Com o encerramento de seu processo de recuperação judicial, a Atvos projeta forte crescimento da produção de etanol nos próximos anos, com investimentos anuais de cerca de R$ 1,5 bilhão, enquanto estuda a entrada em outros combustíveis, como etanol de milho, SAF e biometano, disse o CEO da companhia, Bruno Serapião, nesta segunda-feira, 18.
A companhia projeta elevar a moagem para entre 26 milhões e 27 milhões de toneladas de cana em 2023/24, um salto de até 22,7% ante a temporada passada, e prevê avançar mais de 10% no próximo ciclo (2024/25), para 30 milhões de toneladas, chegando à capacidade nominal de 32 milhões de toneladas em 2025/26, disse Serapião.
A empresa, que tem agora como acionista de referência o Mubadala Capital, com 31,5% de fatia, está investindo pesadamente na renovação de canaviais e plantios novos, além de implementos para as lavouras. Serão R$ 1,6 bilhão neste ano-safra e nos anos subsequentes, perto de R$ 1,5 bilhão por ano.
Assim, a sucroenergética projeta plantar cerca de 66 mil hectares este ano, entre replantio e plantios novos, assim como estima expansão de novas terras nos próximos anos. “Vai ser o maior ano de plantio da Atvos, com 66 mil hectares. Isso me permite pensar nas 30 milhões de toneladas do ano que vem”, explicou o CEO, que está há quatro meses na empresa.
A companhia trabalha atualmente com cerca de 500 mil hectares de canaviais, sendo 60% cana própria e 40% de terceiros, mas quer elevar sua participação para 70% nos próximos anos, ficando os fornecedores com 30%.
A produção de etanol deve chegar perto de 2 bilhões de litros na temporada atual, crescendo para 2,5 bilhões na safra 2025/26, disse o CEO. Já a produção de açúcar em 2023/24 está projetada entre 550 mil e 600 mil toneladas, subindo para 700 mil toneladas em 2025/26.
Das oito unidades da Atvos, espalhadas por Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e São Paulo, duas (situadas em São Paulo e Mato Grosso do Sul) produzem açúcar e etanol, e as restantes produzem apenas combustível.
Para o futuro, a companhia avalia incluir o etanol de milho nos atuais parques produtivos, mas ainda não definiu investimentos ou a localização para a produção do combustível a partir do cereal.
Também estão em estudos a produção de biometano, assim como o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês).
Os investimentos aumentarão a produção de etanol, produto que tem boas perspectivas de crescimento, avaliou a Atvos, na medida em que grande parte dos países emergentes deve usar biocombustíveis como uma solução sustentável para reduzir emissões.
Reestruturação
A Atvos disse que foi aprovado também um aditamento ao plano de recuperação prevendo nova estrutura de pagamentos da dívida, tanto para os credores quirografários não financeiros (fornecedores) quanto para os credores financeiros (bancos).
Do total das dívidas financeiras originais desde o início da recuperação judicial, em maio de 2019, 54% já haviam sido equacionadas e o prazo para pagamento da dívida remanescente foi alongado até dezembro de 2042. Os juros, originalmente precificados em 115% do CDI, passam a ser de 100% do CDI.
O aditamento homologado prevê, ainda, o pagamento integral do saldo dos credores não financeiros ainda existente nos próximos 30 dias, de modo que serão pagos 99,99% de todos os credores não financeiros, o que equivale a 97% da dívida com essa classe desde o início do procedimento.
A Atvos também receberá agora um aporte de R$ 500 milhões do Mubadala Capital, o maior acionista em equity e que influencia na escolha da gestão.
A entrada de recursos reduzirá significativamente a alavancagem, que passará a ser de 1,4 vez a dívida líquida sobre Ebtida, com perspectiva de queda, disse o grupo.
Pelo acordo para a recuperação judicial, a Mudabala Capital, através de seu FIP MC Green, passou a ter participação de 31,5% da Atvos, sendo os restantes 68,5% detidos pela Atvos Bioenergia, que tem dois acionistas: Soneva Energia Renováveis, com 90%, e Novonor, que tem 10% (ou 6,85% indiretamente da Atvos Bio).
Por Roberto Samora
Com reportagem adicional de Letícia Fucuchima
Fonte: Reuters