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FAESP/SENAR-SP apoia técnicas de diagnóstico do solo e mapeamento com drones em Dia de Campo dedicado à cafeicultura

Sindicato Rural de Pardinho promoveu evento para apresentar novas tecnologias aos produtores

Identificar o DNA do solo e elaborar seu mapa genético. Isso não é uma utopia, pelo contrário, é um dos avanços permitidos pela tecnologia a serviço do agronegócio, que está conquistando um número cada vez maior de pequenos, médios e grandes produtores. Para apresentar essas inovações e como elas podem melhorar a produtividade, a qualidade e a rentabilidade, o Sistema FAESP/SENAR-SP, o Sindicato Rural de Pardinho e o SEBRAE-SP organizaram um Dia de Campo no Sítio Daniella, pioneiro no uso dessa tecnologia na Cuesta Paulista, reunindo cerca de 100 participantes.

“O evento foi um sucesso. Foi muito importante para os produtores entenderem como eles podem usar a tecnologia tanto para mapear o tipo de solo quanto para incrementar a produtividade. Especialmente, para os pequenos, que estão começando a conhecer esses processos”, avaliou Luciane Correia, coordenadora do SENAR-SP no Sindicato Rural de Pardinho, que destaca o apoio de outras instituições ao evento, como a UNESP, os Sindicatos Rurais de Dourados e São Manuel, e a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que no evento esteve representada pelo coordenador substituto João Brunelli Júnior. Lourival Raniero, presidente do Sindicato Rural de Pardinho, esteve presente durante todo o evento.

O geógrafo David Santos, fundador da Altamap – que utiliza o mapeamento por drones nas propriedades – foi palestrante neste Dia de Campo e ressaltou a qualidade do público presente ao evento. “Houve grande interesse dos participantes em ter domínio sobre as inovações e como utilizá-las”, disse o especialista. Falando sobre onde a agricultura começa – a terra –, outro palestrando do dia, o cientista do solo e diretor da Quanticum, Diego Siqueira, explicou sobre a presença das nanopartículas, que definem a “aptidão” da propriedade. “As nanopartículas são estruturas muito pequenas, equivalentes ao tamanho do olho de uma formiga, dividido mais de mil vezes. Quando elas mudam, muda o potencial do solo em produzir cafés”, explica ele. O terroir do café é justamente um conjunto de fatores que afetam o resultado final da bebida, como a forma de plantio e o que foi utilizado no processo.

No sítio Daniella, cuja lavoura de café tem 58 hectares, a Quanticum atuou em parceria com a Altamap. “Enquanto a Quanticum foca em entender o potencial natural do solo, a Altamap fica com os olhos no céu, vendo como a planta responde”, define Diego. O cruzamento dessas informações, aliado ao histórico de áreas da propriedade onde são produzidos os cafés especiais, resultaram no “mapa genético” do Sítio.

“Foi feito um levantamento detalhado de toda a propriedade, que eu achava que conhecia completamente, mas foi interessante como me surpreendi. Estou muito satisfeita com os resultados e me senti honrada em poder compartilhar esses estudos com outras pessoas”, declarou a proprietária Daniella Pelosini.

O mapeamento com drones é importante para levantar informações tanto da área preservada quanto da área produtiva, segundo David. “Conseguimos identificar falhas no plantio, áreas subutilizadas e outros dados que permitem ao produtor a tomada de decisão com segurança”, explica o cientista.

Agricultura regenerativa

Além desses dois temas – a tecnologia para estudo aprofundado do solo e o mapeamento por drones – o evento também enfocou as práticas de manejo para a agricultura regenerativa, voltada para melhoria das funções ecossistêmicas da terra, “que é um dos principais reservatórios de carbono terrestre”, explica Diego. “Cerca de 2/3 desse carbono não está armazenado na floresta amazônica, mas sim no solo. Além disso, cerca de ¼ da vida terrestre está no solo; temos mais microrganismos numa colher de sopa do que pessoas na Grande São Paulo”, compara o cientista. Ele cita também que grande parte do ciclo da água passa pelo solo. “Armazenar carbono, filtrar a água, entre outras, são suas funções ecossistêmicas.

Quando conseguimos melhorá-las, estamos praticando a agricultura regenerativa”.

