TerraClass Cerrado reforça monitoramento da região e faz parte de ação estratégica do projeto FIP Paisagens Rurais
Conhecer e mapear o uso e a cobertura da terra para identificar e qualificar quais são as principais atividades antrópicas desenvolvidas nas unidades territoriais é o objetivo do TerraClass. Fruto de uma parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), unidade vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), o projeto começou em 2008, com foco em áreas desflorestadas na região da Amazônia Legal.
Expandido para o Cerrado, o TerraClass fornecerá ao Governo Federal e público em geral dados oficiais sobre o uso e cobertura da terra, referentes a este bioma. Com isso, a ferramenta assume papel estratégico no projeto “Gestão Integrada da Paisagem no Bioma Cerrado”, apoiado pelo Programa de Investimento Florestal (FIP – Forest Investment Program). Conhecido como FIP Paisagens Rurais, tem como principal escopo fortalecer a adoção de práticas de conservação e recomposição da vegetação nativa, bem como de práticas agropecuárias de baixa emissão de carbono no bioma Cerrado, que serão mensuradas por meio do monitoramento da dinâmica da paisagem, via satélite.
Esse monitoramento terá a contribuição do TerraClass, bienalmente, oferecendo informações sistemáticas e tornando possível determinar a dinâmica e o histórico do uso e cobertura das terras nas áreas antropizadas da região. O projeto é coordenado pela Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação (SDI) e Serviço Florestal Brasileiro (SFB), do Mapa, em parceria com Inpe, Embrapa Cerrados, Embrapa Informática Agropecuária, Senar e Agência de Cooperação Técnica Alemã (GIZ).
“A disponibilidade de uma ferramenta tecnológica capaz de mapear e quantificar o quanto de área degradada, com baixa produtividade, se transformou em área produtiva, é um grande passo para o Brasil. O TerraClass soma-se a outras tecnologias do Mapa, como o Pronasolos e o CAR dinamizado, disponíveis para a sociedade em geral, que compõem um leque de ferramentas de diagnóstico e elaboração de estratégias de curto, médio e longo prazo. Vejo um oportuno uso para fortalecer políticas públicas, como o ABC+ e o Programa Águas do Agro”, comenta Mariane Crespolini dos Santos, diretora do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Mapa.
“Os mapeamentos do TerraClass serão fundamentais para o processo de implantação do Código Florestal, principalmente na área de regularização ambiental porque vamos conseguir monitorar essa recuperação da vegetação nativa e compreender como as propriedades rurais estão se adequando à legislação. É extremamente importante termos esses dados para conseguirmos planejar políticas públicas, entender onde são as áreas de maior restauração ambiental e como o governo pode disponibilizar crédito e gerar incentivos para essa restauração e, ao mesmo tempo, também ajuda o país a mensurar suas emissões de carbono”, avalia João Adrien, diretor de Regularização Ambiental do SFB.
Adotando uma escala cartográfica de maior detalhe, o TerraClass irá identificar, delimitar, mapear e analisar, também, as mudanças do uso e cobertura da terra, e da paisagem, em dez bacias hidrográficas definidas para a implementação das ações de recuperação de áreas degradadas nas propriedades rurais aderentes ao projeto. O projeto apoiará ainda a execução de mais dois mapeamentos, correspondentes aos anos base de 2020 e 2022.
“O projeto TerraClass Cerrado oferece subsídios e informações ao Governo Federal, e, também a toda sociedade civil para o enfrentamento de questões ligadas ao planejamento da produção agropecuária no cerrado, a proteção do meio ambiente, sustentabilidade e gestão dos recursos naturais, contribuindo com o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro”, diz Claudio Almeida, pesquisador do Inpe e um dos responsáveis pelo desenvolvimento da plataforma.
O TerraClass identifica e qualifica qual é o tipo de uso e cobertura das terras presentes nas áreas já antropizadas, previamente detectadas e delimitadas pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal (Prodes) e não está focado no desmatamento.
