Produtores rurais reescrevem sua trajetória no campo depois de participarem do PROER e de cursos sobre cultivo de orgânicos oferecidos pelo SENAR-SP
Em todo o Estado de São Paulo podemos encontrar dezenas de relatos de pessoas que mudaram os rumos de suas vidas depois de passarem pelo Programa Empresário Rural (PROER), oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-SP). Esta é a história de Adriana, 52, e de seu marido, Nivaldo Suguimoto, 54, proprietários do Sítio Bela Vista (@organicos_napedra), que fica em Coroados, região noroeste do Estado.
Em 2013, o casal decidiu deixar para trás uma longa história de agricultura convencional. A ideia inicial era encerrar as atividades e vender o sítio de porteira fechada. Tanto que Adriana estava cursando Análise de Sistemas para retornar ao mercado de trabalho. Em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), sobre o desenvolvimento de um aplicativo de e-commerce focado em produtos da agricultura familiar, ela descobriu o conceito de agricultura natural e, assim, surgiu o interesse em começar a produzir orgânicos.
No início, a aprendizagem foi autônoma. “Em 2018, estávamos estagnados. Fomos até onde poderíamos para obter conhecimento por conta própria, pela internet. Então fiquei sabendo sobre um professor do SENAR-SP, que dava cursos sobre orgânicos, mas era em Nhandeara, que fica a 90 quilômetros daqui. Saímos feitos doidos, o marido, a sogra [Hitomi] e eu, para fazer o curso lá”, lembra a produtora.
Esse primeiro contato com a instituição mudaria de vez o curso da história do Sítio Bela Vista, trazendo solução para um grande dilema: além de aprender a cultivar orgânicos, como fazer isso sem capital? “O banco não quer nem saber de produção orgânica, porque não tem como estimar custos, mas tínhamos dívidas e precisávamos de capital”, relata Adriana. Além da situação financeira difícil, ficariam sem renda durante um período de três anos, tempo estimado para que o solo passe pelo necessário processo de regeneração, na migração de um modelo de cultivo para outro.
Foi então que conheceram o PROER, que estava recebendo inscrições em Araçatuba, em 2019. O Programa é destinado aos produtores e trabalhadores rurais envolvidos no processo de gestão da propriedade. São dez módulos, que tratam de aspectos como a análise da empresa rural, que mostra como desenvolver competências técnicas para dimensionar o real valor da propriedade. Também aborda a avaliação e a viabilidade de projetos a serem empreendidos no local, além de conhecimentos sobre contabilidade, estoque de capitais, visão mercadológica e estratégias de comercialização, entre outros tópicos.
“O professor Julio [Cesar Marques Soares] nos mostrou todas as questões em relação ao levantamento de custos. Aprendemos a colocar valor na propriedade e tomamos um susto quando aplicamos isso aos nossos bens”, conta a produtora, afirmando ter ficado espantada quando se deu conta de que tudo o que precisavam para resolver o problema financeiro estava ali o tempo todo. “Estava aqui, diante dos nossos olhos, mas não tínhamos esse ‘estalo’ de fazer um levantamento. Começamos a nos desafazer de bens que não estávamos mais utilizando e fomos trocando, fazendo a substituição e a readequação daquilo que a gente realmente precisava. Foi com o dinheiro da venda desses ativos imobilizados que conseguimos levantar capital”, relata. Do trator aos canos de irrigação, tudo se transformou em reinvestimento. “Durante essa última venda, expliquei ao interessado como levantei os custos, de uma forma bem técnica, utilizando todos os argumentos que aprendi no curso. Acho que pessoa se interessou mais pela explicação que pelos canos”, lembra Adriana, entre risos.
A dinâmica dos orgânicos
Além do PROER, os produtores fizeram todos os cursos sobre orgânicos oferecidos pelo SENAR-SP. “Em 2019 conseguimos fazer o de tomate orgânico aqui no sítio. Em 2020 veio a pandemia, mas a gente já estava com o curso de olericultura em andamento. Paramos o tempo necessário, mas voltamos com todas as medidas de segurança. Aí fizemos também de batata e de uvas. Foi um período especial, conseguimos fazer todos os cursos e terminamos o último no final de 2021”, revela Adriana.
Ela acrescenta que o SENAR-SP foi um importante parceiro em todo esse processo de reestruturação. “Os profissionais que estão no SENAR-SP são muito bons, comprometidos com o que o produtor realmente precisa. Não é aquela coisa somente de teoria, eles têm uma preocupação muito grande de fazer isso virar prática. Isso o que me encantou, o compromisso com a aplicação da teoria na prática”, resume Adriana.
Hoje, em seu sétimo ano, a produção do Sítio Bela Vista está estabilizada e certificada, com a oferta de frutas, legumes e verduras. “São os mesmos produtos que fazíamos na agricultura convencional, mas devido a não utilizarmos insumos químicos meu custo de produção é cerca de 80% a 90% menor”, diz a produtora. Ainda é preciso vencer algumas barreiras na comercialização. “Vender para supermercado é um péssimo negócio, porque se o produto não vende o valor é descontado do produtor. Há também entraves para descarregar as mercadorias no CEASA, e o pequeno produtor acaba sendo afastado desse importante centro comercial. Temos um sistema de delivery para Araçatuba e Birigui, mas precisaríamos ampliar para vender o excedente”, relata Adriana.
Enquanto isso, os produtores já pensam em novas estratégias. “A nossa gratidão ao SENAR-SP é muito grande. Em 2019 fizemos o curso de uvas e plantamos 40 mudas. Neste ano, plantamos mais 90 mudas porque vamos incrementar esse cultivo. Com isso, queremos investir em turismo rural, e este, certamente, será o próximo curso que faremos”, conclui Adriana.
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Fonte: FAESP