No caso do sítio Daniella, sua aptidão para produzir cafés excelentes já vem sendo reconhecida, inclusive por premiações nacionais e internacionais. “No próximo mês, vamos receber em Roma um prêmio por ser um dos três melhores cafés do Brasil, conferido pela Cafè Illy. É a terceira vez que repetimos esse resultado”, declara Daniella. O mapeamento da propriedade veio evidenciar as nanopartículas responsáveis pelos ótimos resultados, que já estavam ali há bilhões de anos, provavelmente. “Sempre se associa a produção de cafés especiais a regiões com altitudes acima de 1.200 metros ou inferiores aos 1.200 metros. Mas a evidência científica mostra que, quando a propriedade tem nanopartículas que definem essa ‘vocação’, produzirá cafés excelentes, independentemente da altitude”, explica o cientista.

É um engano pensar que essa tecnologia tem custo elevado, acessível apenas para os grandes produtores. “Hoje conseguimos atender áreas de 200 mil hectares mas também produtores de cinco hectares”, analisa Diego. De acordo com ele, quando se faz uma análise convencional, o custo é de cerca de 80 reais por hectare, enquanto no diagnóstico de tipologia de argila, esse valor cai para 15 reais por hectare. “Ele não substitui o modelo convencional, mas é uma informação mais estratégica, que pode indicar ao produtor onde deverá ser plantado e de qual categoria será o café. Se ele plantar qualquer qualidade, sem levar em conta as nanopartículas, o cafezal deixa de produzir 8 a 10 sacas por ano”, explica.

Quando coloca na ponta do lápis, o produtor também vê as vantagens do mapeamento com drones, pois permite melhor aproveitamento da área e mitigar problemas na produção, trazendo retorno do investimento nas próximas safras. “Além do mais, o custo é baseado no tamanho da propriedade”, enfatiza David, o que favorece o acesso mesmo para os pequenos produtores.

Armazenamento de CO2

Outra vantagem para o produtor é que ele pode economizar em insumos se conhecer detalhadamente o tipo de solo e sua demanda. “Por exemplo, se meu solo está com falta de magnésio e eu posso optar entre uma fonte de 500 reais ou de cinco mil reais, com o mesmo resultado, claro que vou economizar no insumo e obter um produto mais rentável”, analisa Daniella.

Nestes tempos em que cresce a preocupação do agronegócio com o impacto ambiental, esse é também um ponto alto do modelo que preconiza o diagnóstico da argila. “Com esse mesmo mapa que o produtor vai utilizar para saber qual café plantar, qual adubo utilizar, ele poderá extrair informações para saber como armazenar mais carbono no solo. Quando se muda a nanopartícula, o potencial de armazenar CO2 pode mudar mais de 10 vezes”, explica Diego. Apoiada pelo Instituto de Inovação Paulista, a Quanticum pretende lançar uma plataforma de carbono voluntário, que permitirá ao produtor atrelar um laudo ao seu produto, “mostrando que o café foi elaborado armazenando toneladas de carbono hectarianos. Preservar CO2 no solo é equivalente a manter uma floresta em pé, pois está se diminuindo ou evitando a emissão do poluente”, celebra o cientista.

Com o olhar antenado para as questões ambientais, Daniella ressalta que o modelo veio somar esforços para a entrega de um produto cada vez mais saudável nas prateleiras. “É nosso dever nos preocupar com a sustentabilidade. O mercado exige isso: saber de onde vem e como é feito o produto. Nós temos de dar essas respostas aos consumidores”, defende.

O diagnóstico de tipologia de argila é um método 100% nacional e existe desde a década de 80, de acordo com Diego, mas está avançando hoje graças ao aprimoramento da tecnologia e porque a ciência está sendo “traduzida” numa linguagem de fácil compreensão para o público-alvo. “O sistema FAESP/SENAR-SP tem um papel fundamental nisso, apoiando para que a pesquisa seja acessível ao produtor e possibilite melhorias para quem está no campo”, avalia Daniella. No âmbito da academia, o método genuinamente brasileiro vem conquistando vários prêmios, tendo configurado entre os Top 150 da América Latina com impacto nos ODSs (Objetivos Sustentáveis) preconizados pela da Organização das Nações Unidas).

Galeria

Créditos: acervo SR de Pardinho e Henrique Moscatelli

Fonte: FAESP

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