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A Primavera vai chegando no Brasil e no Vale do Ribeira

Produtores passaram por período de estiagem, frio intenso e geadas e sobreviveram pela adoção da principal prática: a prevenção

O inverno de 2021 vai chegando ao fim e as condições de clima e temperatura que foram extremas neste ano, em especial nos meses de julho e agosto, pegando muitos produtores de surpresa e desprevenidos, deixaram marcas e comprometeram várias atividades agrícolas, sendo as mais afetadas a olericultura e as culturas a campo. Algumas sofreram mais e perdeu-se toda a safra; outras menos, e podem ser recuperadas com as primeiras chuvas e os ares de Primavera que se anunciam. De qualquer forma, há sempre orientações a serem feitas neste pós-geadas, estiagem prolongada, déficite hídrico e o inverno mais rigoroso destes últimos tempos. É o que explicam os técnicos da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CATI/CDRS) do Vale do Ribeira, região onde predominam os bananais, o cultivo de pupunha e a bubalinocultura, entre outras atividades, como as plantas ornamentais de torrão ─ azaleia, podocarpo, orquídea-bambu, bordo, entre outras ─ bem representativas na região.

Bubalinocultura encontra no Vale condições ideais

A região do Vale do Ribeira tem o maior rebanho de búfalos do Estado de São Paulo, com aproximadamente 30 mil cabeças. Existem produtores grandes, mas a grande maioria é de pequenos produtores, agricultores familiares em sua maioria somando cerca de 300 propriedades que se dedicam, em especial, ao leite. O animal tem excelente adaptação à região e o leite de búfala tem grande aceitação no mercado. Entre as vantagens, está um valor estável por litro para quem vende e, ainda, um alto poder agregado na forma de vários queijos, em especial a muçarela, mas também outros, como o queijo curado, que lembra em muito o famoso queijo produzido na Serra da Canastra, em Minas Gerais. Quem fala sobre as propriedades deste leite e/ou queijo é o engenheiro agrônomo Eduardo Soares Zahn, da CATI/CDRS Regional Registro, um conhecedor da região.

Zahn e o médico veterinário Diego Cavalcante de Souza, também técnico da CATI/CDRS Regional, fazem a dupla que acompanha as atividades de produtores, como Rodrigo Zanella Muniz, que tem uma área total de 60ha, onde pouco mais da metade (32ha) é formada por pastagens onde foram instalados 30 piquetes. Rodrigo foi propriedade-piloto do Projeto CATI Leite e é ‘velho’ conhecido dos extensionistas. “O Rodrigo é um produtor dedicado, que está sempre à procura das melhores técnicas”, confirma Zahn. Durante as últimas enchentes Rodrigo ficou apenas com 10 piquetes, pois as cercas foram destruídas, mas já está providenciando para voltar aos 30 piquetes ideais.

Exatamente por essa característica ─ ter em vista melhores planejamento e gestão da propriedade ─ é que ele acatou as orientações e, hoje, reduziu o rebanho, mas ganhou em produtividade. “Na entressafra (período de estiagem), eu parava de tirar leite, não compensava, dava tipo dois litros por búfala/dia; hoje, nesta época, consigo tirar cinco litros/dia, o que é bastante, pois as búfalas já pariram há cerca de oito meses e já nem estão com os bezerros, porém continuam dando leite. Hoje, tenho 300 dias de persistência (dias de tiragem de leite) com o rebanho que foi reduzido, no último ano, de 42 para 22 búfalas”, conta Rodrigo, que diz orgulhoso: “Tem gente com muito mais rebanho e não tira o que eu tiro de leite!”

Uma das características que auxiliam no planejamento é ter o cio controlado, pois a fêmea entra no cio em período determinado, de março até setembro, uma particularidade do Estado de São Paulo, pois o cio acontece em função da diminuição da luminosidade nos períodos de outono e inverno. O desmame dos bezerros é previsto entre o oitavo e o nono mês de vida, então é possível controlar o rebanho. “No inverno, eu já não tenho nenhum bezerro concorrendo com o leite, mas as fêmeas continuam em lactação”, explica Rodrigo, que além de ter touros para monta, também está utilizando a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), uma técnica que os técnicos da CATI/CDRS incentivam.

Outra vantagem é o fato de o leite de búfala não sofrer os mesmos altos e baixos no valor de venda e permitir ao produtor uma renda estável, que propicia melhor planejamento. E ainda falando em planejamento, o produtor conta que, ao adquirir ou herdar terra (no caso dele), é sempre preciso estar atento ao fato de contar com uma área alta de pastagem, já que na época das enchentes os rios costumam alagar as terras baixas. “Áreas alagadas são um problema maior do que as geadas”, explicam Zahn e Diego, porque logo após o alagamento aparecem os curuquerês, uma lagarta voraz que acaba com o pasto. Já o capim é utilizado, o Tangola, que é bastante proteico e nutritivo, é próprio para áreas alagadiças, de várzeas, e não chega a sofrer muito, embora necessite de adubação. “Agora mesmo já estão brotando e logo estarão bem altos com bastante alimento para o gado”, diz Rodrigo, mostrando que o capim chega bem acima da sua cintura, no lombo dos animais.

