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Exclusivo: Nosso setor se mostrou mais preparado em relação ao resto do mundo, diz Santin

Na opinião do presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, os setores nacionais de avicultura e suinocultura se mostraram mais preparados em relação ao resto do mundo durante a pandemia, graças ao seu alto nível de organização, investimentos e empenho. Mesmo sob as mais fortes pressões, essas indústrias foram capazes de seguir produzindo e preservar a saúde dos colaboradores, colocando-se na vanguarda mundial, disse ele.

Em entrevista concedida com exclusividade à CarneTec neste início de ano, o dirigente aborda ainda as estratégias adotadas pelas empresas desses setores para superar o desafio que se tornou um ano com pandemia e aumento recorde dos custos de produção, as expectativas para 2021, o frango alçado ao posto de proteína animal mais consumida no mundo, o crescimento da carne suína no Brasil, entre outros assuntos.

Na presidência da ABPA desde agosto de 2020, Santin atuou anteriormente como vice-presidente da entidade na Divisão Avicultura desde 2008, trabalhando com os principais membros da indústria avícola brasileira em negociações governamentais, lançamento e monitoramento de novos mercados, planejamento tributário, promoção comercial e representações internacionais desta indústria. É também vice-presidente do Conselho Internacional de Avicultura (International Poultry Council – IPC), palestrante em eventos internacionais, entre outras atividades. Em sua carreira profissional, Santin já ocupou diversos cargos consultivos e trabalhou ainda como advogado e professor universitário.

CarneTec: Procurando ver a metade cheia do copo, o que houve de positivo para os setores de avicultura e suinocultura em 2020?

Ricardo Santin: Nada seguiu dentro do quadro previsto para 2020. A imprevisibilidade da pandemia modificou estratégias e investimentos em todo o mundo. E não foi diferente para os setores de avicultura e suinocultura do Brasil. Os efeitos da pandemia geraram imensos esforços setoriais, os quais se deram muito antes do início da crise de fato em nosso território. Durante este período, que ainda não tem prazo para acabar, nosso setor se mostrou mais preparado em relação ao resto do mundo.

Nosso nível de organização, investimentos e empenho nos colocou na vanguarda, um dos poucos que seguiram produzindo com a preservação da saúde dos colaboradores, mesmo sob as mais fortes pressões.

A experiência dessa década de um bem-sucedido trabalho que alcançamos, seja na tempestade ou na calmaria, juntamente com um time qualificado e harmônico, dá a confiança necessária para ampliarmos, ao longo de 2021, ainda mais nossos horizontes como produtores e exportadores de aves, ovos e suínos, do material genético à proteína.

Quais serão as sequelas econômicas da covid-19 para o mercado de carnes suína e de aves em 2021?

A covid-19 obviamente foi, e tem sido ainda, um desafio. Duas empresas, por exemplo, do setor informaram investimentos superiores a R$ 300 milhões para a proteção dos colaboradores e preservação do abastecimento.

A economia foi severamente impactada e houve perdas de postos de trabalho em diversos setores, com perdas também na renda média do trabalhador e em sua capacidade de compra.

Em nosso setor produtivo, porém, vimos um quadro mais positivo. Geramos empregos – cerca de 20 mil postos de trabalho apenas no segundo semestre – e renda, divisas e contribuímos para a diminuição dos impactos econômicos da pandemia no Brasil.

Neste contexto, foram determinantes as ações de governo para a manutenção da renda por meio de programas de auxílio à população mais afetada, assim como o apoio à manutenção das atividades essenciais, como a indústria de alimentos.

Como resultado do enfrentamento deste grave quadro de crise, avançamos no amadurecimento de estratégias ainda mais sólidas de garantia de qualidade e de abastecimento, de preservação da saúde dos trabalhadores e de fomento ao crescimento da produção de proteína animal no país.

Vimos também algumas migrações e substituições por conta de dificuldades financeiras que podem se tornar hábitos alimentares, consolidando mais ainda o consumo de proteínas como aves, suínos e ovos.

Fale um pouco mais sobre essas estratégias adotadas no ano passado; elas serão reforçadas em 2021?

Preservar a saúde dos trabalhadores e manter o fornecimento de alimentos sempre foram o foco das ações do setor produtivo. Deste modo, uma sequência de medidas foi empregada logo no início de 2020, antes mesmo do primeiro registro de covid-19 no Brasil e de se cogitar o isolamento social.

Naquele momento, quando o conhecimento mundial sobre o vírus ainda era uma incógnita, núcleos de inteligência técnica setorial se instalaram nas entidades para aplicações de soluções imediatas, como o afastamento de trabalhadores considerados grupo de risco.

