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Cafeicultores de Garça pedem registro de indicação geográfica da região como produtora de cafés de alta qualidade

Café produzido no local é marcante e encorpado

Os cafeicultores da região de Garça, no interior paulista, entraram com o pedido de registro de indicação geográfica do café produzido na localidade no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O pedido foi feito em 18 de março de 2021, três dias depois do Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Gustavo Junqueira, publicar a resolução SAA-18, identificando a localidade como produtora de café.

O café produzido nos 15 municípios que formam a região de Garça tem característica marcante o chocolate, com bom corpo e acidez média e retrogosto prolongado. A ideia dos cafeicultores é ter o registro de indicação geográfica da bebida produzida na região para conseguir agregar valor ao produto e conquistar novos mercados, principalmente no exterior.

De acordo com o produtor, Paulo Ferreira Granchelli, desde 2017 os cafeicultores parceiros e/ou associados a Associação dos Produtores de Café Especial da Região de Garça, apoiados pelo poder público, se mobilizaram para reunir todos os documentos necessários para solicitar o registro ao INPI, sendo que a resolução publicada pela Secretaria de Agricultura finalizou o dossiê entregue para defender a região ao Instituto Nacional da de Propriedade Industrial.

“O registro de indicação geográfica é fundamental para agregarmos valor ao nosso produto. Com ele, o preço da saca do nosso café aumentará em cerca de R$ 15,00, equiparando se às demais regiões que já possuem este registro. A produção de café em Garça gira em média, de 600 mil a 1 milhão de sacas por ano. O IG agregará de forma permanente, valores entre R$ 9 milhões a R$15 milhões a mais, trazendo grande impacto para toda a cadeia produtiva dos municípios”, explica Granchelli.”

Além do valor agregado ao produto, o I.G. trará o reconhecimento da região pelo o mercado externo.  “Hoje, se um importador quer comprar café brasileiro, ele não comprará de Garça, por não nos conhecer. Ele comprará cafés do Sul de Minas, por exemplo, que tem esse registro. Por isso, esperamos que a partir desse documento, outros países passem a conhecer e a comprar nossos cafés, comodites e/ou especiais produzido aqui”, explica o cafeicultor.

Pesquisa científica é e será importante para esse processo

As pesquisas científicas voltadas a cafeicultura da região foi, é e será muito importante para o registro de indicação geográfica. De acordo com Adriana Novais Martins, pesquisadora da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Marília da APTA Regional, os produtores terão que empregar ainda mais tecnologias para se manterem competitivos e atenderem a nova demanda por produtos de qualidade no Brasil e no exterior.

A APTA Regional, o Instituto Agronômico (IAC) e o Instituto Biológico (IB), todas unidades da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócio (APTA), desenvolvem estudos com café na região e tem contato próximo com a Associação e demais cafeicultores. “Nosso trabalho, desenvolvido desde 2013, busca aumentar a rentabilidade dos produtores de café da região, auxiliando na maior produtividade e qualidade da bebida. As pesquisas buscam selecionar cultivares adaptadas as características de solo e clima da região do Centro Oeste do Estado, que cultiva mais de 12 mil hectares de café e produz entre 600 mil a um milhão de sacas por safra”, afirma.

Os estudos de seleção das cultivares de café mais adaptadas a localidade se iniciaram em uma área de 1,8 hectare, financiada pelo Grupo Perez, instalada na Fazenda Recreio, no município de Vera Cruz. “O café é uma bebida apreciada no mundo todo, com elevada demanda. Apesar de existirem inúmeras cultivares plantadas comercialmente, é fundamental o estudo do comportamento desses genótipos para aumentar a lista de recomendação aos cafeicultores regionais”, explica Adriana.

O projeto estuda 20 cultivares de café e o experimento é instalado com 23 tratamentos distintos para as plantas. A pesquisa avalia cultivares desenvolvidas pelo Instituto Agronômico (IAC-APTA), instituição responsável pelo desenvolvimento de cultivares de café que estão em 90% das lavouras brasileiras, além de materiais desenvolvidos pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) e do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná).         

A partir dessas avaliações os pesquisadores realizam análises fenológica, agronômica, produtiva e econômica das cultivares de café arábica, em cultivo irrigado. De acordo com a pesquisadora da APTA Regional, as cultivares também são avaliadas com relação à qualidade de grãos, bebida e análise de raiz. “Em posse dos resultados agronômicos, será realizada análise econômica e de rentabilidade comparando os materiais genéticos e determinando a viabilidade econômica para os sistemas produtivos regionais”, explica Adriana.


O papel da extensão rural ao longo dos anos contribuiu para a atual conquista da Indicação Geográfica de Procedência do café de Garça

O que hoje os cafeicultores de Garça e os técnicos e pesquisadores comemoram tem uma história que começou já há mais de uma década quando dos cafeicultores de Garça ainda não tinham a conscientização de que era preciso observar cuidados e tecnologia para produzirem um café de qualidade e, a partir daí, passo a passo, obter novas conquistas que levariam o café de Garça à posição alcançada hoje.

Quem conta esta história é o engenheiro agrônomo e cafeicultor Wanderlei Tavares Dias, que trabalhou por mais de 35 anos na extensão rural da Secretaria de Agricultura e Abastecimento e comandou por vários anos a Casa da Agricultura de Garça. Aposentado há exatamente um ano, Wanderlei continua prestando consultoria aos cafeicultores e é membro ativo da Associação dos Produtores de Garça ou a Café com RG, nome escolhido pelos associados para dizer o quanto desejavam uma identidade para o café produzido em Garça. “Já tínhamos certeza sobre o valor do nosso café, um café de sabor diferenciado, encorpado, que deixa vestígios de sua marca mesmo depois de ter sido saboreado há mais de uma hora”, conta Wanderlei.

E o extensionista, que ainda passa em frente à Casa da Agricultura de Garça, mesmo quando vai tomar um outro rumo, “por simples costume”, conta que tudo começou com a formação da Associação, que reunia, no início, cinco ou seis produtores dos 350 cafeicultores existentes na área rural de Garça. “Eu promovia, pela Casa da Agricultura, as ‘Manhãs de Campo’, que iam de abril a junho, época da colheita, e conversávamos sobre o futuro para nosso café. A maior parte, cerca de 80%, ainda derriçavam o café no chão e isso fazia com que a qualidade se perdesse. No começo, incentivamos a derriça no pano, mas não era suficiente, precisávamos de verba para aprimorar. A verba veio com o Projeto Microbacias II – Acesso ao Mercado, que possibilitou a compra de máquinas e implementos, temos colheitadeira, tratores, soprador, trincha, tudo o que era preciso para tirar o café do chão. Foram investidos cerca de R$ 1 milhão, sendo R$ 800 mil pelo Microbacias e parte foi de financiamento junto ao Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap), e estamos pagando agora a última prestação”, comemora Wanderlei.

“Conseguimos também nessa luta de mais de 13 anos, que o Governo do Estado acreditasse em nosso potencial e investisse, por intermédio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, R$ 300 mil. Precisávamos fazer e participar de testes e provas; reunimos um pequeno grupo e fomos à Barcelona, na Espanha, e apresentamos o nosso café ‘em teste de xícara’, junto a outros cafés especiais, inclusive os famosos colombianos e a reação foi excelente. Mas no mapa (Google Maps para regiões de café) Garça sequer aparecia como região produtora. Precisávamos dessa Indicação Geográfica para seguir em frente e conquistar os melhores mercados internacionais. Pena que durante essa conquista alguns se foram, como Hélio Bettega, já há algum tempo, de infarto”, diz, emocionado Wanderlei, que ainda este mês perdeu dois outros amigos cafeicultores para a pandemia da Covid-19, doença que ele mesmo e a esposa tiveram, mas da qual, felizmente, conseguiram se recuperar para comemorar este feito e o documento que faltava a Indicação Geográfica de Procedência, um orgulho para Garça, para São Paulo e para o Brasil, uma conquista que reuniu pesquisa, produtores obstinados e um extensionista da Secretaria de Agricultura e Abastecimento cumprindo seu papel.

O atual presidente da Associação Café com RG, Cassiano Tosta, frisa que a Indicação Geográfica de Procedência, que distingue o café de Garça e região, a qual reúne 14 municípios no entorno, ainda não é o final desta empreitada. Após conseguir este título, o próximo passo é a Indicação Geográfica de Origem. Tosta diz se tratar de um processo demorado e que exige várias ações. “No início, além da Casa da Agricultura, contamos, também como o apoio do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), mas com o tempo vimos a necessidade de contratar uma consultoria especializada, a qual fez todo o levantamento histórico para que o mundo passasse a reconhecer a região − que produz de 600 mil a um milhão de sacas, cerca de 2% da produção nacional de café − como produtora de Cafés Especiais pela ‘Special Coffee Association’, ou seja, que obteve pontuação acima de 80, conferindo qualidade e rastreabilidade ao produto”, conta Tosta.

“Ter esta Indicação Geográfica de Procedência é ter um reconhecimento histórico de que uma determinada região tem aptidão ou habilidade notória para produzir determinado produto”, explica Tosta. “Trata-se de uma marca coletiva, que pertence a todos da região, e tem critério de uso e normativas definidas pelo Congarça (Conselho dos Cafés da Região de Garça), valorizando a produção regional e nos tornando conhecidos no mundo”, frisa o presidente da Café com RG. O processo, já tem o aval do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) e está em andamento; a recente publicação no Diário Oficial do Estado (DOE) reconhece a notoriedade histórica e torna esse feito uma conquista não só para o Estado de São Paulo, mas para o Brasil.

Além disso, segundo o presidente, exigir a procedência de produtos tem sido uma tendência mundial e o Brasil precisa estar inserido entre os países que detêm essa Indicação: “Enquanto a França tem cerca de 1.700 produtos com Indicação Geográfica de Origem, o Brasil tem pouco mais de meia centena e apenas seis ou sete relativos ao café, dois desses em São Paulo, o café da Alta Mogiana e o café de Pinhal”.

“O passo a seguir, obtida a Indicação geográfica de Procedência de uma determinada região, é obter a Indicação Geográfica de Origem, a qual requer outros valores, como o valor sensorial, e é mais complexa”, confirma Cassiano Tosta, que está feliz, mas de olho no próximo passo, na próxima conquista para a região de Garça e para o Brasil.

Por Paloma Minke

Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

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