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Bolsonaro vai questionar tradings e indústria sobre preços do óleo de soja

Ainda preocupado com a inflação, o presidente Jair Bolsonaro receberá amanhã no Palácio do Planalto executivos das maiores tradings multinacionais do país e de cooperativas processadoras de soja para questioná-los sobre o preço em patamar elevado do grão e de seus derivados como o óleo de soja, conforme uma fonte do governo.

O encontro foi articulado pela ministra Tereza Cristina, da Agricultura, que por sua vez também terá a missão de esclarecer para Bolsonaro os motivos que levaram à alta na cotação internacional da oleaginosa, como elevada demanda da China durante a pandemia, câmbio valorizado e reflexos na Bolsa de Chicago, onde são formados os preços da soja.

Entre os representantes da indústria da soja, porém, há quem tenha receio de que o presidente faça cobranças duras sobre o preço sobretudo do óleo de soja nas prateleiras dos supermercados, a exemplo do que tem feito com o arroz. De acordo com a última prévia da inflação disponível, o IPCA-15 de outubro, divulgado na semana passada, apenas o óleo de soja registrou alta de 22,34%, sendo o item que mais pesou no segmento alimentos para consumo no domicílio (no ano, de janeiro a setembro, os preços do produto já subiram 50% no IPCA mensal).

No último domingo, em passeio pela Feira Permanente do Cruzeiro, no Distrito Federal, quando questionado por um homem de que era preciso baixar o preço do alimento, Bolsonaro respondeu: “Quer que eu baixe na canetada? Você quer que eu tabele? Se você quer que eu tabele, eu tabelo, mas vai comprar lá na Venezuela”. No IPCA-15, o arroz teve alta de 18,48%. Diante da forte demanda dos consumidores no período da pandemia pelo cereal, no mês passado a Câmara de Comércio Exterior (Camex) zerou a tarifa de importação do arroz em casca até 31 de dezembro deste ano, na tentativa de baixar os preços do produto nas gôndolas.

Embora seja um produto com dinâmica de mercado bem diferente da do arroz, a soja também vem registrando fortes altas de preço e o governo também levou a zero a alíquota de importação incidente tanto sobre a oleaginosa quanto sobre o milho no último dia 19 de outubro. O pedido foi endossado pelo Ministério da Agricultura junto à Camex, a partir da pressão de criadores de aves e suínos que passaram a sofrer com altos custos dos grãos.

Passada essa reação do governo, na reunião de amanhã a cadeia industrial da soja argumentará com Bolsonaro que não tem poder de mexer com as variáveis de mercado que já levaram o grão a ter variação de mais de 50% no ano. Os executivos do setor também tentarão acalmar o Planalto com a mensagem de que a próxima safra de soja, que será colhida no início de 2021 na maioria dos maiores Estados produtores, se aproxima, o que naturalmente baixará os preços em alguma medida. E dirão ainda que no momento não há muito o que fazer. “Pelo jeito vamos ter preços altos por um tempo. Deve cair em relação ao atual, mas ainda altos”, admite uma fonte do governo a par do assunto.

Há duas semanas, na porta do Palácio do Alvorada o presidente Bolsonaro já havia indicado a apoiadores que em breve a ministra Tereza iria acertar um encontro com “os grandes produtores de soja”, porém o encontro de amanhã será apenas com representantes da indústria. “A gente não vai regular, a gente não vai interferir em nada, querer dar uma carteirada, exigir, tabelar, isso não existe, é livre mercado”, disse Bolsonaro na ocasião.

Mesmo assim, o tema da inflação ainda é pauta permanente dentro do governo. Bolsonaro já tratou dos temas com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Campos Neto. O Valor apurou que, nas últimas semanas, o próprio Campos Neto buscou alertar sobre o risco de pressão inflacionárias dos alimentos em conversas com ministros. O presidente do BC também já declarou publicamente preocupação com a questão fiscal do país e sobre os seus efeitos sobre a curva de juros na economia.

Por Cristiano Zaia

Fonte: Valor Econômico

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