Produtores rurais paulistas precisam ter cuidados especiais nos meses mais frios do ano
No Brasil, o inverno de 2022 começou oficialmente às 6h14 de 21 de junho. A estação termina em 22 de setembro e, nesses três meses, os produtores rurais precisam tomar alguns cuidados adicionais, redobrando a atenção no manejo preventivo das lavouras e dos animais, a fim de protegê-los dos efeitos negativos das baixas temperaturas e possíveis geadas. Os representantes das Comissões Técnicas da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP) esclarecem que é possível traçar algumas linhas de ação para eliminar ou reduzir os danos causados pela estação mais fria do ano. Confira:
• Uso de aquecimento na avicultura: como forma de aquecimento suplementar nas granjas, de modo geral, utilizam-se fornos ou caldeiras abastecidas por lenha ou pellets (mais baratos, mas com muita eficiência e utilizado por 50% dos estabelecimentos, em lugar do gás). É preciso que os equipamentos estejam em muito bom estado de manutenção e que o substrato seja de boa qualidade. “A produtividade e o bem-estar animal dependem de manter as aves aquecidas. Além disso, é preciso cuidar da ventilação. O operador deve conciliar todas as variáveis necessárias para a ave expressar seu comportamento normal e natural”, diz Luciana Abeid Ribeiro Dalmagro, coordenadora adjunta da Comissão de Avicultura e Suinocultura da FAESP.
• Proteção contra o vento e o granizo na fruticultura e citricultura: o inverno não é um “vilão” para o cultivo de frutas, sobretudo para as frutíferas de clima temperado, cuja ocorrência de baixas temperaturas é determinante que as plantas apresentem adequados níveis de brotação e florescimento, mas os ventos podem danificar as plantas, aumentando a queda de frutas e galhos e, consequentemente, o risco de doenças. Recomenda-se o uso de “quebra-ventos” formados por outras plantas, e telas para proteção contra o granizo. Na citricultura, especialmente, com a redução das chuvas nesta estação, que pode afetar o vigor, a qualidade e produtividade dos pomares, recomenda-se a irrigação para minimizar os impactos do déficit de água e preservar as árvores.
• Evite o manejo na piscicultura: a transferência dos peixes de um tanque para outro, a seleção de lotes e outras atividades relacionadas não devem ser feitas no inverno. “Caso seja necessário, tenha cautela e conte com apoio de uma equipe de especialistas, como zootecnista, veterinário e engenheiro agrônomo”, diz Martinho Carlos Colpani Filho, presidente da Câmara Setorial do Pescado da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e coordenador adjunto da Comissão de Aquicultura da FAESP.
• Reforço na alimentação dos peixes: os meses de junho, julho e agosto são críticos, especialmente para espécies como a tilápia e os pangasius. O inverno diminui o ritmo de crescimento e de alimentação, o que favorece o surgimento de doenças. Uma recomendação importante é oferecer ração com um reforço de vitamina C e probióticos, sob prescrição de um veterinário.
• Perigo de incêndios na silvicultura: com menor incidência de chuvas e o mato seco, aumenta-se o risco de fogo, principalmente nas culturas de eucalipto e pinus. Alfredo Chaguri Junior, coordenador da Comissão de Silvicultura da FAESP, explica que “para evitar esses problemas é importante manter os aceiros sempre limpos e sob constante vigilância”, aponta.
• Alternativa ao feno na equinocultura: o inverno prejudica a produção do feno, elemento importante para manter os animais bem nutridos. “A seca do ano passado prejudicou campos de feno em várias regiões, o que aumentou o custo para subsistência das criações”, diz Antonio Aurelio Persona, coordenador da Comissão Técnica de Equinocultura da FAESP. O ideal seria o criador manter uma plantação das gramíneas para produzir a alimentação dos animais. Para cultivá-las, são necessários pelo menos 10 alqueires, no caso de grandes criadores, ou uma área menor para até três animais.
• Perigo de incêndios na bovinocultura de leite e de corte: nesse período, o maior perigo é que o capim dos pastos fica muito seco, o que aumenta o risco de incêndios. Assim como na silvicultura, uma forma de prevenção são os aceiros nas divisas entre as propriedades e nas proximidades de estradas, pois uma bituca de cigarro jogada de dentro de um veículo pode dar início ao fogo.
• Alimentação dos rebanhos: iniciada ainda no verão, a silagem garante o armazenamento da forragem compactada, com lonas, em sacos ou em trincheiras. Uma boa suplementação é o sal proteinado que dá mais fome aos animais e ajuda a complementar a deficiência de proteínas. Outro alimento importante é a cana-de-açúcar, que é rica em energia. “Sem uma suplementação nutricional adequada no período da seca, os pecuaristas enfrentam a perda de peso com risco de mortes de reses por desnutrição”, aponta Cyro Penna Junior, presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC) e coordenador da Comissão de Bovinocultura de Corte da FAESP.
• Cultivo de flores: em uma eventual geada, as flores podem congelar e o produtor perde toda a safra. “Uma opção é um formulado a partir de uma mistura de açúcar, água e em alguns casos sulfato de magnésio e potássio, que é pulverizado nas folhas de um a dois dias antes da geada. Este processo permite baixar o ponto de congelamento da água presente nas plantas, ao mesmo tempo em que o açúcar (glicose) é fonte de energia para as plantas”, diz Gildo Takeo Saito, coordenador da Comissão de Hortaliças, Flores e Orgânicos da FAESP.
• Prevenção de danos da geada em hortaliças cultivadas em estufas: no dia ou na madrugada da geada, fazer um fogo dentro de um recipiente seguro, como tambores de metal, e colocá-los dentro da estufa. No cultivo de folhosas, como alface e rúcula, aspersores podem ser ligados no dia em que a geada ocorre. Esse processo forma uma camada de vapor que protege as plantas do congelamento, sendo uma alternativa econômica de controle da geada.
• Cuidados com milho e feijão: segundo Marcio Antonio Vassoler, coordenador da Comissão de Grãos da FAESP, nessas duas culturas, “a maior preocupação é com relação a geada, além da falta de chuva no período de formação e enchimento de grãos”. Segundo ele, a saída é ter um sistema de irrigação eficiente. Tal cenário exige o acompanhamento das informações agrometeorológicas, que podem ser utilizadas tanto no planejamento dos cultivos quanto no processo de tomada de decisão, ajudando o produtor a ajustar o melhor momento para execução de diferentes práticas agrícolas e levando à redução dos riscos. Ainda assim, em relação à geada dificilmente é possível se precaver contra seus impactos.
• Extremos climáticos afetam a cafeicultura: a intensa variação do clima é a maior preocupação dos produtores, até mais que a sazonalidade de mercado e os custos de produção. “Esses extremos da natureza têm prejudicado muito a cafeicultura. Por mais que haja algumas recomendações técnicas, como a aplicação de açúcar ou de cloreto nas lavouras, por enquanto isso tudo é muito novo e ainda não temos nada efetivo quanto a resultados quando da ocorrência de eventos climáticos de extrema severidade, que transcendem a capacidade de gestão dos produtores”, afirma Ademar Pereira, presidente da Câmara Setorial do Café e coordenador adjunto da Comissão de Cafeicultura da FAESP.
• Atenção à previsão do tempo: ficar atento aos telejornais ajuda bastante, mas existem fontes especializadas. O site do Instituto Nacional de Meteorologia é uma boa alternativa. Frauzo Ruiz Sanches, coordenador técnico da Comissão Especial de Citricultura da FAESP, indica para os produtores da região de Bauru o serviço gratuito do Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet), que atualiza a previsão continuamente em seu perfil no Twitter. “Hoje temos à disposição sistemas de previsão através de sites de universidades e ainda grupos de WhatsApp de cooperativas. Alguns deles são gratuitos e qualquer agricultor pode ter acesso”, diz.
• Apoio aos produtores: o Sistema FAESP/SENAR-SP, por meio de suas Comissões Especiais e Técnicas, sempre com o apoio da rede sindical, se encontra à disposição para esclarecimento aos produtores, como parte de sua missão em defender os interesses da categoria econômica rural em todo o Estado de São Paulo e representá-la perante os poderes públicos, bem como colaborar com o fortalecimento e a expansão da economia nacional.
Fonte: FAESP