As elevadas exportações de milho e soja no Brasil e a consequente valorização do preço dos grãos impactarão diretamente o setor de produção de proteína animal (carnes e ovos) e causarão prejuízos à balança comercial brasileira. O alerta é do presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), José Antônio Ribas Jr. “O momento impõe desafios ao setor e cobra esforços para encontrar alternativas de mercado e evitar eventual crise”, disse ele em nota na quarta-feira (14).
A análise do dirigente leva em conta o aquecimento do mercado de grãos no país. Na exportação de soja, por exemplo, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e se tornou o principal exportador, além de maior produtor mundial. Neste ano, o país deve bater recorde e superar 80 milhões de toneladas, segundo estimativas do setor compiladas pela Acav. O mercado está tão aquecido que as safras brasileiras 2020/2021 e 2021/2022 já estão vendidas no mercado internacional. Da mesma forma, o milho, cujo país é o segundo maior exportador global, deve superar 30 milhões de toneladas no ano, segunda melhor marca do Brasil.
Se por um lado a valorização dos grãos e a maior fatia do mercado internacional beneficiam o agronegócio brasileiro, por outro, também impactam no aumento de custos de produção de proteína animal e, consequentemente, no preço dos alimentos cárneos. A saca de milho que custava R$ 35 no início do ano passou para R$ 60, e a tonelada do farelo de soja que estava por R$ 900 está custando R$ 2,3 mil. O impacto, segundo a Acav, é grande: o complexo grãos é um dos maiores custos na produção de aves e suínos, pois a alimentação dos planteis representa entre 60% e 70% do custo total. É essa conta que preocupa o setor. A prioridade ao mercado internacional, caso não planejada, pode causar desabastecimento no mercado interno e escassez de produtos, segundo Ribas Jr.
“O aumento de custo é real. O momento de crise que a pandemia trouxe também dificulta o repasse de custos nas vendas. Todos esses aspectos nos desafiam. Parte desses cenários é compensada com exportações, mas não podemos deixar de citar que a maior parte das aves e suínos produzidos é para abastecer o mercado interno. Teremos dias desafiadores pela frente, que demandarão esforços conjuntos para evitarmos os cenários mais críticos”, afirmou o dirigente da Acav ao citar ações importantes para reequilibrar a conta em relação à oferta e à demanda.
Entre elas, estão: a redução de taxas de importação, a participação do setor nos contratos futuros, ampliação de parceiras com países produtores, criação de políticas de abastecimento e armazenamento de cereais, reordenação dos tributos estaduais, investimento em logística que coloque o grão onde está o consumo – “nos últimos anos os investimentos logísticos apenas facilitaram a exportação” –, além do maior incentivo à produção.
“Há muitas frentes sendo debatidas e trabalhadas pelo setor. Lembrando que por se tratar de um setor relevante na geração de valor agregado ao país, gerando emprego e riquezas aos brasileiros, faz todo o sentido que sejam investidos esforços para evitarmos uma crise. Esperamos e trabalhamos para evitar este cenário. A elevação de custos pode trazer reduções de produção e, consequentemente, redução de postos de trabalho. Já assistimos a este filme e não queremos repetir a história”, disse Ribas Jr.
Impactos ao consumidor
As consequências do aumento dos custos de produção tendem a chegar até a mesa dos consumidores. Segundo o presidente da Acav, a alta nos preços dos alimentos apenas vai refletir o aumento do valor dos insumos e o maior consumo no país.
“O mercado se autorregula, cedo ou tarde tende ao equilíbrio. O setor não trabalha para onerar o consumidor, muito pelo contrário, grande parte dos investimentos em eficiência, produtividade e qualidade é desfrutada pelos consumidores. Ao longo da história, essas proteínas se tornaram acessíveis a grande parte das famílias como resultado do trabalho que o setor faz. Mas também é fato que nenhum sistema funciona gerando déficit. Em algum momento esse aumento de custos será sentido pelo consumidor. É inevitável.”
Apesar de o momento preocupar o setor, ao olhar para o futuro, Ribas Jr. mantém otimismo, respaldado pela relevância econômica do agronegócio no país. “Acredito que iremos superar, porque o setor é relevante para a economia do país. Gera riqueza, empregos e qualidade de vida para inúmeros municípios Brasil afora, o que torna o compromisso de cuidar bem do setor uma responsabilidade de todos.”
Fonte: CarneTec Brasil