Não há inseticida eficiente para combater cigarrinha e controle depende do trabalho de extensão rural, ameaçado com o risco de fechamento das Casas da Agricultura
Uma nova praga já provocou a quebra de 40% da safra de arroz na região do Vale do Paraíba, maior produtora do grão no Estado de São Paulo. A cigarrinha foi detectada em novembro do ano passado por agricultores e extensionistas da Casa da Agricultura, ligada a Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS – mais conhecida como CATI), da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA).
“A quebra de safra só não foi maior porque quando a praga chegou, apenas parte da produção ainda estava no campo. Mas ela destruiu tudo que encontrou pela frente”, afirma Antônio Marchiori, presidente da Associação Paulista de Extensão Rural (APAER).
Segundo a associação, ainda em novembro do ano passado, extensionistas enviaram um relatório para a SAA notificando sobre a nova praga, também detectada em Estados do Sul do Brasil. Como não há inseticida eficiente para combater a cigarrinha, a Apaer destaca que será preciso um trabalho de extensão rural para identificar a origem e implementar um controle biológico, com a utilização de fungo.
“O que está acontecendo ali, provavelmente, é resultado de um desequilíbrio provocado pelo manejo. Para saber a origem e melhorar o manejo, o extensionista tem que estar no campo”, destaca Marchiori.
A entidade afirma que o trabalho de extensão rural ajuda a garantir a segurança alimentar, com equilíbrio na produção e controle de pragas.
“Diante de um quadro grave como este no Vale do Paraíba, com riscos reais dessa praga se espalhar para todo país, os extensionistas estão com sérias dificuldades para exercer o papel no campo. Além de estarem sobrecarregados com novas demandas criadas pela SAA, que antes ficava a cargo da área ambiental do Estado, por causa da pandemia, o Estado limitou o trabalho de campo dos técnicos, que estão tendo que dar orientações a distância, um modelo que não funciona”, reclama Abelardo Gonçalves, vice-presidente da Apaer.
Coopavalpa
A região do Vale do Paraíba produziu no ano passado 125 sacas de arroz, de 50 quilos, por hectare, segundo a Casa da Agricultura. O total comercializado pelos agricultores chega a 750 mil sacas.
A Cooperativa dos Produtores de Arroz do Vale do Paraíba (Coopavalpa) responde por quase metade da produção nesta área do Estado, totalizando 360 mil sacas na safra de 2019. Fundada em 1985, com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, a Coopavalpa chegou a ter 80 produtores cooperados. Entre o fim da década de 1990 e início dos anos 2000, a cooperativa perdeu força, até ser retomada em 2010, tornando a região do Vale do Paraíba referência em produção de arroz.
“O sucesso da produção só acontece porque temos o apoio dos extensionistas da Casa da Agricultura”, afirma Rodolfo Kodel Neto, presidente da Coopavalpa.
Com a nova praga, alguns produtores cooperados perderam para a cigarrinha a maior parte da produção de 2020. Além dos prejuízos, agricultores estão preocupados também com a o fechamento de 574 Casas da Agricultura.
A SAA anunciou a intenção de fechar as unidades e transferir a maior parte das demandas para o atendimento online, mas a Apaer reforça que é preciso cautela para não deixar o agricultor familiar na mão. “Um estudo da própria Secretaria de Agricultura de Abastecimento mostra que apenas 12% dos agricultores do Estado usam internet e só 12% possuem computador. Como vai ser possível oferecer atendimento digital diante desse cenário?”, questiona Marchiori.
Fonte: Assessoria