Investimento e crescimento vertical podem ajudar setor a superar cem toneladas por hectare
As lavouras de cana-de-açúcar caminham para uma intensificação da produção vertical, em detrimento da horizontal. Colhe-se mais em menor área de cultivo.
No início dos anos 2000, período da febre da produção de etanol, os canaviais avançaram para áreas com terrenos pobres e clima menos favorável do que nas tradicionais lavouras do estado de São Paulo. A falta de variedades adaptadas a essas regiões resultou em uma queda de produtividade, fazendo, inclusive, com que alguns projetos fossem abandonados.
As pesquisas avançaram e a produtividade nessas novas fronteiras já atinge patamar semelhante ao de lavouras paulistas tradicionais. Noroeste de São Paulo e regiões de cerrado, que antes produziam 77 toneladas de cana por hectare, já somam 99.
A revolução vem pela transgenia, segundo o gerente de desenvolvimento de produtos do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Mauro Violante. O CTC, que iniciou o processo de lançamento de variedades transgênicas no mercado em 2013, colocará mais duas variedades à disposição dos produtores até o final do primeiro semestre de 2021.
São produtos que trazem um salto de produtividade e uma inovação. Eles não seriam possíveis pelas vias normais, principalmente com relação ao controle da broca. “É definitivamente uma mudança de cenário”, explica Violante.
Essas novas variedades já estão liberadas para cultivo, mas a empresa e a rede licenciada de multiplicadores preparam as mudas para serem levadas a campo. Entre os multiplicadores estão Basf e Syngenta.
Violante diz que o CTC tem um olhar para todas as regiões de cana do país e, por isso, em todas elas há multiplicador para dar capilaridade e logística ao produto.
O diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, diz que esse avanço de produtividade conseguido pelo CTC é importante para deixar a produção com custos menores e o país mais competitivo.
Investimento e crescimento vertical podem ajudar o setor a superar cem toneladas por hectare. Muitos ainda estão nas 70 toneladas ou até menos, diz o diretor da Unica.
Violante e Pádua destacam, no entanto, que não são apenas as novas variedades que vão dar fôlego ao setor, mas também a ação do produtor. O manuseio das lavouras é muito importante. Ele responde por até 60% da produtividade, segundo Violante.
Para o diretor da Unica, a falta de crédito, o endividamento e a necessidade de venda do produto em período menos remunerador são empecilhos para muitos produtores manterem um bom manejo da cultura.
Os investimentos em novas tecnologias no setor resultam em uma cana mais competitiva e com menor custo de produção, segundo Padua.
Além da busca por uma produtividade superior a cem toneladas por hectare, é importante também um aumento da longevidade da cana, elevando os cortes de cinco para oito anos, segundo ele.
A participação do CTC na área cultivada de cana no país é de 30%, enquanto no plantio está entre 35% e 40%. O país renova cerca de 15% das áreas dos canaviais por ano.
Violante diz que o CTC avalia todas as áreas de cana do país, inclusive a do Nordeste, onde a empresa mantém esforços de melhoramento genético convencional. A empresa já tem, porém, a variedade da cana mais plantada na região em fase de desregulamentação na CTNBio.
O Brasil tem uma área total de 10 milhões de hectares de cana-de-açúcar, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Destes, 8,4 milhões são área de colheita, com produtividade média de 76,3 toneladas por hectare.
Nesta safra, a produção de açúcar deverá atingir 41 milhões de toneladas, segundo estimativas de Padua.
O diretor da Unica diz que o aumento de produtividade da cana é importante também para a manutenção da concorrência desta lavoura com relação às outras, algumas vezes mais rentáveis.
Em 2000, o país tinha 4,9 milhões de hectares de cana plantados. Em 2018, eram 10 milhões. Neste mesmo período, a área de São Paulo subiu de 2,5 milhões para 5,6 milhões de hectares. A de Goiás aumentou de 139 mil para 948 mil, segundo dados da Unica.
Fonte: Mauro Zafalon