Castor Becker Júnior/C5 NewsPress
Relatório apontando que 80 novos aviões e helicópteros entraram no mercado em 2021 foi divulgado junto com a assinatura de um protocolo de intenções coma Embrapa para aprimoramento de profissionais que atuam no setor
A aviação agrícola brasileira entrou 2022 com uma frota de 2.432 aeronaves – 2.409 aviões e 23 helicópteros. O que representa um crescimento de 3,40% – equivalente a 80 novos aparelhos, em relação ao ano anterior. Os dados fazem parte do levantamento Frota Brasileira de Aeronaves Agrícolas, elaborado pelo ex-diretor da entidade e consultor Eduardo Cordeiro de Araújo junto ao Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Araújo considerou o retrato do setor até 31 de janeiro do ano passado – indicando a situação da frota na virada para 2022. Com isso, o Brasil mantém a posição de segunda maior força aérea agrícola do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos (que tem mais de 3,6 mil aeronaves) e à frente de países como Argentina, Austrália, Canadá, Costa Rica, Nova Zelândia e outros.
Os números foram divulgados na manhã desta sexta-feira (18), último dia da 32ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas, em Capão do Leão, no Rio Grande do Sul. Foi durante a solenidade de assinatura do protocolo de intenções entre o Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag) e Embrapa Clima Temperado, com sede em Pelotas, para aperfeiçoamento de pessoal. O foco, neste caso, é a realização de cursos voltados especialmente para agrônomos, técnicos agrícolas e pilotos que atuam nas operações aéreas.
A ideia com o acordo é aproveitar o conhecimento dos mestres e doutores da estatal de aprimorar a eficiência e segurança em campo – primeiro no Rio Grande do Sul, mas com objetivo de expandir o projeto para todo o País. Com a assinatura do protocolo, Ibravag e Embrapa devem agora discutir detalhes sobre o currículo, dinâmica e prazos para os cursos.
A Embrapa Clima Temperado, aliás, foi uma das seis unidades da estatal que participaram do projeto Redagro entre 2013 e 2017. No caso, uma parceria entre Embrapa e Sindag que resultou na maior pesquisa feita no País sobre tecnologias de aplicação (terrestre ou aérea), abrangendo também 10 universidades parceiras e uma empresa de tecnologia.
Relatório abrange distribuição por tipos de operadores
Além do relatório sobre o crescimento da frota, Eduardo Araújo se debruçou também sobre a distribuição das aeronaves entre os tipos de operadores aeroagrícolas: neste caso, com estudo Operadores Brasileiros de Aviação Agrícola. Também considerando a situação do setor no começo de 2022, o levantamento apontou que 860 aeronaves agrícolas (35,36% da frota) pertencem a 758 operadores privados (categoria TPP, que abrange fazendeiros, cooperativas ou empresas de produção que têm seus próprios aviões). Já as empresas aeroagrícolas (categoria SAE, que são os prestadores de serviços para terceiros) têm 1.541 aeronaves 63,36% do total.
Entre as 31 aeronaves restantes na conta (1,29%) estão os aparelhos de governos ou autarquias federais ou estaduais, além de um protótipo e aeronaves de instrução. Entram aí, por exemplo, aviões pertencentes a Corpos de Bombeiros de Goiás e Mato Grosso (configurados para combate a incêndios), os usados pela Academia da Força Aérea e aparelhos das seis escolas de formação pilotos agrícolas do País.
RANKING POR ESTADOS
Os relatórios preparados por Araújo apresentam também os rankings por Estados, para frota e operadores. Em números de aeronaves, o Mato Grosso segue liderando, agora com 600 aviões agrícolas (24,67% da frota do País). O Rio Grande do Sul aparece em segundo, com 419 aviões operando em lavouras. Na sequência vêm São Paulo (322 aeronaves), Goiás (295) e outras 20 unidades da Federação.
Já nos dados sobre operadores, os gaúchos concentram o maior número de empresas aeroagrícolas, com 71 prestadoras de serviços terceirizados (que operam 367 aviões) – contra 49 operadores privados (operando 46 aeronaves). Enquanto o Mato Grosso lidera a lista de operadores privados, com 306 produtores que operam 367 aviões em fazendas próprias – contra 48 empresas somando 232 aeronaves para serviços terceirizados no Estado.
MODELOS E COMBUSTÍVEIS
Ainda sobre a frota, a Embraer segue liderando, concentrando 55,47% do mercado brasileiro com as sete gerações do modelo Ipanema. Trata-se de um avião de motor a pistão, fabricado desde os anos 70 e que desde 2014 sai de fábrica movido a etanol.
Mas outra característica que se mantém no crescimento da frota braseira é o avanço da fatia dos aviões turboélices, de fabricação norte-americana (maiores, de maior potência e com maior rendimento nas lavouras). Enquanto a quantidade total de aeronaves agrícolas no País cresceu 56% nos últimos 10 anos, o avanço da parcela turboélice foi de 344% no mesmo período. Em outras palavras, enquanto esses modelos eram 3,39% do segmento em 2011, hoje eles representam 22,45%. Aliás, não por acaso o Brasil é hoje o mais importante mercado estrangeiro para as fabricantes norte-americanas.
Sobre combustíveis utilizados pela aviação agrícola no Brasil, 996 aviões e helicópteros (40,96%) são movidos a gasolina de aviação (avgas). Enquanto outros 846 aviões (34,77%) são movidos a etanol e há 590 aeronaves (24,27%) que utilizam querosene de aviação (QAV).
PREVISÕES, EXPECTATIVAS
À primeira vista, número de 80 novas aeronaves agrícolas entrando no mercado brasileiro em 2021 teria ficado abaixo do crescimento projetado pelo Sindag em outubro do ano passado, a partir de dados buscados junto aos fabricantes do Brasil e Estados Unidos. Na época, o sindicato aeroagrícola havia anunciado a projeção e um incremento de cerca de 130 aeronaves na frota até o final do ano – crescimento cima dos 4%.
Porém, o consultor Eduardo Araújo salienta que a entidade pode não ter errado totalmente. Isso porque, apesar de ter considerado apenas as novas 80 aeronaves cadastrados no RAB, ele detectou outras 70 aeronaves em situações de reserva de marca – que é o primeiro passo para o registro. Ou seja, uma situação que se aplica no caso de aviões ou helicópteros encomendados para 2021, mas cujo fabricantes não conseguiram entregar no mesmo ano.
DRONES
Aliás, falando em ficar para mais tarde, o Sindag espera no ano que vem poder incluir nas estatísticas os drones de pulverização. Isso devido à Portaria 298/21, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O documento entrou em vigor em outubro e, ao regulamentar o uso de drones no trato de lavouras, também tornou obrigatório seu registro no Sistema Integrado de Produtos e Estabelecimentos Agropecuários (Sipeagro), do Ministério.
Assim, o Sipeagro já recebe desde outubro o cadastramento de drones e de seus operadores, quanto os relatórios das operações de campo. Porém, até este início de ano apenas 74 empresas haviam se cadastrado no sistema – que teve alguns ajustes, mas promete ser cobrado com força em 2022. Isso vai ajustar a filtrar outra fonte de dados, que é o Sistema de Aeronaves Não Tripuladas (Sisant), da Anac. Este, por sua vez, apontava 2.098 drones agrícolas cadastrados até este início de ano. Porém, ao contrário do Mapa, que foca especificamente nos drones de aplicação de defensivos, o Sisant inclui os drones usados para diagnósticos por imagens das lavouras – categoria que já existe há cerca de uma década no País.
Por Castor Becker Júnior
Assessoria de imprensa do SINDAG