O preparo para a época de escassez deve ser feito bem antes, garante Diego, “quem não se prepara com antecedência, sofre as consequências”, diz o veterinário. O preparo é ter ração suficiente e juntar a ela feno, capim moído ou em forma de silagem, neste caso cortado fresco, prensado e ensacado sem ar (sistema anaeróbio) ou cana, que tem a vantagem de ser cortada e servida fresca. “Ainda são poucos aqueles que investem em silagem de milho, por exemplo, que oferece mais nutrientes, porém tem custo maior, mas fazendo as contas, alguns já começam a investir. “Os búfalos não suportam passar fome, é aí que mostram a sua força e não há cerca que os prenda quando vão em busca de comida. De maneira geral, são animais extremamente dóceis e fáceis de lidar”, concordam tanto os técnicos quanto os produtores.

Assista a reportagem com Eduardo Soares Zahn e Rodrigo Zanella Muniz acessando o link https://www.youtube.com/watch?v=00pBUNg8J7c

Banana e pupunha também fazem parte da paisagem do Vale do Ribeira

O engenheiro agrônomo Agnaldo José de Oliveira nasceu em Sete Barras, sabe todas as histórias e lendas da cidade, e sendo criado na região, convivendo com os extensos bananais, desenvolveu um interesse pela cultura e, hoje, é um dos técnicos da CATI/CDRS que mais entende quando o assunto é banana e também pupunha, cultura que foi ganhando espaço no Vale do Ribeira por oferecer boas condições de cultivo. Lotado na Regional Registro, Agnaldo percorre os municípios vizinhos para atender os produtores. E tem uma boa notícia em relação à banana e às geadas que ocorreram durante o inverno. “A bananeira, diferente de outras culturas, tem o seu rizoma resguardado, pois fica embaixo da terra. As folhas podem ‘queimar’, as bananas que estavam ‘enchendo’ serão perdidas, mas novas folhas e cachos irão nascer e darão bons frutos na próxima safra”, diz Agnaldo. Porém, para que isso aconteça, é preciso, durante todo o ano, ter a planta bem tratada e bem nutrida. “Não há remédio milagroso, a prevenção está em fazer as práticas corretas”, afirma o experiente técnico.

Entre as Boas Práticas, estão os tratamentos fitossanitários para evitar a broca, por exemplo, e fazer as adubações necessárias, preparando o bananal para o período de estresse e para não perder a planta, o resultado é previsível: bananais melhor nutridos, sofrem menos”. E aí vai um recado também para os consumidores: “ A geada geralmente causa o ‘chilling’, que é a coloração mais escura dos frutos, porém não altera o sabor e nem o valor nutritivo da banana, que são conhecidos e apreciados”. Portanto, não se deixe levar pela aparência e continue consumindo bananas, essa fruta que tem ‘a cara’ do Brasil e é marca registrada do Vale do Ribeira, de onde saem também os subprodutos como a banana chips, a banana-passa e os doces de banana, não só para todo Brasil, mas também para exportação.

Além da banana, as plantações de palmeira pupunha também crescem na região. Somente no pequeno município de Sete Barras, há 10 empresas que processam o palmito pupunha e direcionam toda a sua produção para todo o Estado e fora dele, seja na forma de rodelas, toletes ou picados, usados em tortas, cremes e recheios em diversas receitas, inclusive in natura. Todas as partes são aproveitadas e o palmito pupunha tem a grande vantagem de, a partir do segundo/terceiro anos de implantação, perfilhar, permitindo vários cortes, diferentemente de outros palmitos, como juçara e palmeira-real, antes muito explorados na região de forma extrativista e muitas vezes ilegal.

“O palmito pupunha tem caído cada vez mais no gosto popular, tem fácil adaptação na região e tem sido mais uma possibilidade de diversificação de culturas para os produtores”, afirma Agnaldo, que acompanhou todo o desenvolvimento da cultura, que veio ocorrendo nos últimos 20 anos, nos quais o principal sucesso de implantação foi na aquisição de mudas de procedência comprovada.

Além disso, como nosso assunto da vez são as geadas e a estiagem do inverno 2021, esta foi uma cultura que também sobreviveu bem, desde que tenham sido observadas todas as Boas Práticas Agrícolas, técnicas e os procedimentos que os produtores precisam adotar se quiserem permanecer na atividade tendo o retorno almejado. E, para isso, técnicos como os engenheiros agrônomos Agnaldo José de Oliveira e Eduardo Soares Zahn, e o médico veterinário Diego Cavalcante de Souza, além de outros, profundos conhecedores das características da região, estão sempre disponíveis na CATI/CDRS Regional Registro. As entrevistas sobre banana e pupunha podem ser acessadas nos links: https://www.youtube.com/watch?v=pyixuzw9VHU e https://www.youtube.com/watch?v=UeZhBDZ7Ngs

Ou entre em contato, faça uma visita, tire suas dúvidas; os endereços da Regional e das Casas da Agricultura a ela vinculadas estão disponíveis no site www.cdrs.sp.gov.br

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