Apesar da preocupação dos cafeicultores, a Conab estima que a produção nacional deste ano será a terceira maior da história ? em São Paulo o aumento da safra deve ser de 21,9%
Os combustíveis, da gasolina ao gás de cozinha, lideraram a alta de preços em 2021. Entre os alimentos, o café moído disputou a liderança desse ranking, com aumento superior a 50%. A demanda do consumidor brasileiro por café cresceu na pandemia e os custos de produção aumentaram devido à alta do dólar, mas o que mais impactou no aumento do preço foi a queda na produção do ano passado, em consequência das variações climáticas dos últimos anos.
A redução do volume colhido já era esperada devido à ocorrência de geadas e à seca prolongada. Porém, um relatório da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP), divulgado em dezembro a partir de dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apontou que a queda na produção da safra paulista em 2021 foi ainda maior do que indicavam as estimativas. São Paulo continua na terceira posição dentre os estados que mais produzem café (8,3% da produção nacional), mas em 2021 a produção foi 35,2% inferior em comparação com o ano anterior.
Francisco Sérgio Lange, presidente do Sindicato Rural de Divinolândia e diretor de Sustentabilidade da Associação dos Cafeicultores de Montanha de Divinolândia (APROD) estima que a queda na produção de café naquela região foi de cerca de 20% em relação às colheitas de 2020. Segundo ele, a geada não foi o principal fator, já que Divinolândia é uma cidade com maior altitude, e sim a seca. ?Muitos produtores aqui da região exportam e têm uma produção importante de cafés especiais que sofreu também com o impacto da seca?, diz. Contudo, segundo Lange, mesmo com a falta de chuvas, a produtividade em 2022 deve se manter igual à do ano passado.
O cafeicultor Carlos Nascimento, delegado do Sindicato Rural de Torrinha junto à FAESP, calcula que a produtividade em suas propriedades encolheu 30% em 2021. Segundo ele, muitos produtores da região também tiveram problemas. A queda era esperada, já que 2021 foi um ano de safra baixa, em razão da bienalidade da produção de café – um ano de safra maior é seguido de um período de menor produtividade porque os cafeicultores destinam maiores áreas à formação do que à produção -, mas a estiagem trouxe como resultado uma colheita ainda menor. “A safra também passou por consequências do ano anterior, que não teve muita chuva”, diz ele. “A região de Torrinha ainda sofreu com incêndios, tanto os causados por queimadas quanto acidentais ou mesmo criminosos. Graças a um movimento chamado ‘Amo a Serra, realizado em 2021, as ocorrências diminuíram”, observa.
Nascimento revelou estar preocupado com a colheita da próxima safra, que começa em maio. “O ano de 2021 foi extremamente seco. Passamos praticamente o segundo semestre sem uma gota de chuva, só voltou a chover em novembro. Mesmo no primeiro semestre choveu muito pouco”. E isso deve afetar também a safra de 2022. “Normalmente temos três floradas, e precisamos de chuvas consistentes do final de agosto até o começo de outubro para o café dar a florada”, explica.
Com as precipitações do final de novembro e começo de dezembro, o cafezal começou a responder, com o surgimento de frutos. “Com a intensificação das chuvas agora em janeiro, ficamos um pouco mais animados, porque não esperávamos essa quantidade de frutos. Só que é tudo desigual. Você olha uma fileira de café, aqui na ponta tem, no meio não tem. Têm talhões que tem café, e outros que não têm”, descreve Nascimento. Ele relata ainda que, em setembro do ano passado, houve a ocorrência da chamada “geada negra”, ventos extremamente gelados que deixam a vegetação escurecida, como se a planta tivesse sido queimada – e isso também causará perdas na safra.
Otimismo
Apesar de todas essas adversidades, os cafeicultores têm motivos para se animar, pois a Conab tem expectativas bastante positivas para a safra nacional este ano, devido à bienalidade positiva de 2022. É o que aponta o primeiro levantamento de 2022 divulgado pelo órgão em 18 de janeiro, com uma estimativa que, caso confirmada, representará um aumento de 16,8% na colheita de café este ano em comparação com a 2021: 55,7 milhões de sacas de 60 quilos, a terceira maior safra do grão, abaixo apenas das safras de 2020 e 2018.
No Estado de São Paulo, apesar das variações climáticas de 2021, há perspectiva de melhor produtividade em comparação à safra passada também devido à bienalidade positiva e à recuperação vegetativa dos pés de café. O levantamento da Conab aponta que a estimativa de colheita da safra paulista será superior a 4,88 milhões de sacas, um crescimento de 21,9% em comparação com o ano passado, quando a produção foi de 4 milhões de sacas. Se forem confirmadas as expectativas, será um ano de importante recuperação do setor cafeeiro em nosso Estado.
Outros números do primeiro levantamento da Conab sobre o desempenho da safra brasileira e paulista de café – 2022, podem ser conferidos na íntegra no relatório da FAESP, clicando no arquivo abaixo.
Fonte: FAESP