Em São Paulo, 7 mil hectares receberam autorização para a prática da queima controlada – que se utiliza nos casos em que a colheita ainda não é mecanizada – na última safra, de acordo com dados divulgados pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo nesta terça-feira. A área representa menos de 2% do total de plantio, que alcançou 5,09 milhões de hectares (referentes à safra 2020/21).
A amplitude da autorização foi equivalente à da safra anterior, mas representa a menor área de queima autorizada da série histórica. “[A área queimada] é uma área inexistente, ou residual”, diz o secretário Gustavo Junqueira.
As autorizações para a queima em lavouras de cana vêm recuando desde a safra 2008/09, um ano após as usinas paulistas assinaram o primeiro Protocolo Agroambiental do Setor Sucroenergético. No documento, elas se comprometeram com a eliminação do uso do fogo nos canaviais até 2014 nas áreas mecanizáveis das empresas signatárias e até 2017 nas áreas não-mecanizáveis.
Em 2008/09, o emprego do fogo em lavouras de cana chegou a ser autorizado para 2,08 milhões de hectares, o que correspondia na época a 53% da área total de colheita no Estado. A fase de queda mais vertiginosa do uso da prática ocorreu até a safra 2014/15, quando o setor investiu na mecanização da colheita, que dispensa a necessidade de queima controlada. Naquela safra, o emprego do fogo foi autorizado para 260 mil hectares.
Em 2017, o setor firmou um novo protocolo, o Etanol Mais Verde, voltando a se comprometer com a eliminação da queima dos canaviais e com uma série de outras metas ambientais. Atualmente, são signatários do Etanol Mais Verde 117 usinas e 13 associações de produtores rurais, cobrindo uma área de 4,4 milhões de hectares no Estado. Na safra 2017/18, as autorizações para a prática da queimada em canaviais havia recuado para 50 mil hectares.
De acordo com a secretaria, a redução das autorizações para o emprego de fogo em canaviais no Estado evitou a emissão de mais de 11,8 milhões de toneladas de gases equivalentes a gás carbônico e de 71 milhões de toneladas de poluentes atmosféricos (como monóxido de carbono, material particulado e hidrocarbonetos).
A mecanização da colheita e o fim da queima acabaram provocando nos canaviais um aumento da ocorrência de pragas que antes não ocorriam quando antes havia o emprego do fogo, como insetos e nematoides. Para evitar a disparada do uso de agrotóxicos, o setor vem investindo no controle biológico de pragas, disse o secretário.
Outra vertente de impacto ambiental do setor é o consumo de água, que também vem diminuindo nos últimos anos. Na última safra, foram empregados em média 820 litros para cada tonelada de cana colhida e processada,. O volume é similar ao da temporada 2019/20, mas representa redução de 46% em uma década.
O patamar está ainda bem abaixo dos registrados na década de 90, quando o setor empregava em média 5 mil litros de água por tonelada de cana. Ainda assim, o consumo total de água pelo setor em São Paulo, calculado com base nos 361 milhões de toneladas de cana processados na safra passada, chegou a 296 bilhões de litros.
Segundo a secretaria, a diminuição do consumo tem ocorrido com a reutilização de água nas usinas, o aprimoramento de processos industriais e o avanço da colheita de cana crua e limpa a seco. “O ganho por hectare dessas empresas só aumenta com a implementação dessa tecnologia”, disse o secretário.
Fonte: Valor Econômico
Texto extraído do boletim SCA