O início lento da colheita da safrinha de milho e a perspectiva de quebra devido à estiagem e às geadas fazem com que consumidores do Paraná, grande produtor do cereal e também de proteína animal, setor dependente da ração, já recorram ao grão de estados vizinhos e avaliem novas importações.
Na terça-feira, o Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), da Secretaria de Agricultura do estado, relatou 3% da safrinha colhida, mesmo porcentual de uma semana atrás.
O analista de milho do Deral, Edmar Gervásio, diz que até agora foram colhidas apenas as lavouras precoces da região sul do estado. “Vai começar a ter volume no fim do mês, se houver condições de clima. Volume de colheita nas regiões oeste e norte é em agosto e setembro”, relata.
Segundo Gervásio, com o atraso de 15 a 20 dias no plantio no Paraná este ano, provavelmente a colheita estará mais concentrada em agosto, em vez de ficar distribuída entre julho e outubro.
O Deral ainda não tem estimativa das perdas causadas por geadas no estado, que estão sendo compiladas e serão apresentadas no próximo relatório mensal. “Tem muitos relatos, mas número mesmo só no fim do mês”, diz o analista.
O cenário, contudo, não é favorável. “Já tinha perda significativa por causa da estiagem e vai ter uma perda também grande em decorrência da geada. Muitas lavouras foram afetadas em todo o estado”, diz e completa: “Não teve nenhuma região que escapou, algumas em maior e outras em menor grau, todas tiveram impacto por causa da geada”.
Os maiores prejuízos estão no norte e oeste do Paraná, onde se concentra a produção em safrinha. De acordo com o analista, ainda há risco climático para as lavouras. Para a semana que vem, a expectativa é de frio intenso. Caso ocorram mais geadas, ainda há possibilidade de novas perdas.
Gervásio diz que consumidores paranaenses terão de complementar o suprimento em outros estados ou países. “Produtor de proteína animal vai ter que buscar em outro lugar, seja Mato Grosso, Goiás, eventualmente a região oeste pode importar do Paraguai e da Argentina. Vai ter que buscar fora porque a safra paranaense não vai ser suficiente para abastecer o mercado interno”, declara.
Um corretor do norte do Paraná disse ao Broadcast Agro que as compras de milho de fora do estado já ajudam a segurar as cotações no mercado disponível. Foram relatados negócios com milho a R$ 94 por saca no norte do Paraná. Na semana passada, saíram acordos envolvendo milho mato-grossense por R$ 93,50 por saca mais ICMS no oeste do estado, contou a fonte.
Outro corretor, este de Ponta Grossa, nos Campos Gerais, acrescentou que, enquanto pequenos consumidores sinalizavam R$ 96 por saca no mercado à vista, fábricas de grande porte da região indicavam R$ 90 por saca, preço pelo qual fecharia a conta para importar.
Para o agente, os compradores já haviam buscado milho fora do país após as perdas causadas pela estiagem e devem repetir o movimento, já que novas reduções da oferta são esperadas por causa das geadas. “Deve começar a chegar mais milho importado, se bobear comprador vai se abastecer (com produto de fora) até a safrinha do ano que vem”, disse.
O consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, destacou que apenas 11% das lavouras paranaenses estão em situação boa a excelente. Para ele, a produção do estado deve ficar em torno de 7 milhões de toneladas, ante um potencial inicial de 17,5 milhões de toneladas, e muito do milho a ser colhido já está comprometido para exportação.
Além de recorrer a outros estados, principalmente Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, as indústrias de ração locais também devem disputar a produção de trigo. “Dentro de 40 dias começam a ocorrer as primeiras colheitas de trigo. Provavelmente parte vai para ração”, diz. Na sua visão, o estado tende a recorrer à importação mais para o fim do ano, a começar pelos vizinhos Paraguai e Argentina.
A Fortesolo, especialista em movimentação e armazenamento de fertilizantes, está operando com milho no porto de Paranaguá e prevê receber nos próximos dias mais um navio com o cereal vindo da Argentina. Segundo a empresa informou na terça-feira, 13, a expectativa é de que sejam importadas de 35 a 40 mil toneladas de milho a granel, destinados à alimentação animal. A carga dos três primeiros navios que chegaram ao litoral paranaense nos últimos meses com milho totalizou 102,799 mil toneladas.
O gerente de consultoria agro do Itaú BBA, Guilherme Bellotti, disse que o cenário para o milho no Brasil é de disponibilidade apertada até a safrinha do próximo ano. Ele reforçou a perspectiva de que consumidores devem buscar oferta nos países vizinhos. O banco espera produção de milho em safrinha de 58 milhões a 60 milhões de toneladas, ante 65 milhões de toneladas esperados anteriormente.
Contudo, ele lembrou que Argentina e Paraguai também tiveram problemas de safra neste ano, o que pode motivar uma busca por milho norte-americano, dependendo dos preços no país e da taxa de câmbio quando a safra dos EUA estiver consolidada.
O representante estima que o Brasil pode importar em torno de 2 milhões a 2,5 milhões de toneladas de milho nesta temporada. Esse movimento deve ser mais representativo entre o quarto trimestre deste ano e o primeiro trimestre do ano que vem, passada a entrada da safrinha.
O cenário, com a quebra, é de pressão ainda maior sobre as margens da indústria local. “O que tem ajudado é que o milho não está no pico de preços. O câmbio se apreciou e os preços em Chicago voltaram um pouco; isso acabou ajudando os preços no Brasil a retrocederem, mas ainda assim são valores elevados”, disse. “Mas parece que as melhores oportunidades para quem precisava adquirir o grão, a R$ 80 a R$ 85 por saca, ficaram para trás, a menos que o câmbio se aprecie de maneira significativa”.
Por Leticia Pakulski
Com colaboração de Isadora Duarte
Fonte: Agência Estado