Unindo pesquisa científica, extensão rural e atividades de ensino, projeto quer transformar propriedade de Areias em modelo de produção sustentável a ser multiplicado
A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, está iniciando um projeto de pesquisa que busca trazer um olhar ampliado sobre a propriedade rural. Através da adoção das chamadas práticas integrativas, o trabalho busca implementar uma “propriedade rural modelo”, onde produção e preservação ambiental dividem espaço e possibilitam renda e dignidade ao produtor.
“Quando falamos em práticas integrativas, estamos olhando a propriedade como um sistema”, diz a pesquisadora da APTA Regional de Pindamonhangaba Karla Conceição Pereira. Conforme explica, isso significa que é preciso levar em consideração tanto os aspectos produtivos quanto os ambientais, sociais e culturais de cada propriedade, respeitando as particularidades de cada uma. Com essa visão sistêmica, a pesquisadora conta que primeiro implementou essa metodologia no sul do país, e depois aumentou a escala para uma pequena propriedade em Guararema. Com o novo projeto, que terá a duração de 3 anos, o plano é aprofundar e expandir o conceito, desta vez em uma propriedade de Areias, no Vale do Paraíba. “Dentro dessa perspectiva, levamos para a propriedade a pesquisa, que é o que fazemos aqui na APTA, mas também a extensão rural e o ensino, integrados com esse sistema que é a propriedade rural”, complementa Karla. Para essa empreitada, a pesquisadora da APTA Regional conta com financiamento do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro) e com a parceria da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (Cdrs/Cati), da Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag) e de universidades da região. “No trabalho inicial, em Guararema, contamos com a participação da USP-Lorena. Na nova etapa, em Areias, a parceria será com a Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp)”, menciona.
De acordo com a especialista, o que se propõe é que o projeto se torne um modelo de propriedade rural, com produção e conservação de recursos naturais. Os objetivos são ambiciosos, mas bastante reais. “Queremos levar a propriedade de agricultura familiar a uma produção animal e vegetal mais adequada em termos de boas práticas, realizando a conservação ambiental e, por vezes, a recuperação de áreas já degradadas”, explica Karla. Com isso, a meta é possibilitar a adequação ambiental da propriedade, abrangendo a questão das Áreas de Preservação Permanente (APP) e o respeito ao Código Florestal, e valorizando, no processo, os saberes dos pequenos produtores. “Queremos fazer um resgate de todo um conjunto de técnicas que a extensão rural abrange, ampliando para a questão da sustentabilidade no sentido econômico, social e ambiental e buscando segurança hídrica e segurança alimentar”, enfatiza.
Abordagem ampla
Em meio a todo o trabalho de assessoria ao produtor com a extensão rural, Karla diz que o intuito é gerar muita informação de pesquisa, essencial para melhor compreender as dinâmicas ambientais e produtivas da atividade agrícola na região. “Vai ter pesquisa científica em relação à recuperação das nascentes, sistemas produtivos e agroflorestais, o desenvolvimento da vegetação nativa e a produção de água que vai ser possibilitada através dessa recuperação. Isso junto com a melhoria na produção animal, a gestão da propriedade, o manejo de resíduos sólidos, o saneamento e a educação ambiental”, enumera a pesquisadora. “Trata-se tanto de pesquisa básica quanto de pesquisa aplicada”, emenda. Um fator importante levantado pela especialista, é o fato de a propriedade escolhida apresentar todas as características típicas de uma micro bacia hidrográfica, servindo como um modelo adequado de estudo para o Vale do Paraíba. “É preciso identificar os potenciais da propriedade rural, as áreas que podem ser utilizadas para produção, como uso e ocupação, e as que precisam ser conservadas, ou seja, as potencialidades e também as vulnerabilidades”, comenta a pesquisadora da APTA Regional.
O outro elemento desse tripé, conforme mencionado por Karla, é o ensino. A interação dos estudantes (de graduação e cursos técnicos) com o agricultor representa, na opinião da especialista, uma troca riquíssima entre academia e conhecimento tradicional e prático. “Vamos trazer os alunos das áreas de agrárias e ambientais, que tem conhecimento de tecnologias modernas e tem bastante vontade de aprender e de contribuir, e, às vezes, eles observam alguma coisa que a gente não conseguiu enxergar na propriedade na qual estamos trabalhando”, defende Karla. “O próprio contato deles com os produtores rurais é muito interessante, porque é o encontro entre a experiência, de um lado, e a novidade, a inovação, de outro”, continua.
Vantagens para o produtor e para a sociedade
Quais seriam as vantagens em se empregar as práticas integrativas na propriedade? Na opinião da pesquisadora, elas vão muito além das financeiras. Adotando as práticas, opina, o produtor vai diminuir danos e a degradação de sua propriedade, por exemplo diminuindo a erosão do solo, o que possibilita aumento na produtividade e preservação dos recursos naturais. “Vai permitir que ele busque a sustentabilidade da sua propriedade, possibilitando a viabilidade econômica e permitindo que se possa conservar e restaurar áreas degradadas ambientalmente. O produtor vai estar otimizando suas potencialidades e mitigando seus riscos e vulnerabilidades”, resume a especialista. De acordo com ela, isso favorece a manutenção do agricultor e sua família na atividade rural, o que traz benefícios sociais e o fortalecimento cultural. “Buscamos fazer com que mais pessoas fiquem no meio rural, pois é ele que mantém o todo, produzindo os bens e serviços que nós precisamos”, detalha Karla, lembrando ainda da importância de se resgatar e valorizar a cultura rural. “Isso é sustentabilidade: o equilíbrio do aspecto econômico, social, ambiental e cultural”, complementa.
Por fim, o projeto não perde de vista a capacitação, o turismo rural como forma de incrementar a renda, as parcerias institucionais e o cenário global, e buscará atuar em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pelas Nações Unidas. “Nós vamos trabalhar os ODS, junto com alguns parceiros, abordando a importância de o município desenvolver e aplicar recursos nesse sentido”, finaliza a pesquisadora.
Por Gustavo Almeida
Assessor de Imprensa da APTA
Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo