Técnicos da CATI/CDRS e da CDA e produtores de banana do Estado de São Paulo estão sendo treinados para lidar com a doença que promete comprometer a bananicultura nacional.
As notícias sobre o surgimento de uma nova raça do fungo que causa a fusariose em bananeiras e que pode levar à completa inviabilização da cultura já corre solta pelo País há algum tempo entre pesquisadores, técnicos e produtores; afinal, a banana é símbolo do Brasil e está presente em maior ou menor escala em todo o território nacional e na mesa dos brasileiros. Desde que os estragos causados em outros países e continentes produtores aconteceram ─ Indonésia e Malásia (1990), China (1996), Filipinas (2008), África (2013) e Austrália ─ e a doença chegou à América do Sul ─ Colômbia (2019) e Peru (2021) ─ os piores rumores e, certamente o receio, aumentaram em relação à praga quarentenária causada pelo fungo Fusarium oxysporium f. sp. cubense – Raça 4 Tropical (Foc R4T), praga até então ausente no Brasil.
A boa notícia é que a fusariose Raça 4 Tropical ainda não chegou ao Brasil, sendo possível estar atento e detectar rapidamente os primeiros focos e promover o isolamento da área antes que possa tomar maiores proporções. É este o trabalho que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), por intermédio da Superintendência Federal de Agricultura (SFA), vem fazendo junto às regiões produtoras do Brasil, São Paulo entre elas, com o indispensável apoio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), via Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) e Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CATI/CDRS), para levar aos produtores paulistas todas as informações necessárias.
“O importante é não gerar pânico entre os produtores, mas sim deixá-los seguros quanto ao trabalho que vem sendo feito em várias regiões produtoras do Estado de São Paulo, com levantamentos periódicos e um calendário de treinamentos para a detecção da doença, tanto por parte de técnicos quanto de produtores”, argumenta o engenheiro agrônomo e fitopatologista Wilson Moraes,(SFA-SP/UTRA Ipanema), que participa da equipe responsável, desde 2019, pelos levantamentos feitos a campo no Estado de São Paulo, comprovando tratar-se de área livre. “Trata-se de uma praga quarentenária ausente no Brasil, porém já dizimou bananais na Ásia e África e foi constatada na América do Sul – Colômbia (2019) e Peru (2021) – porém no lado do Oceano Pacífico e não na fronteira amazônica, divisa com nosso País, o que nos dá uma certa vantagem em questão de tempo, mas certamente, de acordo com os especialistas, chegará ao Brasil em algum momento”, avalia Moraes.
Por esse motivo, é preciso que os produtores rurais estejam preparados e que os extensionistas os incentivem a fazer as ações de prevenção, como a adoção de tratos culturais e práticas agrícolas adequadas, paralelamente é preciso capacitar os técnicos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento para que possam identificar se é esta fusariose específica, entre outras já conhecidas, que atacam os bananais e também diferenciar de outras doenças que atacam os bananais e têm sintomas iniciais similares. Caso comprovada a ocorrência ─ o que é feito exclusivamente por técnicos da SFA e da CDA ─ serão adotados os procedimentos adequados para a coleta, o acondicionamento e envio de amostras para diagnóstico em laboratório credenciado pelo MAPA. “A rápida identificação de focos iniciais ajudam na adoção de medidas de contenção e podem evitar a disseminação da doença e o treinamento é essencial para que possamos agir e isolar o local o mais rápido possível, caso haja comprovação”, afirma Wilson
Moraes, um dos palestrantes dos treinamentos que estão sendo feitos em diversas localidades como na região de Ubatuba, no Litoral Norte; São Bento do Sapucaí, na Serra da Mantiqueira; Taubaté, no Vale do Paraíba; e em 10 municípios do Vale do Ribeira, principal região produtora de banana no Estado de São Paulo.
