Após um início promissor, com estimativa de produção de 270 milhões de toneladas de grãos, 2021 vai se mostrando um período complicado, devido a fenômenos que, neste ano, estão com uma intensidade bem maior do que normalmente: seca, crise hídrica, geadas, enchentes no Norte e até chuva de granizo.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ainda não refez as estimativas considerando as geadas, mas a produção deverá ficar inferior a 260 milhões de toneladas.
Os estragos deste ano são evidentes, mas o problema é que o efeito da geada vai se estender para o próximo também, principalmente nas plantações perenes como café, cana-de-açúcar e laranja.
Para o diretor da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, além de afetar a produtividade atual, a geada joga novos problemas também para a safra de cana-de-açúcar de 2022/23. Segundo ele, o manejo das lavouras será mais complexo.
A brota na área já colhida, e que foi afetada pela geada, vai passar por uma poda, e voltará a brotar, mas com atraso em relação ao processo vegetativo esperado anteriormente.
Isso afeta não só a produtividade, mas também o planejamento da colheita de 2022/23. Se o produtor colher antes, perde em produtividade, devido ao ciclo da planta. Se retardar, fica com manejo e custos mais complicados.
Por sua vez, uma das preocupações com o café são os efeitos da geada sobre as lavouras em formação e sobre a necessidade de poda dos cafezais afetados. O país tem 391 mil hectares de café em formação, segundo a Conab. A área total em produção é de 1,82 milhão de hectares.
Além de reduzir a produção da próxima safra, a de 2022/23, a geada poderá provocar um excesso de produção em dois ou três anos, quando os cafezais afetados voltam a produzir normalmente, segundo o coordenador de produção agrícola da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Maciel Silva. Um aumento de oferta traria redução de preços.
Em algumas regiões, a geada vai prejudicar o desenvolvimento vegetativo da planta. Em outras, poderá levá-la à morte.
A produtividade em 2022 vai depender da necessidade de podas em áreas afetadas pelo frio. A poda nos ramos plagiotrópicos, os galhos laterais da planta, tem uma recuperação mais rápida, mas as podas mais radicais, como o corte da planta na parte de baixo, poderá demorar pelo menos dois anos para um retorno à produção.
Diante disso, a safra de 2022/23 está bastante incerta, e o produtor deverá tomar cuidados para quantificar suas vendas antecipadas. A deste ano, após 63 milhões de sacas em 2020, deve ficar abaixo dos 48 milhões projetados ainda em maio.
Silva afirma que, em geral, o produtor faz seguro contra a quebra de produção, mas não para a proteção das plantas, contra geadas e granizo. Neste ano, a perda é maior para os produtores porque não afeta só a produção.
No setor de laranja, o frio provoca um forte estresse na planta. A florada pode ser até mais intensa, mas o que conta é quanto dessa florada vai vingar e se tornar fruta até a colheita, segundo Ibiapaba Netto, da CitrusBR.
Por Mauro Zafalon
Fonte: Folha de S. Paulo