Conforme mais informações sobre a doença eram obtidas, novas medidas foram inseridas. Foi o caso das barreiras físicas entre os trabalhadores na linha de produção para evitar contato. O distanciamento também foi implantado nos refeitórios das indústrias e no transporte dos colaboradores. Para isso, foram contratadas mais frotas de ônibus, além da implantação de controles na chegada de todos os trabalhadores, treinamentos e orientações, bem como vacinação contra gripes comuns.

Nas unidades produtoras, a higienização, que já era rigorosa e realizada várias vezes ao dia, foi intensificada. Álcool em gel para desinfecção das mãos foi disponibilizado por todas as áreas comuns. Medidas de busca ativa de possíveis casos positivos foram implantadas em todo o sistema produtivo. Casos suspeitos são impedidos, inclusive, de acessar o transporte, e todos os colaboradores próximos ao caso são afastados em quarentena e monitorados.

A proteção dos trabalhadores sempre foi um dos principais pontos de atenção no sistema produtivo. Com a pandemia, os cuidados foram redobrados. Além da uniformização especial para os frigoríficos, luvas, máscaras e faceshieldsforam adotadas.

Essas são algumas das estratégias contempladas nos protocolos setoriais que o setor desenvolveu, com a validação do Hospital Israelita Albert Einstein. São medidas ainda mais restritivas que as recomendadas pelos órgãos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), e que devem permanecer enquanto for necessário, neste momento em que buscamos a superação da pandemia.

Entre as empresas menores, não associadas à ABPA, o que o senhor tem escutado sobre as dificuldades e desafios delas por conta da pandemia?

O quadro e desafios enfrentados por pequenas e grandes empresas são equivalentes. Apenas se altera o número de colaboradores, mas as regras funcionam para todos em equivalência, sem diferenciação. Obviamente, os custos de produção são o grande desafio, mas a convicção, entre todos, pela proteção dos colaboradores e garantia de fornecimento de alimentos é a mesma.

Qual é a tendência para o comportamento dos custos de produção em 2021?

O aumento nos preços de milho e farelo de soja elevaram o custo de produção, em patamares históricos em 2020, em meio à maior crise global da história recente e seus custos adicionados para a proteção dos colaboradores. As altas superaram 100%, com impactos diretos nos preços finais ao consumidor. Nos momentos mais delicados para os custos produtivos no ano, houve relatos de descarte de aves menos produtivas.

Para reduzir o quadro especulativo, o setor buscou esclarecer as informações de abastecimento do setor produtivo e buscou medidas como a importação de insumos extra-Mercosul – viabilizada pelo Mapa – e a disponibilização de informação sobre exportações futuras de grãos do Brasil. Estamos negociando, também, a suspensão de outras tarifas que impactem as importações.

Não esperamos forte redução na pressão sobre os custos de produção em 2021, mas há expectativa de um quadro relativamente mais ameno, com menor especulação.

A carne de frango se consolidou nos últimos anos como a mais consumida pelos brasileiros. Quais são as perspectivas em nível mundial; a pandemia pode ampliar o consumo da carne de aves?

As expectativas são positivas para o mercado de carne de aves, incluindo o frango. De acordo com a FAO, o consumo mundial per capita do total de carne de aves é de 14,88 kg e há previsão de chegar a 15,10 kg até 2029. Já o consumo per capita mundial de carne suína está em 10,68 kg.

Além desses dados, a produção de frango aumentou durante a pandemia de covid-19 e deve continuar crescendo entre 2020 e 2030, e atualmente o frango já é a proteína animal mais consumida no mundo. O motivo está atrelado ao aumento da demanda asiática para cobrir a lacuna na oferta de carne suína causada pela Peste Suína Africana (PSA). Além disso, os consumidores se mostram cada vez mais conscientes e preocupados com seus hábitos alimentares, buscando na carne de frango benefícios para a saúde e sustentabilidade. Esse fato foi reforçado durante o período de lockdown causado pela pandemia de covid-19, quando os consumidores viram a carne de frango como uma proteína acessível e versátil para o preparo em suas casas.

O consumo de carne suína no Brasil pode aumentar nos próximos anos ganhando terreno da carne bovina?

Em 2020, o consumo per capita de carne suína atingiu 15,3 kg e as projeções indicam aumento de até 2% em 2021, chegando a 15,6 kg. Parte disso deverá vir da alta esperada nos preços da carne bovina, que está com a oferta restrita, com a alta das exportações. Adicionalmente ao quadro econômico-social, o setor produtivo vem realizando campanhas para incrementar ainda mais esse consumo [de carne suína], fato que tem ocorrido de forma gradativa ao longo dos anos.

Por Patrick Parmigiani

Fonte: CarneTec Brasil

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