Agricultores relatam que tombamento de plantas pode levar a prejuízos maiores do que os observados com o apodrecimento de vagens
A chamada anomalia da soja continua a preocupar os produtores de Mato Grosso. Nas últimas semanas, muitos observaram o quebramento de hastes em diversas lavouras, fator que pode trazer perdas produtivas significativas. É o caso do consultor agronômico Cledson Guimarães Dias Pereira, que presta atendimento em 25 mil hectares dedicados à oleaginosa no estado.
Segundo ele, na safra 2021/22, o maior percentual de perdas foi causado pelo apodrecimento dos grãos, outra consequência da misteriosa doença. Por conta disso, mudou o manejo de algumas cultivares. Contudo, nesta temporada, o tombamento das plantas é mais presente e tem o potencial de comprometer ainda mais os resultados da lavoura.
O especialista conta que a diferença entre os sintomas da anomalia se reflete diretamente na colheita. Isso porque o apodrecimento dos grãos impacta a produtividade em cerca de 20%, enquanto que o problema que atinge as hastes das plantas pode gerar prejuízos de até 50%. “Poderia estar colhendo 70 sacas, mas posso colher 35”, afirma.
Perdas produtivas na soja
O Médio-Norte de Mato Grosso foi uma das regiões com maiores concentrações de lavouras prejudicadas pela anomalia da soja na safra passada. Conforme levantamento técnico da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), as perdas na safra 21/22 giraram entre cinco e seis sacas por hectare em média.
O agricultor Eder Ferreira Bueno conta que a anomalia tem tirado o sono dos produtores da região, temerosos que as perdas do ciclo passado se repitam – ou até piorem – neste ano. “Conheço áreas, principalmente em áreas de pivô, que tiveram prejuízos de até 50% de [grãos] avariados”, conta.
Já o produtor Tiago Strapasson, do município de Vera, se empenha no monitoramento constante da lavoura, mas lamenta que ainda não haja respostas a respeito do que tem causado a anomalia. “Não temos como solucionar esse problema, se [precisamos] aplicar mais fungicidas […], até agora não temos explicação nenhuma das pesquisas”.
De acordo com ele, nos anos anteriores em que o problema incidiu em sua lavoura, verificou perdas entre 17 e 18 sacas de soja por hectare.”
Pesquisa atrás de resposta
Atualmente, a Embrapa coordena uma rede de ensaios com diferentes cultivares e fungicidas atrás de respostas. A pesquisa é feita em 17 instituições de Mato Grosso e uma em Rondônia. A expectativa é apresentar resultados no final desta safra 22/23.
A pesquisadora da instituição, Dulândula Silva Miguel Wruck, conta que os possíveis fungos causadores da anomalia da soja estão sendo identificados. “O problema é que a gente pega esse fungo, inocula em uma planta sadia e não reproduz o sintomas. Então fica a questão: o fungo está presente como causa ou consequência?”, detalha.
Assim, para ela, é prematuro afirmar que determinado agente é a causa da anomalia, uma vez que não se está conseguindo reproduzir os mesmos sintomas da doença em condições artificiais. “Temos uma metodologia, estamos seguindo, priorizou- se entre as instituições. A gente espera agora no final da safra, assim que começar a analisar os dados, eu não digo achar a causa, mas pelo menos eliminar o que não seja”, explica.
Fonte: Canal Rural