Wilson Moraes tem sido também o principal responsável pelo levantamento de campo do Foc R4T no Estado, coletando amostras em localidades diversas, em especial em bananeiras da variedade do tipo Cavendish, entre elas a Nanica, Nanicão, Grande Naine, William, Valery, entre outras, consideradas mais suscetíveis e com maior probabilidade de ataque da raça 4 Tropical. “Nesses levantamentos temos concluído que, até o momento, São Paulo é área livre da ocorrência”, tranquiliza Moraes. Também não há, até o momento, registros dessa praga em nenhuma outra localidade do solo brasileiro. A principal preocupação é com as variedades do tipo Cavendish, como a Nanica, por ser resistente às outras raças de fusarioses que atacaram tempos atrás as variedades Maçã e Prata, inviabilizando o cultivo destas variedades em diversos estados brasilerios. Os pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa – unidade Cruz das Almas, Bahia) têm feito uma corrida contra o tempo para conseguir variedades resistentes também à Foc R4T, fungo habitante do solo que produz uma estrutura de resistência, permanecendo viável por mais de 30 anos.
O vídeo técnico com a explanação a campo do fitopatologista Wilson Moraes em área experimental de bananal da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) Pariquera-Açú também pode ser acessado pelo link https://www.youtube.com/watch?v=JO5D-qQ7G7I
Treinamento, divulgação e fiscalização são as principais ferramentas para o combate à doença
Segundo os especialistas, uma das práticas mais importantes é a realização de novos plantios com mudas micropropagadas provenientes de laboratórios credenciados junto ao MAPA e não aceitar mudas de bananeira sem conhecer a procedência, pois geralmente é dessa forma − e também por intermédio dos veículos, equipamentos e pessoas que carregam terra contaminada na sola de sapatos e nas roupas − que se dá a disseminação das principais doenças fúngicas. A engenheira agrônoma Maristela Neves da Conceição, diretora do Escritório de Defesa Agropecuária (EDA) de Registro, principal área de produção de bananas do Estado de São Paulo, reafirma a importância da parceria, principalmente entre os técnicos das Casas da Agricultura, da Defesa Agropecuária e das prefeituras, para que os focos iniciais possam ser identificados o mais rápido possível. “Contamos com os técnicos da CATI/CDRS e das prefeituras para esse trabalho conjunto de conscientização dos produtores, porque a introdução dessa doença pode ocorrer pelas pessoas envolvidas na atividade, sendo, portanto, fundamental uma ação educativa preventiva”, afirma Maristela.
Por isso, o trabalho do engenheiro agrônomo Agnaldo José de Oliveira, da Casa da Agricultura de Jacupiranga, tem sido fundamental. Tendo nascido, e vivendo e trabalhando na região de Registro há vários anos, Agnaldo é referência quando se trata de bananas. “A característica da região é de cultivo de banana praticado essencialmente pela agricultura familiar em pequenas áreas, que somadas se tornam a maior área de produção do Estado. Estamos orientando, repassando os cuidados a serem tomados com a disseminação da doença na tentativa de retardar ao máximo a chegada desse fungo, o qual pode permanecer no solo por mais de 30 anos, ataca todas as variedades de banana
e poderá inviabilizar totalmente a atividade. Pelas características da região, onde a banana convive com as áreas de pupunha, é preciso estar alerta também para que as mudas de pupunha produzidas a partir de sementes provenientes do Peru não venham com terra contaminada aderida às sementes. Por isso, é essencial que somente sejam adquiridas mudas de pupunha de viveiros credenciados e fiscalizados pela CDA”, alerta o técnico.
O primeiro treinamento voltado aos técnicos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento foi realizado no dia 11 de agosto, em ambiente virtual. A abertura da capacitação foi feita pelos coordenadores da CATI/CDRS, Alexandre Grassi, e da CDA, Luís Fernando Bianco, contando com a participação de 200 técnicos de ambas as coordenadorias envolvidos com a cadeia da fruticultura. Nesse segundo treinamento, realizado em Miracatu, Juquiá e Registro, o objetivo foi divulgar e treinar os produtores do Vale do Ribeira e, para isso, foram organizadas capacitações com a parceria de associações e cooperativas da região, como a Associação de Bananicultores de Miracatu (Abam) e Associação de Bananicultores de Registro (Abavar), esta última com cerca de 500 associados, um número que vem crescendo segundo o presidente da entidade, Ézio Carlos Borges, e o diretor de marketing e exportação, Sílvio Romão, que organizaram o encontro ocorrido no dia 25 de agosto, em Registro.
