Mesmo assim, preço final do produto nos postos está 27,4% abaixo da média mundial
O Brasil foi um dos países onde o preço do óleo diesel vendido nos postos mais subiu desde outubro do ano passado, em um ranking com outros seis grandes consumidores de combustíveis – Alemanha, Áustria, Dinamarca, Estados Unidos, França e Reino Unido. A liderança do ranking seria brasileira, não fossem os sucessivos reajustes de preços da Alemanha desde o fim de 2020.
A informação faz parte de estudo do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep), que avalia o que os países estão fazendo para lidar com a recuperação das cotações internacionais do petróleo, matéria-prima do diesel, em meio à crise causada pela covid-19.
Embora o preço final do diesel nos postos no Brasil esteja abaixo do praticado internacionalmente – 27,4% abaixo da média mundial, segundo a Petrobras –, os reajustes recentes causam insatisfação entre os caminhoneiros.
Segundo o estudo do Ineep, na primeira semana deste mês, o diesel ficou mais caro em seis dos sete países analisados. A exceção foi o Reino Unido, que tem demorado mais tempo para registrar novos ajustes. No Brasil, a alta foi de 2,48%, em comparação com a primeira semana de dezembro.
Já no quarto trimestre do ano passado, quando o petróleo voltou a subir nas cotações globais, Alemanha (17,43%), Brasil (12,78%) e Estados Unidos (10,39%) foram os que mais reajustaram os preços do diesel.
Em comum, os sete países têm a prática de revisar seus valores à medida que a cotação do petróleo sobe. Eles se diferenciam, porém, na forma como repassam essas altas ao consumidor final.
A Alemanha não produz petróleo e importa parte dos derivados consumidos pela sua população. Por isso, escolhe repassar aos consumidores a volatilidade do preço internacional.
A Dinamarca é produtora e aproveita o ganho de receita no período de alta da matéria-prima para formar um fundo e compensar empresas petrolíferas por represarem seus preços. Assim, tenta blindar seus consumidores das oscilações externas. Por sua vez, a Áustria possui um regime fiscal que permite reduzir os tributos quando o petróleo está valorizado.
Já o Brasil, embora seja produtor, opta por seguir as oscilações externas, assim como a Alemanha, e não utiliza nenhuma ferramenta fiscal, como a Dinamarca e a Áustria, para minimizar os impactos à população.
“Momentos de alta, como o atual, podem ser benéficos para a Petrobras, porque, com o aumento do valor do petróleo no mercado internacional, a empresa acumula mais receita. Mas, ao repassar esse valor integralmente para o mercado interno, ela gera um sério problema para a cadeia que depende dos insumos de petróleo”, afirma o pesquisador Rafael Rodrigues da Costa, do Ineep, também responsável pelo estudo.
A Petrobras tem sido pressionada por conta dos recentes aumentos de preços dos seus combustíveis, principalmente do diesel. De um lado, caminhoneiros, que têm o diesel como uma das suas principais fontes de custo, reclamam que o produto está caro. De outro, importadores recorreram ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para reclamar dos valores praticados pela companhia, segundo eles, abaixo do mercado internacional, o que impediria a concorrência.
A empresa, por meio de sua assessoria de imprensa, afirma que, ao formular os preços em suas refinarias, considera cotações internacionais, custos de importação e câmbio. Diz também que a quantia paga pelo consumidor final é resultado das políticas de preços seguidas por ela e por outros agentes comercializadores, sobre os quais não tem ingerência.
Fernanda Nunes e Denise Luna
Fonte: O Estado de S. Paulo