Novo governo dos EUA promete estimular biocombustíveis e reverter políticas pró-petróleo de Trump
A agenda ambiental do novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deve abrir oportunidades para o setor de etanol no Brasil, que vê a possibilidade de um forte aumento de demanda pelo produto na maior economia global.
Biden deve lançar novas metas de redução de CO2 e prometeu rever políticas do ex-presidente Donald Trump na área de energia. Existe ainda a expectativa que o governo dos EUA invista para possibilitar o aumento da mistura de etanol na gasolina.
“A gente sabe que uma redução de emissão de CO2 passa pela modificação do setor de transportes nos EUA”, avalia o presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, André Rocha. “Vemos a oportunidade de uma agenda importante do setor de biocombustíveis nos EUA”.
Biden tem prometido uma agenda ambiciosa nos biocombustíveis e no combate ao aquecimento global.
O governo americano deve apresentar, em uma cúpula em 22 de abril, suas novas metas de descarbonização, conhecidas como NDCs (contribuições nacionais determinadas, na sigla em inglês).
Para além disso, a administração do democrata já se declarou contrária à concessão de dispensas especiais que refinarias têm recebido para não precisarem misturar biocombustível na gasolina e no diesel.
Essas dispensas foram estimuladas por Trump e influenciam nos baixos índices de mistura que existem nos Estados Unidos.
O regime está em análise na Justiça do país, mas o fato de o governo ter declarado sua posição é visto como uma vitória para as cadeias do biodiesel e do etanol.
Nos EUA, a maioria da gasolina comercializada não excede uma mistura de 10% de etanol.
O setor de biocombustíveis pressiona o governo Biden a investir para aumentar a oferta de gasolina com uma proporção de 15% de etanol, o que representaria um boom na procura pelo produto.
O governo Bolsonaro foi avisado por produtores nacionais que a ampla utilização de uma gasolina com 15% de etanol nos EUA corresponderia a um mercado adicional equivalente à quase totalidade do consumo no Brasil. No país, a mistura obrigatória é de ao menos 25% e existe há anos um programa de veículos flex.
Embora os EUA sejam o maior produtor do mundo de etanol – fabricado a partir do milho, ao contrário da cana-de-açúcar brasileira – e que exista um alto excedente no país, lideranças do setor no Brasil consideram que parte da procura deverá ser suprida pelo mercado internacional.
O Brasil é o segundo maior fabricante de álcool combustível no mundo. Os dois países representam cerca de 80% da produção global.
As expectativas não levam em conta apenas um possível aumento de demanda. O etanol de cana-de-açúcar tem uma melhor pontuação do que o de milho em relação à redução de emissões de CO2.
O presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Evandro Gussi, opina que mais importante do que as perspectivas para o setor nos EUA é o fortalecimento da ideia de que o etanol terá um papel importante na luta contra o aquecimento global. “O etanol está se consolidando como um agente da descarbonização”, diz Gussi.
Ele lembra que o Reino Unido anunciou na quinta-feira (25) a implantação de uma mistura de 10% do etanol na gasolina do país a partir de 2021. Além do mais, a Índia antecipou em cinco anos a sua meta de adicionar 20% de etanol na gasolina. O novo objetivo é alcançar a mistura até 2025.
O otimismo do setor com a mudança de ares nos Estados Unidos contrasta com o período do ex-presidente Donald Trump.
Ao longo de seu mandato, o republicano adotou políticas para impedir o aumento da mistura de biocombustíveis na gasolina.
Além do mais, em 2020 o governo Trump fez forte pressão para o Brasil aumentar suas cotas de importação do etanol americano produzido a partir do milho. O movimento de Washington enfrentou resistência do setor nacional, golpeado pela pandemia do coronavírus e pela redução no preço da gasolina observada em meados do ano passado.
Próximo a Trump, o presidente Jair Bolsonaro aceitou elevar as cotas de importação de etanol livre de tarifa.
Os acenos ao americano incluíram a renovação da cota em setembro de 2020, por apenas três meses, no que foi atendido como uma tentativa de Bolsonaro de beneficiar a campanha pela reeleição de Trump.
Por Ricardo Della Coletta
Fonte: Folha de S. Paulo