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Superciclo de commodities e os mercados futuros

Normalmente, muitos dos que leem os artigos aqui deste espaço são investidores que se interessam por mercados em geral, incluindo os futuros. Vamos conversar um pouco sobre eles, e o que eventualmente têm a ver com o tal superciclo de commodities que muitos analistas vêm enxergando acontecer (discordo!), com petróleo a US$ 70/barril, minério de ferro a US$ 200/ton e cobre a US$ 10 mil/ton.

Mercados futuros surgiram há alguns séculos e são indispensáveis para o bom funcionamento da economia. Eles podem ajudar os agentes econômicos a se protegerem (hedge) contra riscos associados às variações de preços. Podem, também, permitir que os especuladores atuem, especialmente por fornecerem o seguro que os hedgers estão à procura, lucrando com isso. Existe uma terceira possibilidade, muito menos conhecida, que é a arbitragem entre o mercado spot (à vista) e os futuros.

Antes de irmos adiante, é preciso entender a composição do preço de um futuro (PF). Explicando para um leigo, ele é composto pelo próprio preço do ativo ou mercadoria à vista (PV), acrescido do custo do dinheiro, que é a remuneração pela taxa de juros, entre a data presente e aquela do vencimento, sobre PV (J), mais um prêmio de risco pela incerteza futura (R), além de custos associados (C), como o de armazenagem, seguros etc, nos casos que exijam tais precauções. Se fosse colocar em uma expressão matemática seria:

PF = PV + J + R + C

Indo adiante, a diferença entre o preço à vista (PV) e o preço futuro (PF) é conhecida como base (B). No dia do vencimento do contrato futuro, B é igual a zero, pois os preços do futuro e os preços à vista são iguais, já que as demais parcelas são zero, por inexistirem.

Muitos aqui hão de supor que B sempre será negativo, pois a tendência é que o preço futuro seja superior ao preço à vista. Essa situação (a mais comum) é chamada de backwardation ou “em carrego”. Porém, existe o caso onde B será positivo, quando o preço a vista é maior do que o futuro. Nessa forma, temos uma situação conhecida como contango. Normalmente tal comportamento decorre de demanda fraca a médio prazo e/ou fatores sazonais.

Como dito, o mais comum é verificarmos base negativa, admitindo que a taxa de juro, o prêmio pelo risco e custos sejam maiores que zero. Todavia, existem situações de contango e, uma delas, pode estar ocorrendo agora no minério.

Recentemente, os preços de algumas commodities vêm oscilando muito fortemente. Faz alguns dias, os contratos futuros do minério de ferro, depois de altas expressivas, desabaram mais de 10% em Cingapura à medida em que as autoridades chinesas buscavam formas de tirarem o fôlego dos preços, pelo medo de inflação à porta. Os metais básicos também estiveram sob pressão nessa mesma época, com o cobre caindo 5% em relação ao recorde estabelecido em meados de maio.

Algumas commodities estão entre as campeãs de alta nos preços, basicamente pelas medidas de ajuda expansionistas na pandemia, promovidas tanto na China quanto nos EUA, para estimular suas demandas. Ademais, com o governo Biden, mais “green”, tentando acelerar o movimento global de descarbonização, algumas se favorecem, caso do cobre no Chile, onde energia solar e eólica estavam abastacendo fábricas que processam o metal extraído. Sem contar o imbróglio de trabalhadores por lá, que afeta a produção e faz os preços subirem.

Como já comentei aqui em outros textos, sou descrente dessa ideia de um superciclo. Não farei cara feia, contudo, para altas de curto prazo, como as atuais. No minério de ferro, temos motivos de sobra, inclusive a pendenga entre chineses e australianos.

Porém, a tendência no longo prazo é de acomodação em patamares inferiores, em minha visão. No petróleo é ainda pior, com a ideia de energia limpa vigorando. Assim, não creio razoável uma alta perene, tal qual ocorrera entre 1999 e 2009, que catapultou o CRB commodity index em mais de 450% – esse, sim, um superciclo consistente.

Na sexta-feira, quando escrevi este texto, o contango no minério de ferro na bolsa DCE (Dalian Commodity Exchange) para o contrato de maio de 2022 representava 277 iuanes/ton (aproximadamente US$ 43 a menor). Desconfio que esse comportamento não seja por sazonalidade. De qualquer forma, preços de commodities elevados são favoráveis à nossa pauta de exportação, o que é positivo para o PIB deste ano.

Por Alexandre Espirito Santo, Economista-Chefe da Órama e prof. IBMEC-RJ

Fonte: Valor Investe

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