À frente do programa Balde Cheio sempre esteve o pesquisador Artur Chinelato de Camargo, da Embrapa Pecuária Sudeste. O idealizador, e quem colocou o programa para rodar em 1998, aposentou-se da Embrapa nesta quinta-feira, 02 de fevereiro. Foram 38 anos de trabalho intenso em prol da agropecuária brasileira, principalmente dos pequenos e médios produtores de leite.
Aos 63 anos, coleciona centenas de histórias comoventes de gente que, por meio de conhecimento e tecnologia, deixou a pobreza e superou o desânimo e a falta de esperança. Para ele, o brilho nos olhos das famílias com os resultados obtidos por meio do Balde Cheio é o que importa. Resgatar a autoestima do produtor de leite, sempre tão resignado, foi sua meta constante. E ele conseguiu contribuir para transformar para melhor a vida de milhares de pessoas em todo país.
Artur nunca mediu esforços para estar ao lado do produtor e compartilhar experiências para ver a esperança renascer, valorizando sempre o contato com a realidade de cada propriedade de leite. Foram milhares de quilômetros percorridos pelo país de carro, ônibus e avião. Ao longo de sua história, visitou 638 municípios e 3.678 propriedades, além de capacitar mais de 850 técnicos. Em 2022, devido aos benefícios sociais promovidos, o Programa figurou entre os destaques do Balanço Social da Embrapa. Hoje, o Balde Cheio atende 19 estados brasileiros. Dados de 2021, indicam que o programa chegou a cerca de 2 mil propriedades, 179 parcerias e 247 técnicos em treinamento, abrangendo produtores rurais em 844 municípios.
O pesquisador é referência na área leiteira. Quando se fala em Balde Cheio, não há como não citar Artur Chinelato. Como sempre enfatizou em suas palestras ou conversas, ele era psicólogo, administrador, contador, conselheiro familiar, amigo e, no final das contas, acabava se tornando membro da família dos produtores do Balde Cheio.
Segundo o atual coordenador do projeto Balde Cheio na Embrapa, André Novo, Chinelato é um extensionista nato, porque dar aulas e capacitar técnicos e produtores sempre foram sua grande paixão. “Ele tem o dom de encantar plateias por horas a fio transmitindo com clareza, objetividade, na linguagem do produtor de leite, toda essa emoção. Não dá para ficar indiferente às suas ideias quando transmitidas por meio dos infinitos ‘causos’ que ilustram sua fala determinada. O uso pedagógico e muito bem humorado de histórias e experiências de campo, coletadas ao longo de suas infinitas viagens, deixava qualquer técnica, ferramenta ou ciência – mesmo as mais complicadas – absolutamente simples de serem compreendidas e aplicadas”, disse Novo, que é chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Pecuária Sudeste.
Um ritual famoso do programa, instituído pelo pesquisador, é o pedido de perdão às vacas. Durante o rito, os produtores de leite ajoelham-se diante delas e pedem perdão. Para Chinelato, a qualidade de vida das vacas deve ser a prioridade número um. Antes mesmo do conceito de bem-estar animal ser consagrado como uma prática importante, ele já trabalhava com essa ideia nas propriedades pelo país. Como disse o técnico de Cacoal (RO), Marcelo de Castro e Assis – “…o homem conseguiu unir em um único projeto conceitos zootécnicos, agronômicos e econômicos e aplicá-los na prática. Com isso, transformou a vida de cada pessoa que passou pelo Balde Cheio”.
André Novo enfatiza que ao longo da trajetória profissional, a paixão pelo trabalho e pela transferência de tecnologia, além de iluminar o caminho de milhares de famílias, deu um propósito de vida a centenas de técnicos do Programa, que é a grande obra de Chinelato.
O produtor orgânico e ator Marcos Palmeira, da propriedade Vale das Palmeiras, em Teresópolis (RJ), conta que o pesquisador foi muito importante na sua transformação e amadurecimento, principalmente em relação à preocupação com os animais. “Não é o técnico que manda, é a vaca que diz”, ressaltou Palmeira. Ele conheceu Artur durante o I Curso de Pecuária Leiteira Orgânica, oferecido pela Embrapa em 2018. “Artur Chinelato faz parte daquela geração rara que vai a campo, aquele professor que sai das quatro paredes pra entender a prática e com espírito de generosidade, de escuta, que fez com que ele junto com os pequenos produtores tivessem essa troca do dia a dia. Ele mudou a minha cabeça em relação ao leite, à sustentabilidade, à eficiência na produção leiteira, preservando sempre a qualidade de vida da vaca. Acho que isso é o mais importante. A forma direta do Artur dizer as coisas, a objetividade. Ele não faz jogo, você sempre cresce com ele, você não precisa concordar com ele. Ele não quer unanimidade. Ele fortalece a discussão, a troca de ideias. É o que a gente mais precisa hoje. É uma lição que o Balde Cheio oferece: essa possibilidade de trocar ideias. O técnico e o produtor, juntos, têm outro olhar para a propriedade e descobrem o melhor caminho para tirar o leite mais eficiente”, destacou Palmeira.
Há 15 anos no Balde Cheio, o técnico Marcelo de Assis, diz que não tem medo de errar ao afirmar que Chinelato é a maior sumidade da atividade leiteira do Brasil. No entanto, mais do que aprender conceitos, Marcelo conta que aprendeu a “pensar”. ”Os livros estão cheios de conceitos para a mesma finalidade. Mas qual usar? Quando usar? Esse, para mim, foi o maior ensinamento que tive nesses 15 anos que estou sendo capacitado pelo Projeto Balde Cheio: pensar. Uma vez ouvi uma entrevista do Dr. Artur para a Rádio Nacional em que disse para a repórter que o objetivo do Projeto Balde Cheio é resgatar mais um produtor da improdutividade, depois mais um. Com essa simplicidade nas palavras e ações ele conseguiu mudar a vida de muita gente. Posso dizer por mim, que tive minha vida totalmente mudada para melhor depois de ter aprendido, mesmo que um pouquinho, o ’jeito Artur Chinelato’ de pensar”, ressaltou o técnico de Cacoal (RO).
Max e Marina Spanhol reconhecem o sucesso de sua propriedade pela visão de futuro e os
novos horizontes apresentados por Chinelato a partir de 2008, quando passaram a fazer parte do Balde Cheio. Segundo o casal, que mora em São Felipe do Oeste (RO), o pesquisador confiou em seu potencial.
O técnico do Balde Cheio de Espírito Santo (ES), Ismail Haddade, destaca alguns adjetivos do pesquisador, já encontrados em outras falas. Ele descreve o profissional como uma figura bem-humorada, de personalidade forte e assertiva, e que nunca mediu esforços para tornar a pecuária brasileira melhor. “A este extraordinário profissional ficam os meus eternos agradecimentos pela imensa contribuição para a existência e força do Balde Cheio Capixaba – o nosso ‘Balde Cheio Raiz’, agradece.
Apaixonado por novelas, Artur ainda escreveu de forma lúdica, toda a trajetória do processo
de intensificação da atividade leiteira no livro “Sítio Esperança”, hoje em sua 5ª edição.
Chinelato também compartilha a paixão pela atividade leiteira e pelo trabalho de extensionista com o amor incondicional ao seu time do coração, o Corinthians. “Afinal ninguém é perfeito”, brinca André Novo, amigo de jornada e que segue liderando o programa Balde Cheio.
Por Gisele Rosso
Núcleo de Comunicação Organizacional
Fonte: Embrapa Pecuária Sudeste
Núcleo de Comunicação Organizacional
Fonte: Embrapa Pecuária Sudeste