Crédito foto: Castor Becker Júnior
Número refere-se às operações realizadas entre julho e setembro, que tiveram 6,8 mil lançamentos contra chamas, em mais de 1,8 mil horas voadas nesse tipo de operação
A aviação agrícola brasileira lançou mais de 10,8 milhões de litros de água contra incêndios este ano, em áreas de reservas naturais e lavouras em todo o País. Os dados são do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), que apontou mais de 6,8 mil lançamentos de água contra focos de incêndios e em torno de 1,8 mil horas voadas nesse tipo de operação entre os meses de julho e setembro (principal época da temporada anual de incêndios no País). A estimativa se baseia em informações sobre operações de combate às chamas realizadas no Pantanal e em áreas como a Serra da Mantiqueira em São Paulo e na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, além do cerrado no oeste da Bahia. Sem falar na atuação forte do setor aeroagrícola também no socorro a produtores rurais, especialmente no noroeste paulista e no sudoeste goiano.
Conforme o secretário-executivo do Sindag, Gabriel Colle, os totais podem estar subestimados, já que parte das empresas não informou ao sindicato os dados de suas operações para o balanço. Segundo Colle, apesar de altos à primeira vista, os números não refletem uma demanda plenamente atendida. Isso pela falta de um plano abrangente no País, com todas as esferas de governo e prevendo o uso de aeronaves de maneira mais consistente e coordenada contra as chamas.
TIMING
Para o presidente do Sindag, Thiago Magalhães, em muitos casos os aviões ainda são acionados tardiamente, quando as brigadas em terra já estão e exaurindo e o fogo ampliou muito sua frente. Isso significa mais desgaste de pessoal e equipamentos, mais horas de voo e maior necessidade de água contra as linhas de fogo. O que acaba provocando também maior demanda por aviões e outros meios. “Em última instância, maior custo, mais risco para pessoal em terra e, ainda assim, maiores perdas de vegetação e fauna.”
Nesse sentido, Magalhães explica que o setor tem notado uma mudança de mentalidade principalmente no setor privado. A exemplo de Goiás, onde há três anos os produtores rurais contam com brigadas de incêndio montadas pelas empresas aeroagrícolas. “No comparativo com 2019, as empresas nos relataram que o número de chamados aumentou acima da proporção do aumento em focos de incêndios. Motivo: os agricultores começaram a acionar o serviço menos tardiamente.”
O mesmo em São Paulo, onde muitas usinas de cana passaram a pedir apoio aéreo imediatamente ao acionar seus brigadistas em terra. Antes, era feito primeiro a tentativa de extinção pelo pessoal a pé, junto com caminhões pipa. “Ganhou-se eficiência”, arremata Magalhães.
Os aviões agrícolas operam em incêndios sempre com brigadistas em terra. A função das aeronaves nesses casos é reduzir o fogo e resfriar o terreno, para que o pessoal em solo chegue exatamente nos focos e apague mesmo os pequenos braseiros. Além disso as aeronaves oferecem proteção aos brigadistas e fazem o combate direto a focos em áreas longes ou de difícil acesso – seja segurando o fogo até que o pessoal em solo chegue ou mesmo extinguindo completamente as chamas.
Projeto coloca setor em política de proteção aos biomas
No sentido de tornar a aviação agrícola uma ferramenta de ações de governo contra as chamas, o Senado aprovou no último dia 1º o Projeto de Lei (PL) 4.629/2020. O texto, de autoria do senador Carlos Fávaro (PSD-MT), altera o Código Florestal Brasileiro (Lei 12.651/2012), determinando que os planos de contingência contra incêndios florestais no País contenham diretrizes para o uso da aviação agrícola. A ideia é criar mecanismos para se aproveitar de maneira mais racional a frota aeroagrícola e pilotos que ficam ociosos durante a entressafra nas lavouras. Período que coincide justamente com a temporada de incêndios florestais o Brasil.
A proposta, que teve manifestação favorável do próprio Ministério do Meio Ambiente, recebeu emendas dos senadores Rose de Freitas (Podemos-ES), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Paulo Paim (PT-RS), Álvaro Dias (Podemos-PR) e Elmano Férrer (Podemos-PI). Basicamente, enfatizando a necessidade de se observar a preparação de aeronaves e pilotos para missões contra incêndios. Além de ampliar o incentivo ao uso da aviação agrícola contra incêndios em todos os tipos de vegetação do País (e não apenas biomas do Pantanal e Amazônia).
O texto foi enviado para a Câmara dos Deputados, onde ganhou pedido de urgência para tramitação. A solicitação foi formulada pela deputada federal Rosa Neide (PT/MT) e assinada também por diversos parlamentares, entre eles o deputado Arthur Lira (PP-AL), líder do bloco que inclui os partidos PL, PP, PSD, Solidariedade e Avante, o maior da Câmara, com 135 parlamentares. Se o pedido de urgência for aceito, o projeto vai direto para o plenário e, uma vez aprovado, segue para a sanção do presidente da República.
Ao mesmo tempo, no Mato Grosso, o deputado estadual Faissal Calil (PV) apresentou, em agosto um projeto de lei (PL) prevendo a criação do Programa Estadual de Controle do Fogo. O texto aborda ações conjuntas do poder público, sociedade civil e entidades privadas. Entre as iniciativas, está o uso de aviões agrícolas no combate aos focos de calor. Isso lembrando que o Estado lidera o ranking nacional de frotas, com mais de 500 aeronaves agrícolas em seu território, segundo a Anac.
Fonte: Sindag