*Por Valéria Carrete
A agricultura, a espinha dorsal da civilização humana, percorreu longo caminho através dos séculos. As primeiras técnicas e materiais utilizados para o cultivo de plantas e confinamento de animais, ainda no período Neolítico, foi a principal causa para aquilo que se denominou como a sedentarização do ser humano: a fixação de sua moradia em uma dada localidade.
Muito tempo depois a humanidade adotou sistemas rotativos de culturas, seguidos pelo uso de equipamentos como o arado, provocando diversas revoluções agrícolas e industriais até chegarmos ao ponto atual: a Agricultura 4.0.
Se o termo lembra atualização de sistema operacional do seu telefone é porque essa Agricultura 4.0 representa a fusão do mundo digital com as práticas agrícolas tradicionais. A quarta revolução da agricultura, também conhecida como Agricultura Digital ou Agritech, traz inovações tecnológicas para ganho de agilidade, autonomia, conectividade e integração aos processos produtivos e de gestão. Coisas que o homem neolítico, o “recém-surgido” Homo Sapiens, jamais poderia ter imaginado.
Aproveitar o poder das tecnologias emergentes, como inteligência artificial (IA), Internet das Coisas (IoT), robótica, tecnologia 3D e análise de big data é apenas o começo. Afinal, um dos principais impulsionadores da Agricultura 4.0 é a agricultura de precisão.
Por meio de sensores avançados, drones e imagens de satélite, os agricultores agora conseguem coletar dados precisos e em tempo real sobre suas plantações, condições do solo, padrões climáticos e infestações de pragas.
Essa abordagem baseada em dados permite que os agricultores tomem decisões mais bem informadas sobre irrigação, fertilização e proteção de cultivos, otimizando a alocação de recursos e reduzindo o desperdício.
Isso é viável através da computação em nuvem, que auxilia diretamente na digitalização da produção. Ter acesso a um serviço de computação que inclui servidores, armazenamento, bancos de dados, redes, softwares, análise e inteligência de dados por meio da internet é um dos principais pilares de sustentação da quarta revolução agrícola.
Ou seja, a figura de um homem do campo desconectado, afastado da “cidade”, como nos quadrinhos de Chico Bento, será cada vez mais raro no universo do agronegócio.
De acordo com relatório das Nações Unidas, a população mundial deve crescer em 2 bilhões de pessoas nos próximos 30 anos, passando dos atuais 7,7 bilhões de indivíduos para 9,7 bilhões em 2050. A estimativa é de que a população atinja um pico de cerca de 10,4 bilhões de pessoas durante a década de 2080 e permaneça neste nível até 2100. Por isso, a tecnologia nas práticas agrícolas é estratégica por um simples e fundamental motivo: a sobrevivência da humanidade.
Como isso acontece na prática?
Uma das inovações mais usadas pela sua praticidade e inovação é a tecnologia 3D, que inclui visualizadores, customizadores e realidade aumentada. Essas ferramentas são essenciais para facilitar a venda de equipamentos a distância e melhorar a experiência do cliente. Elas permitem que o produto seja analisado em detalhes, personalizando-o de acordo com as necessidades.
A realidade aumentada, por sua vez, permite ao cliente “enxergar” o produto em seu ambiente, o que aumenta a sensação de proximidade e ajuda a tomar uma decisão mais segura. Isso supera a falta de interação física com o produto. Além disso, a tecnologia 3D pode ser usada para criar peças e equipamentos específicos para o setor agrícola. A eficiência e redução de custos que essa tecnologia traz é crucial para quem vive do campo.
A variedade de máquinas munidas com IoT voltadas para a agricultura também impressiona. Sensores podem coletar medições que montem uma imagem precisa das condições ambientais, incluindo qualidade do ar, química do solo, da água, clima e luz.
Os drones, já bastante usados na indústria, ganham novas atualizações rapidamente. Suas principais funções vão desde pulverização e o acompanhamento da irrigação até o mapeamento aéreo em 3D, mas não só isso.
Os drones agrícolas garantem formas mais precisas, ágeis e econômicas na hora da aplicação de defensivos no solo das fazendas. Por meio do mapeamento topográfico e de georreferência, o equipamento não tripulado se apresenta como alternativa para minimizar a deriva — ou seja, a quantidade de produto que se dispersa no ar sem atingir a lavoura.
Da mesma forma, eles podem monitorar e verificar a presença de doenças ou pragas que afetem o crescimento das plantas. Com o uso da ferramenta, diminui-se a exposição dos produtores rurais às substâncias utilizadas.
A irrigação inteligente, por sua vez, consegue ajustar os cronogramas de irrigação com base em dados meteorológicos em tempo real e nos níveis de umidade do solo, minimizando o uso de água e conservando os recursos. Os sistemas de gestão de gado equipados com dispositivos vestíveis podem monitorar a saúde e o comportamento dos animais, fornecendo detecção precoce de doenças e otimizando os padrões de alimentação.
E qual o futuro disso tudo, já que uma ultra modernização já é uma realidade no setor, principalmente nos países desenvolvidos? Como, ao contrário da Revolução Industrial iniciada no século XVIII, não há um marco temporal exato que indique uma quinta revolução no campo, mas ela já dá seus primeiros passos.
A robótica e a Inteligência Artificial (IA) nos esforços de produção para nutrição das pessoas devem muito em breve se transformar em lugar-comum. Se já vemos robôs jardineiros e colhedores de frutas, será que em breve não teremos mais seres humanos na colheita dos nossos grãos? Para sabermos a resposta exata para essa pergunta, é preciso aguardar a próxima safra tecnológica.
Crédito imagem: divulgação
*Valéria Carrete é Chief Revenue Officer da R2U e Chief Metaverse Officer da Converge
E-mail: valeria@r2u.io