Destaques
Considerando toda a extensão do bioma Cerrado no Brasil, o mapa de uso da terra produzido no âmbito do FIP Paisagens Rurais, o TerraClass Cerrado 2018, mostrou uma cobertura de 49,4% de Vegetação Natural Primária e de 28,9% de Pastagem.
Apesar das limitações relacionadas à diferença das metodologias adotadas na execução dos mapeamentos históricos, os dados obtidos com o TerraClass Cerrado 2018, quando confrontados espacialmente com os dados do mapeamento referente ao ano base de 2013, realizado no âmbito do Programa de Monitoramento Ambiental dos Biomas Brasileiros-PMABB, mostram que, em grandes números, 76% da área de agricultura se manteve como área consolidada e estável entre 2013 e 2018. Sobre a Agricultura Temporária de 2 ciclos, os dados mostram que, em 2018, 77% destas atividades ocorreram sobre áreas já consolidadas de agricultura, 14% sobre pastagens e 5% sobre áreas naturais de 2013.
“Uma inovação do TerraClass Cerrado é o mapeamento da agricultura temporária de um e de mais de um ciclo produtivo por ano agrícola, que permite o monitoramento da dinâmica de intensificação das atividades agrícolas relacionadas à produção de grãos e fibras. A agricultura de dois ciclos é uma tecnologia nacional que possibilita ao produtor obter duas safras e não apenas uma no mesmo ano agrícola. O que verificamos então foi que uma parte muito importante do crescimento da produção agrícola nacional provém de ganhos advindos do aumento da produtividade, através da adoção de tecnologias inovadoras e disruptivas, e outra parte se deu por meio da otimização e do reuso de uma mesma área, para a produção de mais de uma safra”, esclarece Alexandre Coutinho, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária e um dos responsáveis pelo desenvolvimento da plataforma.
Outro dado importante apontou a estabilidade da área das pastagens no período, representando aproximadamente 29% da área total. A constatação dessa estabilidade, associada à expansão da área de agricultura temporária sobre as pastagens, indica que houve um deslocamento de parte das pastagens para outras classes de uso e cobertura de 2013.
A inclusão da classe “Vegetação Natural Florestal Secundária” é uma importante inovação nos dados de 2018. Essa classe representou 4,7% da área total. Em termos da paisagem, essas unidades territoriais assumem papel similar à cobertura natural do Cerrado, ajudando na recomposição dos ecossistemas naturais.
Plataforma
Outro aspecto estratégico é o aperfeiçoamento e modernização da plataforma digital GeoPortal TerraClass (www.terraclass.gov.br), desenvolvida pela Embrapa Informática Agropecuária para a organização, distribuição, análise e disseminação dos dados do projeto. Além de disponibilizar toda a base de dados original, por meio de uma interface intuitiva e extremamente amigável, o portal dá acesso ao “WebGIS TerraClass”, sistema de geoinformações que oferece aos usuários um ambiente de fácil interação para a visualização dos mapas, e execução de diversas análises sobre a dinâmica territorial. A rápida evolução na área de tecnologia da informação, disponibilizando novos ambientes, ferramentas e funcionalidades para desenvolvimento de sistemas de gestão territorial, impõe a necessidade de atualização dos componentes de software dessa plataforma. Neste sentido, será desenvolvida uma nova interface Web para remodelar o aspecto visual e a organização dos elementos gráficos, bem como uma nova arquitetura de software para acesso aos mapeamentos produzidos.
FIP Paisagens Rurais
O Projeto Gestão Integrada da Paisagem no Bioma Cerrado – FIP Paisagens Rurais é financiado com recursos do Programa de Investimento Florestal, por meio do Banco Mundial. A coordenação é do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação, do Mapa, com parceria da Agência de Cooperação Técnica Alemã (GIZ), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Embrapa e do MCTI, por meio do Inpe.
Fonte: MAPA