Mesmo com restaurantes, cinemas e estádios esportivos fechados, as pessoas continuaram devorando açúcar
Com o entusiasmo por bolos e biscoitos caseiros, os diferentes auxílios emergenciais pelo mundo e o acúmulo de estoques, a demanda global por açúcar foi muito forte na última temporada, contrariando as projeções de alguns dos maiores comerciantes do produto no mundo. E o consumo deve se recuperar para um recorde na temporada anual iniciada em outubro, de acordo com, diretor da firma australiana de pesquisas Green Pool Commodity Specialists, Tom McNeill.
É um contraste com o que se falava nas fases iniciais da crise do coronavírus, quando medidas de isolamento de Paris a Los Angeles abalaram as vendas de serviços e produtos de toda natureza, incluindo refrigerantes e chocolates. As pessoas se adaptaram à vida pandêmica, as transferências governamentais em países como EUA e Brasil sustentaram as compras nos supermercados e as nações importadoras da Ásia fizeram estoques para se precaver de interrupções nos embarques.
Medir o consumo de açúcar é incrivelmente difícil e os comerciantes só têm noção do que que realmente aconteceu quando os dados são calculados, geralmente com bastante defasagem. A Green Pool chegou a projetar queda da demanda em 1 milhão de toneladas e agora prevê recuo de apenas 100 mil toneladas. Já a ED&F Man Holdings calcula que a demanda caiu menos de 1%, comparado a uma projeção anterior de 2%, disse Rodrigo Ostanello, que comanda a corretora no Brasil.
Com a reabertura das economias e a chegada das vacinas, a demanda por açúcar está se recuperando, mas isso ocorre em um momento em que a produção no Brasil, União Europeia e Tailândia sofre pressões. A situação provocou alta de mais de 70% nos contratos futuros de açúcar negociados em Nova York desde as mínimas atingidas em abril. Após a primeira queda no consumo em 40 anos, a corretora Czarnikow Group prevê aumento de 2%, o Citigroup estima avanço de 0,9% e o JPMorgan Chase espera crescimento de 1%.
Ásia e África lideram o movimento, enquanto a projeção é de pouca variação na demanda nos EUA e Europa, segundo o analista Ruhani Aggarwal, do JPMorgan na Índia. Indonésia e China estão compondo estoques para lidar com possíveis interrupções nas cadeias de suprimentos, de forma que os governos procuram manter reservas amplas.
Mas o fato é que a crise ainda não acabou e muitos países da Europa recentemente entraram no terceiro lockdown. Na União Europeia, o consumo vinha caindo à medida que a população cortava o açúcar por motivos de saúde, uma vez que o bloco não tem a mesma cultura de delivery e drive thrus comparado aos EUA. No Brasil, o programa de auxílio emergencial ajudou usinas locais a vender 4,6% mais açúcar no mercado doméstico entre janeiro e novembro, na comparação com um ano antes, após uma década de crescimento baixo ou negativo, de acordo com dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
O consumo ainda pode aumentar este ano já que uma recuperação econômica generalizada mais do que compensaria o potencial encerramento do programa de auxílio do governo, acredita Ricardo Carvalho, da área comercial da BP Bunge Bioenergia, uma das maiores produtoras de açúcar do país.
No maior consumidor mundial, a Índia, a expectativa é que as compras avancem em até 1 milhão de toneladas nesta temporada, de acordo com o diretor administrativo da corretora agrícola Meir Commodities, Rahil Shaikh.
“O açúcar é um produto energético barato e, durante o isolamento, as pessoas fizeram mais bolos em casa e tomaram mais bebidas açucaradas”, disse odiretor da corretora Sucres et Denrees no Brasil, Jeremy Austin.
Marvin G Perez, Manisha Jha e Fabiana Batista
Fonte: Bloomberg