No cenário do direcionamento da produção de cana-de-açúcar no Brasil destacam-se tecnologias do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. São elas o Sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB) e melhorias para eficiência do uso da água na canavicultura. Os pesquisadores do IAC, Mauro Alexandre Xavier e Regina Célia de Matos Pires, participaram da live “Para qual direção caminha a produção da cana-de-açúcar no Brasil?”, no dia 21 de outubro. O evento, promovido pela Agrishow Experience, também contou com a participação do canavicultor e viveirista, Renato Trevizoli, que adotou o Sistema MPB dentre outras tecnologias com vistas à sustentabilidade na canavicultura.
O encontro virtual ainda abordou as perspectivas do setor e a transferência de pacotes tecnológicos, como as recentes variedades lançadas pelo IAC: IACSP04-6007, IACCTC05-9561 e IACCTC05-2562. “O período médio necessário para o desenvolvimento de novas cultivares de cana varia de 12 a 15 anos. Nosso objetivo é que esses materiais e as tecnologias que os acompanham sejam adotados pelos produtores”, afirma Xavier.
Segundo o pesquisador do IAC, a adoção do Sistema MPB viabilizou o surgimento de viveiristas de cana, algo antes impensado no Brasil. Trevizoli é um desses casos. A partir de treinamentos realizados junto à equipe do Programa Cana IAC, ele obteve certificação pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para fornecimento de mudas com rigor de qualidade e padrão de fitossanidade, conforme o resultado do método MPB. A expansão do Sistema desenvolvido pelo IAC também abriu novas oportunidades nas áreas de insumos e maquinários, já que a indústria precisou atender a esse novo método de plantar cana. Desde 1500, a cana era plantada no Brasil com o uso de toletes – nesse sistema tradicional eram utilizados de 18 a 20 toneladas de toletes para a instalação de um hectare. Com a tecnologia do sistema MPB, esse volume caiu para 2 toneladas por hectare. A redução incorpora sustentabilidade e produtividade ao setor sucroenergético.
A sustentabilidade ambiental do Sistema MPB está em processo de certificação socioambiental a fim de adequar processos, cadeias de valor e produtos às normas reconhecidas internacionalmente. De acordo com Xavier, a certificação insere o Sistema MPB em um novo nível de qualificação, extensiva às atividades dos viveiristas que adotam a produção integrada do método desenvolvido pelo IAC. “Os trâmites devem ser finalizados em dezembro de 2021. A certificação permitirá a rastreabilidades de informações sobre origem, produção e características”, diz Xavier.
O Núcleo de Produção de Mudas do IAC desenvolve tecnologias e as transfere aos produtores e parceiros. Esse público é treinado para adotar os conhecimentos e práticas em seus ambientes de produção. Trevizoli é um dos parceiros do IAC, que produz mudas pré-brotadas em sua empresa, a Agrícola Trevizoli. Para ele, o sistema proporcionou maior previsibilidade aos produtores. “Antes do sistema MPB, nunca sabíamos como era o material de plantio. O MPB disponibiliza diversos materiais para os variados perfis e com maior sanidade”, diz Trevizoli. O viveirista destacou que esse sistema beneficiou os pequenos, médios e grandes produtores, sendo os pequenos o grupo mais favorecido, pois o MPB permite um ganho de produção que os mantém no setor.
Água na canavicultura
O uso racional da água na cultura da cana-de-açúcar foi o tema tratado pela pesquisadora do IAC, Regina Célia de Matos Pires. No cenário climático, dentre as principais questões destaca-se deficiência hídrica, considerando a intensidade, duração e época de ocorrência. De acordo com a pesquisadora, o crescimento e a produção da cana são favorecidos por boa disponibilidade de radiação e temperatura, desde que existam disponibilidade de água e de nutrientes no solo. A cientista destacou a importância de variedades de cana-de-açúcar adaptadas para as diversas áreas brasileiras, como as desenvolvidas pelo IAC. Ela também ressaltou a relevância de pesquisas relacionadas ao uso racional da água uso e ao de previsões climáticas, que auxiliam o manejo dos canaviais, e apresentou os métodos de irrigação e tecnologias para manejo da água.
Dentre os benefícios da irrigação para a canavicultura, estão o aumento de produtividade, da longevidade do canavial, a segurança de produção relacionada ao déficit hídrico e a possibilidade de melhoria dos atributos qualitativos, além da aplicação de vinhaça. “Em nossos estudos observamos o aumento da produtividade comparando a áreas não irrigadas, mas é fundamental recorrer a sistemas eficientes garantir boa produtividade, mas com sustentabilidade, considerando que a água é um recurso natural que toda a sociedade necessita”, afirma.
Por Carla Gomes
Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo