Relatório do banco de investimentos aponta que, na comparação com o biocombustível, gasolina seria mais beneficiada por redução nos impostos federais sobre combustíveis
O alto preço dos combustíveis tem motivado ações governamentais e disputas políticas há mais de um ano. Em um dos mais recentes desdobramentos, duas Propostas de Emenda à Constituição (PEC) chegaram ao congresso.
A primeira delas, que conta com o apoio do governo, foi apresentada pelo deputado federal Christino Áureo (PP-RJ) e visa permitir que União, estados e municípios reduzam parcialmente ou até zerem os impostos sobre óleo diesel, gasolina e o gás de cozinha em 2022 e 2023. Esta medida não precisaria de compensação da queda de arrecadação com o aumento de outros tributos ou com corte de despesas.
Antes mesmo da publicação da PEC, entretanto, o banco de investimentos BTG Pactual apresentou um relatório em que calculava o impacto dos impostos federais zerados sobre o preço dos combustíveis do ciclo Otto. Os assinantes do NovaCana receberam informações sobre este documento na última quinta-feira, 3, por meio da newsletter NC+.
“Como as informações divulgadas até agora são apenas preliminares, obviamente ainda há muitas incertezas. Isso inclui, entre outros pontos, quão baixos os impostos poderiam ser reduzidos, por quanto tempo eles seriam capazes de permanecer nesses níveis e quais combustíveis seriam impactados”, pondera e completa: “A aprovação da PEC no Congresso é outro ponto a ser observado”.
Na ocasião, o BTG manteve a recomendação de compra das ações de sucroenergéticas negociadas em bolsa de valores, mesmo que a PEC seja aprovada.
Para os analistas do banco, o valor do etanol nas usinas de São Paulo pode cair até 7,5% caso o imposto federal seja zerado. O cenário também inclui a possibilidade das sucroenergéticas quererem manter um preço nas bombas equivalente a 75% do cobrado pela gasolina.
Conforme os cálculos apresentados, a redução do preço da gasolina nos postos seria de R$ 0,64 por litro, o equivalente a cerca de 10% em relação aos valores atuais. Como base, foi utilizado o valor de R$ 6,22/L – sem os impostos, ele iria para R$ 5,58/L.
Para o etanol hidratado, no entanto, o impacto dos tributos zerados seria de R$ 0,24/L. Desta forma, seria necessária uma redução adicional de R$ 0,25/L nas usinas para que fosse mantida a mesma taxa de competitividade, saindo de R$ 3,30/L para R$ 3,05/L. Com estas medidas, o valor do biocombustível nos postos passaria de R$ 4,67/L para R$ 4,18/L.
“O preço mais baixo do etanol pode incentivar as usinas a direcionar sua produção para o açúcar e, assim, prejudicar os preços por conta da posição dominante do Brasil no comércio global”, observam os analistas, que completam: “Mas esperamos que essas consequências sejam limitadas por enquanto”.
De acordo com eles, o adoçante vem sendo negociado com um prêmio de 12% em relação ao biocombustível durante a entressafra, o que já deve incentivar as usinas a buscar buscarem uma produção maximizada de açúcar em 2022/23. Ou seja, há poucas chances de que um etanol mais barato possa aumentar significativamente a oferta da commodity.
Para completar, o BTG Pactual também aponta que a safra do Centro-Sul deve ficar abaixo de seu potencial de moagem, com apenas um leve crescimento ante 2021/22. A atual projeção do banco é de um processamento entre 560 e 570 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, o que também limita a quantidade de açúcar que o país pode produzir e exportar.
Por Renata Bossle
Fonte:NovaCana