Embora os investimentos em rodovias e no transporte multimodal de grãos venham aumentando no País, as perdas de soja e milho relacionadas às atividades logísticas continuam a ceifar parte dos lucros de produtores e tradings. Em 2020, caíram pelas estradas e esteiras transportadoras 1.58 milhão de toneladas de soja e 1.34 milhão de toneladas de milho, segundo levantamento do engenheiro agrônomo Thiago Guilherme Péra, coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (EsalqLog).
Em termos percentuais, as perdas, de 1,17% da produção da soja e de 1,27% do milho, são pequenas, mas elas corresponderam, respectivamente, a R$ 3.19 bilhões e R$ 1.31 bilhão nessas culturas.
Os cálculos de Péra quantificam perdas físicas nos transportes rodoviário, multimodal ferroviário (integração de rodovia e ferrovia), multimodal hidroviário, armazenagem, portos e transporte rural das fazendas aos armazéns. “Nos EUA, as perdas são praticamente inexistentes. Então, podemos falar de um grande desperdício no Brasil pela falta de cuidados”, disse.
Segundo ele, em volume, as perdas têm aumentado desde 2010, em linha com o aumento da produção, mas, em termos relativos, há estabilidade, com percentuais de 1,17% a 1,25% ao ano.
Um dos maiores vilões do desperdício é o transporte do campo até os armazéns localizados fora das fazendas. “A necessidade de levar os grãos em caminhões, na maior parte das vezes em estradas não pavimentas e em condições precárias, faz cair muita soja e milho. Mas também há perdas no armazém”, disse o pesquisador.
No caso do milho, 61,59% das perdas foram causadas pela necessidade de armazenagem, seguida pelas perdas nas rodovias (12,20%), no transporte multimodal ferroviário (8,69%), no transporte rural da fazenda ao armazém (6,50%), nos portos (6,41%) e no multimodal hidroviário (4,54%).
Para a soja, a armazenagem foi responsável por 52,30% das perdas, seguida pelas perdas nos portos (13,10%), no transporte rodoviário (12,70%), no transporte multimodal ferroviário (11,30%), no transporte rural das fazendas aos armazéns (5,50%) e no transporte multimodal hidroviário (5%).
“Quando pensamos no custo para exportar grãos, o uso de multimodais é vantajoso, mas cada troca de lugar das cargas é um fator de perda”, disse Péra.
Na armazenagem, as correias transportadoras não fechadas permitem o desperdício de grãos, o que não acontece nos EUA, onde os corredores de transporte são fechados. Além disso, 70% dos produtores do “Corn Belt” americano têm armazéns dentro da fazenda; no Brasil esse percentual é inferior a 15%. Nos EUA, os caminhões também são mais novos e fechados, e o descarregamento é por baixo dos veículos, sem falar que as rodovias americanas, mesmo as menores estradas rurais, costumam ser pavimentadas.
“As perdas não são só culpa das estradas, como se imagina, e também não chegam a 30%, como se aventou no passado”, disse Péra. Para o pesquisador, os gestores de transporte e armazenagem precisam criar políticas para mitigar as perdas. A melhoria das estradas vicinais e rurais e a implantação de sistemas fechados de descarregamento também podem reduzir o desperdício.
Fonte: Sociedade Nacional de Agricultura