O produtor Edson Akira Hazome Hayashi tem em Sete Barras 35ha das variedades Prata e Nanica e vem acompanhando o desenvolvimento da doença desde que surgiu na Ásia. Engenheiro agrônomo por formação, o produtor está preocupado com a chegada dessa raça do fungo na América e considera importantes as parcerias com as instituições governamentais, associações e cooperativas, para que as informações possam chegar ao maior número de produtores. Já a produtora Kassiana Otoboni, de Pariquera-Açu, tem o sonho de tornar a sua marca “Fulana Banana” conhecida por ser uma marca gourmet. Kassiana e o marido moram na propriedade e passaram a investir há pouco tempo: “Nem fizemos ainda a primeira colheita, instalamos o bananal em janeiro e, hoje, na verdade, vim me associar à Abavar, para estar por dentro de todas as informações, pois estou investindo na nossa marca”, afirmou a produtora.
A palestra de Wilson Moraes, feita de forma presencial, foi seguida pela palestra on-line de Juliana Ribeiro Alexandre, também do MAPA, que reforçou: “É preciso prevenir para combater, pois não existem medidas curativas; esperamos tornar, com estes treinamentos, os produtores em multiplicadores dessas informações, para que venham a alcançar o maior número possível de produtores”. Em seguida, a palestra de Juliana do Amaral Moreira, membro da Comissão de Educação Sanitária da Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Estado de São Paulo (CES-SFA-SP), teve o intuito de divulgar o material virtual da Série Diálogos, produzido por uma equipe multidisciplinar de 17 profissionais de 12 organizações, entre eles professores, jornalistas e técnicos de diversos órgãos, MAPA, CATI/CDRS e CDA, para ser amplamente utilizado. “O livro é, na verdade, uma caixa de ferramentas com uma série de materiais didáticos, caracteriza-se por ser muito interativo, sugere ações e ações combinadas, tem variados materiais para serem impressos, veiculado em sites, redes sociais e diversas mídias, para que venha a atingir todo tipo de público”, contou Juliana.
O livro pode ser encontrado em https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sustentabilidade/cesesp/publicacoes/livros/dialogos-prevencao-da-fusariose-em-bananeiras/view.
“Os livros da “Série Diálogos produzidos pela CES-SFA-SP possuem uma grande fortaleza que é a união de pessoas vindas de várias organizações. A diversidade de olhares e posicionamentos enriquecem e apresentam várias possibilidades de caminhos comunicacionais, como as redes sociais das pessoas que vivem e trabalham no campo. Esses caminhos são ofertados nos livros Diálogos, como uma forma de ensino-aprendizagem participativa para os técnicos trabalharem os conteúdos junto aos seus mais variados públicos nos territórios rurais”, reforça o Professor Luiz Fernando Soares Zuin, da Universidade de São Paulo (USP) e um dos principais articuladores da equipe que produziu o livro virtual “Diálogos para Prevenção da Raça 4 Tropical da Fusariose em Bananeira” e que já há alguns anos vem trabalhando junto aos técnicos da CATI/CDRS em outras ações, entre elas a série de podcasts sobre biossegurança voltados aos produtores rurais das mais significativas cadeias produtivas do Estado de São Paulo. Um trabalho feito em parceria com a CATI/CDRS no início da pandemia, em 2020.
https://youtube.com/watch?v=uACf_uHVZJs%3Ffeature%3Doembed
Graça Moreira D’Auria – jornalista – mgdauria@sp.gov.br
Centro de Comunicação Rural (Cecor – CATI/CDRS-SAA)
Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo