melhora a eficiência da operação de colheita, a alta produtividade, o alto padrão de qualidade física dos grãos e a maior qualidade química do produto, propiciada pelo maior teor de ácido oleico do óleo, que é bastante demandada pelo mercado”, comenta o pesquisador.
A outra linha do melhoramento genético é a seleção de linhagens com alta resistência às doenças foliares, como a mancha preta e a ferrugem. “O destaque desse trabalho é a resistência a ser obtida a partir de genes presentes em espécies silvestres de amendoim, cuja utilização no melhoramento do amendoim era considerada muito difícil até recentemente”, explica Godoy.
Os trabalhos de melhoramento do programa IAC contam com a colaboração de pesquisadores sediados no IAC em Campinas e nas Unidades do IAC e APTA localizadas em Pindorama, Ribeirão Preto, Votuporanga, Adamantina e Mococa. O sucesso desse programa também se deve à parceria do IAC com 19 empresas da cadeia de produção de amendoim.
Manejo e controle de pragas e doenças
O tema Experimentação em Fitossanidade foi abordado pelo pesquisador Marcos Doniseti Michelotto, que mostrou os experimentos que buscam auxiliar no manejo e controle de pragas e doenças da cultura do amendoim. Michelotto esclarece que o manejo do percevejo-preto é um dos pontos importantes da pesquisa, pois esses insetos ao se alimentarem das vagens ainda no campo, provocam lesões visíveis nos grãos de amendoim, principalmente após a retirada da película, o chamado blancheamento. Essas lesões visíveis impedem a comercialização dos grãos na forma in natura e também a exportação. Nesse caso, o produto acaba destinado a outros fins menos rentáveis.
“Essa pesquisa explora diversas formas de controle, como o uso de tratamento de sementes com inseticidas, avaliação de inseticidas biológicos em pulverização e aspectos relacionados à nutrição das plantas na diminuição dos danos do inseto”, diz Michelotto. O projeto reúne pesquisadores do IAC e do Instituto Biológico (IB-APTA), com apoio financeiro de empresas do setor.
O manejo de virose na cultura do amendoim também foi exposto ao público. O pesquisador divulgou as espécies de tripes que são vetores, a identificação do agente causal e formas de manejo da doença. Para isso, foram instalados experimentos em diferentes locais do estado de São Paulo para avaliação de linhagens de amendoim do Programa Amendoim IAC/APTA, com vistas à resistência à doença. Há também experimentos que avaliam diferentes preparos de solo para plantio do amendoim, como o plantio direto na palha e os reflexos na incidência da doença.
Esse projeto conta com a participação de pesquisadores do IAC, do Instituto Biológico, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) e conta com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da iniciativa privada.
Por Carla Gomes e Mônica Galdino
Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo