Projeto de produção de biofertilizante foi um dos contemplados com o Prêmio Hugo Werneck
Em vez de poluir o solo e os cursos d ‘água, os dejetos de bovinos estão garantindo mais renda para pecuaristas de leite. É o caso do pequeno produtor rural Dilson Geraldo da Silva, de Bocaiúva, no Norte de Minas Gerais. Com orientação técnica da Emater-MG, instituição vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), ele instalou na propriedade uma esterqueira, espécie de tanque para onde são destinadas as fezes e outros resíduos resultantes da lavagem da sala de ordenha. Esse material passa por um período de estabilização, de cerca de 90 dias. É quando os micro-organismos transformam o composto em um poderoso biofertilizante, que pode ser usado na adubação de pastagens e lavouras.
Além de evitar danos ambientais, e até multas, o agricultor familiar conseguiu aumentar a renda da família, pois passou a receber uma quantia extra de um grande laticínio da região, que tem um programa de estímulo à produção sustentável de leite. E ainda tem a economia, pois deixou de comprar fertilizantes químicos para as pastagens e o plantio de milho. O projeto foi um dos contemplados de 2020 no Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza, considerado um dos mais importantes da ecologia no Brasil.
“É uma satisfação da equipe da Emater-MG de Bocaiúva recebermos esse prêmio reconhecido pela sociedade”, comemorou Iran Ferreira Leite Junior, extensionista agropecuário da empresa no município.
De acordo com Junior, o biofertilizante obtido a partir dos dejetos da esterqueira pode ser usado em qualquer cultura. A única restrição é o uso nas hortaliças. O recomendado é que, após a aplicação, seja obedecida uma carência de cerca de 30 dias antes da colheita para evitar resíduos nos alimentos que vão para a casa dos consumidores.
O técnico da Emater de Minas lembra outro cuidado a ser observado pelos produtores. “A recomendação da aplicação dos biofertilizantes deve ser feita por um especialista, de acordo com a análise de solo. O cálculo é feito para uma aplicação anual, a partir das necessidades do solo. O uso do biofertilizante deve seguir as orientações do técnico para que não haja excesso de nutrientes em uma determinada área”.
Certificação
O projeto começou a partir da necessidade de Dilson Silva, proprietário da Fazenda São Pedro, de adequar sua propriedade, principalmente, na produção leiteira. Ele havia negociado os ajustes com o principal laticínio da região, para ser enquadrado em um programa de certificação denominado BPF (Boas Práticas na Fazenda) Nature. A certificação exige que o produtor cumpra alguns requisitos: destino adequado dos dejetos, bem-estar animal, não usar ocitocinas e outros hormônios nos animais, além de controle do uso da água.
Para cumprir as exigências, um dos pontos críticos era dar um destino adequado aos resíduos líquidos da sala de ordenha. Em visita à propriedade, a equipe local da Emater-MG em Bocaiúva constatou que toda a água usada na lavagem da sala de ordenha era descartada no quintal por um longo período, causando um impacto ambiental negativo e poluindo um córrego próximo.
A proposta de construção da esterqueira para receber os resíduos, e posterior utilização do material como fertilizante, foi feita pela engenheira ambiental Jane Terezinha Leal e pelo engenheiro agrônomo Márcio Stoduto de Mello, ambos do Departamento Técnico da Emater-MG, após consulta do extensionista Iran sobre o assunto. Além de resolver o problema ambiental, o produtor poderia reduzir seu custo de produção, com a troca da adubação nitrogenada pelo biofertilizante, na cultura de milho e na pastagem.
Unidade demonstrativa
A partir do sucesso da experiência, a propriedade de Dilson Geraldo passou a funcionar como uma unidade demonstrativa do uso da esterqueira para a produção de biofertilizante e já recebeu mais de 50 pessoas interessadas em adotar o sistema. A prefeitura municipal de Bocaiúva é uma das parceiras da Emater-MG na iniciativa, pois cedeu uma retroescavadeira para a obra de implantação da esterqueira. E o laticínio que compra o leite dos produtores da região adiantou os recursos necessários para a aquisição da geomembrana, um material usado no revestimento do tanque que recebe os dejetos bovinos.
O extensionista da Emater-MG ressalta que, mesmo com investimentos próprios, o projeto vale a pena. Iran Ferreira afirma que o pagamento extra de R$ 0,07 por litro de leite já representa, em um ano, cerca de R$ 8 mil a mais na renda do produtor. “E isso sem contar os ganhos ambientais e sociais de se ter uma propriedade ambientalmente equilibrada”, finaliza Junior.
Fonte: Sec. de Agricultura de MG