Quando saudáveis, as árvores proporcionam conforto e bem-estar; mas, um espécime doente ou em mal estado de preservação pode colocar em risco o patrimônio público e privado e até a vida.
A arborização urbana é fundamental para a qualidade de vida das pessoas, pois traz vários benefícios ao meio ambiente e à saúde humana. Árvores fornecem sombra, alimento, abrigo para animais e contribuem para a redução dos gases do efeito estufa. Ajudam a absorver o dióxido de carbono e a liberar oxigênio, controlar a temperatura e a umidade do ar; reduzir o ruído e melhorar a qualidade da água, pois as raízes das árvores ajudam a filtrar a água, protegendo fontes subterrâneas e rios. Além disso, as árvores ajudam a controlar a erosão do solo, previnem inundações e melhoram a paisagem urbana.
Estudos mostram que a presença de árvores em ambientes urbanos pode promover o bem-estar emocional e a saúde mental das pessoas. São inúmeras vantagens e praticamente nenhum empecilho, além do já indicado no título da matéria: a árvore, enquanto ser vivo, precisa de cuidados, entre os quais estão: plantio em local adequado – com exposição solar e irrigação e nutrição compatíveis com suas necessidades – e de tempos em tempos – consultar um “médico”, na verdade, um especialista em árvores, para verificar a incidência de pragas, fungos, bactérias e outros agentes que podem comprometer sua saúde e até levar a morte da árvore, causando danos aos seres humanos.
O Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, possui um laboratório dedicado a avaliação das florestas urbanas, a Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas. Dirigido pelo biólogo especialista em Entomologia Urbana e mestre em Sanidade Vegetal, Francisco José Zorzenon, possui mais de 30 anos de experiência no trato de pragas urbanas e realiza avaliações técnicas para espécimes que possam oferecer risco à população.
Recentemente, Zorzenon foi acionado para avaliar o caso da figueira branca, de mais de 100 anos, que tinha parte da sua copa (colo e sistema radicular) no Parque dos Jequitibás, e outra parte (tronco seccionado) na Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico (IAC), ambos na cidade de Campinas, SP. A queda dessa árvore centenária causou um acidente grave.
O laudo emitido pelo pesquisador revelou que, “a árvore (…) não apresentou atividade ou danos termíticos ou causados por outros insetos xilófagos ou presença de outros agentes biodeterioradores que pudessem catalisar ou levar ao tombamento, não sendo o motivo do comprometimento da integridade vegetal quanto a ruptura ou queda. As raízes, colo e tronco da árvore apresentaram-se tecidos íntegros, sem manchas ou vestígios causados por fungos apodrecedores no momento da visita técnica. Não foram observadas rachaduras e/ou fendas significativas no tronco”.
Zorzenon explicou ainda que, o mais provável é que tenha havido “ruptura na área radicular, devido as vibrações decorrentes do trânsito automotivo constante, movimentação, sombreamento, friabilidade e má drenagem do solo, somados aos adventos climáticos (pluviosidade elevada, ventos etc.), dentre outros possíveis fatores”. Ou seja, fenômenos relacionados às condições climáticas, aliados à dinâmica de deslocamento urbano podem ter causado a instabilidade que ocasionou a queda da figueira centenária.
Quando os cupins são o problema
Os cupins são insetos que podem causar danos graves às árvores. Eles se alimentam da madeira, danificando as raízes, troncos e ramos, o que pode levar à morte da árvore. Além disso, a atividade de escavação dos cupins pode enfraquecer a estrutura da planta, tornando-a mais suscetível a quedas e danificações causadas por ventos fortes ou tempestades. A presença de cupins também pode atrair outros insetos e doenças, agravando ainda mais os danos à árvore. É importante fazer inspeções regulares para detectar a presença de cupins e tomar medidas de proteção, como o uso de repelentes ou tratamentos com inseticidas. Ignorar o problema pode levar a perdas significativas em áreas florestais e também afetar a beleza e a segurança de áreas urbanas.
Encontrar produtos registrados adequados e disponíveis para o controle de pragas na arborização pode ser um desafio. “No Instituto Biológico, temos um trabalho com óleos essenciais para o controle de cupins. É uma alternativa interessante porque o produto é menos tóxico; em compensação, dura menos tempo que o similar químico. Contudo, acredito que esse seja o futuro do controle de pragas urbanas”, explicou o diretor da ULR.
A avaliação da saúde de uma árvore é algo bastante técnico, mas Zorzenon afirma que a população pode ficar atenta a alguns sinais: raízes muito expostas, inclinação acentuada, presença de caminhos de cupins (túneis terrosos), resíduos (pó granuloso ou fino) e escorrimento de seiva com a presença de grandes ou pequenos furos (brocas), descolamento da casca e queda prematura de galhos. São indícios que não é seguro ficar próximo dessa árvore, por mais convidativa que seja a sua sombra. Nesses casos, ressalta o pesquisador, é preciso entrar em contato com a administração do parque ou no caso de árvores viárias, com a prefeitura, por meio do departamento de parques e jardins, ou com a defesa civil. Qualquer um desses órgãos poderá consultar a ULR do IB e obter uma análise detalhada.
Sobre a ULR em Pragas Urbanas
A equipe da Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas vem realizando pesquisas em métodos alternativos de controle de insetos utilizando extratos vegetais, radiação gama; elaborando laudos de eficácia de novos produtos para registro no Ministério da Saúde; desenvolvendo metodologias de testes de eficiência de produtos comerciais para fins de comprovação de atuação; emitindo laudos e pareceres técnicos sobre identificação da(s) praga(s), grau de infestação e melhor técnica de controle a ser aplicado em residências, condomínios verticais e horizontais, parques, jardins, arborização urbana, etc.
Tem também desenvolvido pesquisas nas áreas de biologia, comportamento, taxonomia, levantamento, ocorrência e ecologia das principais pragas detectadas em áreas urbanas. Além dessas atividades, o grupo tem oferecido, com regularidade, cursos técnicos para controladores de pragas, técnicos em controle de pragas das Prefeituras Municipais, empresas particulares de serviços de jardinagem, produtores de mudas de plantas ornamentais, engenheiros agrônomos, biólogos, paisagistas, arquitetos, profissionais das áreas de museus, bibliotecas, conservação de patrimônios e restauradores, além de assessorar no treinamento de técnicos responsáveis por parques e jardins municipais relativo à identificação de danos e controle, inclusive de outros Estados.
Fonte: Assessoria de Comunicação SAA/SP