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Preservação do meio ambiente e ganhos para o produtor

Sindicatos rurais de Cruzeiro e de Lavrinhas desenvolvem projetos de restauração florestal em propriedades rurais.

Não basta produzir, é preciso visar a sustentabilidade. Este conceito se solidifica cada vez mais no agronegócio, com a implementação da agenda ESG (ambiental, social e governança, da sigla em inglês). Considerado “o celeiro do mundo”, o Brasil tem potencial para ser exemplo na implantação desses princípios. Os sindicatos rurais de Cruzeiro e de Lavrinhas, no Vale do Paraíba, estão empenhados em fazer sua parte nesta tarefa, por meio de projetos que utilizam técnicas de restauração florestal em propriedades rurais.

“É um caminho sem volta: o produtor que não se adequar à questão ambiental, está fora do mercado”, prevê Fabiano Haddad, diretor e consultor técnico ambiental do Sindicato Rural de Cruzeiro. Com iniciativas que começaram em 2019, a entidade já contabiliza cerca de 500 hectares de restauração, graças à parceria do Sistema FAESP/SENAR-SP, a SIMA (Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de SP), as prefeituras municipais de Cruzeiro e de Lavrinhas, as ONGs TNC (The Nature Conservancy Brasil) e WWF (World Wide Fund for Nature), a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a Colacap (Cooperativa de Laticínios de Cachoeira Paulista). Os dois programas em desenvolvimento – “Produtor Sustentável” e “Protetor da Mantiqueira” – estão atraindo um número crescente de produtores da região.

No programa “Produtor Sustentável” é realizada a adequação e a gestão ambiental da propriedade. A Fazenda Serra do Gigante é uma das participantes. “Nós vamos trabalhar nas APPs [Áreas de Preservação Permanente] que foram definidas no projeto. Vamos plantar cerca de 4 mil pés de árvores frutíferas. Além da produção do pomar, eles poderão vender as sementes nativas para outras propriedades que estão também fazendo o reflorestamento. Sementes de espécies arbóreas nativas ultrapassam valor de mil reais por quilo. Nossa perspectiva é coletar de 50 a 100 quilos por hectare/ano, então, além do ganho ambiental, pode ser uma renda extra interessante para o produtor”, explica Fabiano.

“Eu me surpreendi positivamente com o projeto, pois já havia participado de outras iniciativas que não avançavam como prometiam”, analisa Luis Roberto da Cruz, proprietário da Fazenda Serra do Gigante. Em apenas três meses, o projeto já delimitou e cercou as APPs, empregou ações para combate aos predadores, preparou as covas e plantou cerca de mil mudas. Até drones foram utilizados para o plantio de palmito juçara. Na Fazenda foram realizados cursos do SENAR-SP, focando a produção de mudas e fossas sépticas, que agregaram conhecimentos para o processo, que visa transformar a propriedade em um modelo completo de sustentabilidade. Este projeto ainda terá a participação da CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica e Integral), do SEBRAE-SP, na comercialização futura das sementes.

O programa “Protetor da Mantiqueira” também reúne casos interessantes de restauração florestal, garantindo o verde para as gerações futuras. Um desses protetores é Carlos Silva, proprietário da Fazenda Santana, que tem em sua propriedade o Rio Jacu, responsável por parte do abastecimento do município de Lavrinhas. “No leito do rio, ao sair da mata, ele está descoberto, não tem a mata ciliar em volta. Isso me incomodou muito, porque eu tenho um olhar voltado ao meio ambiente. Quando o Sindicato me procurou com o projeto, era tudo o que eu desejava”, lembra Carlos. Atuando no ramo da pecuária de corte e leite, o proprietário destinou cerca de 11 hectares ao projeto que visa a recuperação da mata ciliar, garantindo o volume do rio ao longo dos anos e a própria continuidade da atividade pecuária. “Além de abastecer a cidade, o meu gado bebe dessa água. Não há como negar que, até para preservação da atividade econômica, precisamos do rio”.

Entre março e julho de 2021, foram plantadas na fazenda 14.800 mudas e a semeadura direta com muvuca, um mix de sementes arbóreas, arbustivas, herbáceas e leguminosas. “Plantamos e faremos a manutenção pelos próximos três anos. Só sairemos de lá quando virar uma floresta”, declara Fabiano. A área de preservação ocupa cerca de dois quilômetros ao longo do rio, deixando alguns espaços para o gado beber água. “Além da preocupação com o rio, aqui também envazamos mel e todos sabemos como as abelhas estão diminuindo em todo o planeta. Tudo isso é pela preservação do meio ambiente”, analisa Carlos.

Quem vê os projetos em andamento não imagina que tudo começou há cerca de doze anos, quando o Sindicato começou a participar dos fóruns ambientais, devido às discussões do então Código Florestal e de uma proposta de criação de um parque nacional na região. Há cerca de oito anos participam dos Comitês de Bacias Hidrográficas, quando vislumbraram as possibilidades. Parte dos recursos para os projetos vêm do FEHIDRO (Fundo Estadual de Recursos Hídricos) do Estado de São Paulo. “O comitê de Bacias Hidrográficas do Paraíba do Sul, aqui no Vale, é o que mais investe em reflorestamento. Nos últimos dois anos, investiu quase 18 milhões de reais, boa parte fruto do nosso empenho junto ao comitê”, diz Wander Bastos, coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite na FAESP e presidente do Sindicato Rural de Cruzeiro. O comitê foi criado para promover a viabilidade técnica e econômico-financeira de programas que visem o desenvolvimento sustentável da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul.

Os programas de restauração ambiental auxiliam o produtor na adequação exigida pelo PRA – Programa de Regularização Ambiental. “O processo de restauração, com cercamento, insumos, mão de obra e manutenção por três anos ficaria em torno de 50 mil reais por hectare, para o produtor. Então, uma propriedade que tenha 10 hectares reservados para um dos projetos deixa de gastar 500 mil reais nesse período”, calcula Fabiano.

Além disso, no programa “Produtor Sustentável”, o proprietário pode ter ganhos em créditos de carbono, através da parceria com a TNC, que, por sua vez, tem parceria com o Mercado Livre. “Após cinco anos do início do projeto, há uma medição do carbono que foi neutralizado. O produtor e/ou proprietário terá direito a 300 reais por hectare/ano e, de acordo com os preços de mercado, após essa medição, além do valor anual o produtor receberá um valor referente ao carbono neutralizado, sendo 20% para ele e 80% para o investidor. Isso se repete também após dez anos, e depois o contrato poderá ser renovado ou o produtor poderá buscar outros negócios”, explica Wander Bastos.

Para ele, esses exemplos podem ser replicados em outras regiões. Tanto assim, que ele vem sendo procurado por outros sindicatos rurais. Que surjam mais proprietários como os das fazendas Santana e Serra do Gigante, com a consciência de zelar pelo meio ambiente. “Temos que conscientizar outros produtores. Eu tenho orgulho de ter em minha propriedade 70% de mata preservada e ser um condutor hídrico”, declara Carlos. “Mas se não influenciarmos outros, não sei o que será de meus filhos e netos. Eu espero que eles vejam muita água descer pela serra do rio Jacu”.

Fonte: FAESP

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